EUA pressionam Opep e lideram ofensiva para reduzir preço do petróleo
Movimento é coordenado com grandes consumidores como China e Índia, que elevaram sua produção. Mas aumento da oferta fica abaixo do esperado, e comodity sobe
Os Estados Unidos vão liberar 50 milhões de barris de petróleo bruto de suas reservas estratégicas, parte de uma ação conjunta com China, Japão, Índia, Coreia do Sul e Reino Unido. O anúncio coordenado, e não muito frequente, é uma tentativa para diminuir os preços da commodity no mercado internacional.
No início do dia, até houve uma redução dos preços, mas o movimento durou pouco. O mercado não ficou impressionado com os detalhes do pacote, já que muito desse petróleo precisará ser devolvido ao estoque pelos refinadores que o compram, e as contribuições internacionais foram menores do que muitos esperavam.
Após uma queda inicial nos preços, o petróleo ganhou mais de US$ 1 o barril. Por volta de 13h, no horário de Brasília, o preço do contrato para janeiro do petróleo tipo Brent subia 2,45%, negociado a US$ 81,65, o barril.
Já o preço do contrato do tipo WTI para o mesmo mês avançava 1,89%, cotado a US$ 78,20, o barril.
Os preços do petróleo vinham caindo na semana desde que o governo do presidente Biden começou a discutir a liberação de petróleo da reserva.
A resposta da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP +) será a chave para o eventual sucesso ou fracasso do plano.
Membros do grupo liderado pela Arábia Saudita, que se reúne para definir políticas na próxima semana, alertaram que provavelmente irão responder cancelando planos para aumentar sua própria produção.
Alta do preço pressiona a inflação
Em jogo está o preço da commodity mais importante do mundo no momento. A alta do petróleo vem pressionando a inflação nos Estados Unidos, e o aumento dos preços atinge os índices de aprovação do presidente Joe Biden e corre o risco de prejudicar a recuperação econômica no pós-pandemia.
O governo disse, nesta terça-feira, que tinha outras ferramentas à disposição para reduzir os preços da energia, se necessário.
Dos 50 milhões de barris, 32 milhões serão emitidos da Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA como uma troca nos próximos meses, enquanto 18 milhões virão de uma liberação acelerada de vendas previamente autorizadas, disse a Casa Branca em um comunicado na terça-feira.
A retirada representa uma das maiores perdas já ocorridas na reserva, superando as intervenções dos EUA em meio aos distúrbios na Líbia em 2011 e a Operação Tempestade no Deserto em 1991.
Expectativa pela resposta da Opep+
A decisão de Biden de liberar coletivamente o petróleo estocado depois que os países da OPEP + rejeitaram os apelos para aumentar significativamente a produção marca uma vitória diplomática para os EUA e um desafio ao controle que a Arábia Saudita, a Rússia e outros produtores da OPEP + têm no mercado.
"O foco do mercado mudou do lançamento para como a OPEP + responderá ao que a Casa Branca está chamando de 'mensagem aos sauditas'. Se houver um teste de vontades e capacidades entre um punhado de detentores de reservas estratégicas de petróleo liderados pelos EUA e pela OPEP +, o mercado provavelmente apostará na prevalência desta última", disse Bob McNally, presidente do consultor Rapidan Energy Group
De acordo com o plano, os Estados Unidos conduzirão as trocas durante vários meses, com as companhias de petróleo tomando posse da commodity agora e devolvendo os suprimentos à reserva mais tarde, quando os preços baixarem.
Funcionários do governo americano disseram que o plano de liberação de petróleo em duas frentes, resultado de meses de discussão e diplomacia, é feito sob medida para as condições atuais do mercado.
Segundo eles, os preços do petróleo, que estão altos agora, devem cair nos próximos meses.
Busca de ação coordenada
O governo tem trabalhado para identificar as melhores ferramentas para enfrentar a dinâmica atual, disse uma das autoridades.
Até agora, ele rejeitou os apelos de membros do próprio partido de Biden para restringir as exportações de petróleo dos EUA, em meio a advertências que poderiam sair pela culatra, na verdade, desencorajando a produção doméstica.
Biden buscava essa ação coordenada há semanas, inclusive durante uma cúpula virtual com o presidente chinês Xi Jinping.
No final das contas, a China estava entre os países que concordaram com a mudança. Esforços globais anteriores para explorar os estoques - como a liberação de 60 milhões de barris em 2011 na esteira dos distúrbios e interrupções no fornecimento na Líbia - foram coordenados pela Agência Internacional de Energia.
Grupos empresariais e legisladores republicanos disseram se opor à medida. O vice-presidente sênior do Instituto de Energia Global da Câmara de Comércio, Christopher Guith, argumentou que a reserva deveria ser aproveitada apenas para interrupções de abastecimento reais e disse que o governo Biden deveria se concentrar em encorajar a produção doméstica da commodity.
A Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA, o maior estoque governamental do mundo, foi estabelecida após o embargo do petróleo árabe na década de 1970 e foi aproveitada em resposta à Operação Tempestade no Deserto em 1991, à destruição povocada pelo Furacão Katrina em 2005 e pelas interrupções no abastecimento da Líbia em 2011.
Também foi usado para reduzir os preços domésticos da gasolina, como o do presidente Bill Clinton semanas antes da eleição de 2000.
A reserva era de 606,1 milhões de barris em 12 de novembro, o suficiente para repor mais de meio ano das importações líquidas de petróleo dos EUA. O estoque atual está em torno de 85% de sua capacidade máxima de armazenamento autorizada, após as retiradas.
Veja a contribuição de cada país
- EUA: 50 milhões de barris.
- Índia: 5 milhões de barris
- Japão: Indicou que poderia liberar 5 milhões de barris
- China: Não divulgou a contribuição. Pelo menos 7,33 milhões de barris, de acordo com um consultor do setor.
- Coreia do Sul: Disse que lançaria um volume não especificado, mas indicou que pode ser na casa de 3,5 bilhões de barris.
- Reino Unido: 1,5 milhão de barris