Recuperação do emprego mostra economia voltando antes do esperado, diz IBGE
Nível de ocupação voltou a ficar acima de 50% no fim de 2020 e não em julho deste ano. E havia 2 milhões de trabalhadores com carteira a mais do que se pensava no 2º trimestre de 2021
Apesar de a pandemia ter afetado a dinâmica e a qualidade dos empregos gerados no país, o mercado de trabalho brasileiro começou a dar sinais de recuperação antes do estimado anteriormente. Essa é uma das conclusões evidenciadas pelos dados divulgados nesta terça-feira pelo IBGE, com base na nova série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
A pesquisa, que reúne indicadores do mercado de trabalho brasileiro desde 2012, foi reponderada pelo instituto e mostrou que o nível da ocupação voltou a ficar acima de 50% no quarto trimestre do ano passado, mais rápido do que se pensava.
Na série antiga, o IBGE calculou que o nível da ocupação só voltou a ficar acima de 50% no trimestre móvel encerrado em julho deste ano.
A nova série também mostrou que a recuperação do trabalho formal também foi mais veloz do que se pensava. O número de trabalhadores com carteira passou a ser 2 milhões maior ao fim do segundo trimestre deste ano que o apontado na série antiga.
A geração de vagas com carteira foi constante fator de divergências entre a Pnad e o Caged, do Ministério da Economia, ao longo de todo o ano passado.
Nível da ocupação, em %
Série antiga:
- 1º trimestre 2020: 53,5%
- 2º trimestre 2020: 47,9%
- 3º trimestre 2020: 47,1%
- 4º trimestre 2020: 48,9%
- 1º trimestre 2021: 48,4%
- 2º trimestre 2021: 49,6%
Série reponderada:
- 1º trimestre 2020: 55%
- 2º trimestre 2020: 49,5%
- 3º trimestre 2020: 49%
- 4º trimestre 2020: 51,1%
- 1º trimestre 2021: 50,9%
- 2º trimestre 2021: 52,1%
Fonte: IBGE
A mudança no nível de ocupação pode ser observada ao longo de toda série histórica, iniciada em 2012.
Segundo o IBGE, na nova série, o nível da ocupação passou a apresentar expansão devido à redução da população em idade de trabalhar.
No ano passado, essa parcela da população foi sobrerrepresentada, capturando principalmente aquele grupo que não trabalha e não tem o desejo de trabalhar. Isso gerou distorções com relação ao contingente populacional.
"O nível da ocupação foi de fato o que teve mais impacto. Passamos a ter o nível da ocupação maior do que o que vínhamos mostrando", avalia Adriana Beringuy, analista da Pnad Contínua, do IBGE.
Apesar da calibração da Pnad Contínua ter apontado mudanças no nível de ocupação e cobertura do emprego formal, os efeitos da pandemia sobre o mercado de trabalho permaneceram evidentes na pesquisa.
O contingente de trabalhadores por conta própria registrado no segundo trimestre deste ano permanece no maior nível da série histórica. A taxa de desemprego, reponderada, aponta que o indicador chegou a 14,2% no segundo trimestre do ano, ante estimativa de 14,1%.
A maior diferença ocorreu no terceiro trimestre de 2020. Na série antiga, a taxa de desemprego havia chegado a 14,6%. Com a reponderação, o indicador foi de 14,9% no período, maior taxa para essa base de comparação.
2 milhões de empregos com carteira a mais
A Pnad também apontou que o mercado de trabalho concentra uma maior cobertura do emprego com carteira assinada do que se imaginava.
Segundo Adriana Beringuy, essa constatação ocorreu a partir da calibração da pesquisa por sexo e idade. O estudo passou a capturar maior participação do grupo etário de 25 a 39 anos, que tem maior peso no mercado de trabalho e costuma ter mais pessoas atuando na formalidade:
"Pode ser que, com uma participação maior desse grupo etário, você traga um pouco mais de carteira assinada para o total da pesquisa. É um grupo que de modo geral já completou os estudos e que tende a ser mais ancorado, com vínculos mais estáveis de rendimento e instrução. Essa relação está baseada no histórico que a gente vê de resultados que viemos acompanhando ao longo da série histórica."
Com a nova série, o número de trabalhadores com carteira passou a ser 2 milhões maior ao fim do segundo trimestre deste ano que o apontado na série antiga.
Série antiga:
Pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência (Mil pessoas)
Empregado no setor privado, exclusive trabalhador doméstico - com carteira de trabalho assinada
- 1º trimestre 2019: 32.918
- 2º trimestre 2019: 33.213
- 3º trimestre 2019: 33.075
- 4º trimestre 2019: 33.668
- 1º trimestre 2020: 33.096
- 2º trimestre 2020: 30.154
- 3º trimestre 2020: 29.366
- 4º trimestre 2020: 29.885
- 1º trimestre 2021: 29.570
- 2º trimestre 2021: 30.189
Série reponderada:
- 1º trimestre 2019: 34.133
- 2º trimestre 2019: 34.430
- 3º trimestre 2019: 34.342
- 4º trimestre 2019: 34.953
- 1º trimestre 2020: 34.398
- 2º trimestre 2020: 31.484
- 3º trimestre 2020: 30.856
- 4º trimestre 2020: 31.592
- 1º trimestre 2021: 31.515
- 2º trimestre 2021: 32.098
Fonte: IBGE
Nova metodologia
O IBGE adotou novo método de ponderação para Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, revisando toda a série histórica, iniciada em 2012.
Agora os resultados Contínua incorporam nova metodologia, que ajusta os pesos das informações conforme idade e sexo dos informantes.
O objetivo da calibração é mitigar possíveis impactos de viés de cobertura, dado que a coleta de dados referente ao mercado de trabalho passou a ser feita por telefone no ano passado por conta da pandemia de Covid-19.
Luna Hidalgo, técnica do IBGE, explica que pesquisas realizadas mensalmente, como ocorre com a do mercado de trabalho, foram atingidas pela crise sanitária:
"Qualquer efeito social, pandêmico, atinge as pesquisas de maior frequência. A pandemia alterou a forma como acessamos os respondentes e começou a criar um perfil respondente diferente da massa da população [brasileira]", diz Hidalgo.
Adriana Beringuy, analista do IBGE, explica que durante a pandemia foi identificado um crescimento atípico da população em idade de trabalhar, sobretudo da parcela de pessoas fora da força de trabalho.
Isso porque a troca da coleta presencial pela coleta via telefone ampliou a incidência de resposta de grupos etários de maior idade, que inclui o grupo de 40 a 59 anos e o de 60 anos ou mais.
Além disso, a parcela de aproveitamento das entrevistas realizadas pela equipe de coleta caiu diante da dificuldade de obtenção dos telefones e das respostas dos entrevistados. A taxa de resposta, que ficava acima de 80%, chegou a ficar abaixo de 60%.
"Aquela aceleração que foi notada por nós e por outros estudiosos e pesquisadores estava chamando a atenção. (...) Eu estava tendo mais informação de pessoas mais velhas frente à população mais jovem. (...) Por fim se elegeu o método da calibração por sexo e idade, haja vista que isso estava acontecendo na pesquisa do Brasil, mas também foi algo enfrentado por outros institutos de estatística, e que recorreram também à calibração por sexo e idade, para tentar mitigar esse crescimento atípico", explica Beringuy.
A recalibração tem como base as projeções populacionais baseadas em dados do Censo de 2010 e será revisada novamente após os resultados do Censo Demográfico 2022.