Campos Neto pede "esforço fiscal e corte de gastos" ao governo
Campos Neto disse que, em parte, há uma dúvida sobre a capacidade de crescimento no país que impacta o aumento do prêmio de risco
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira que para diminuir a percepção de risco no Brasil, o que auxiliaria em manter os juros mais baixos, seria “importante” que o governo desse um sinal de esforço fiscal e de “algum corte de gastos”.
"Tem uma parte que nós precisamos fazer um esforço fiscal e eu acho que ter algum nível de equilíbrio nos gastos seria muito importante, acenar com algum corte de gastos, alguma coisa nesse sentido. Eu entendo a dificuldade e entendo que o mundo político gera sua limitações nesse sentido", disse no 9º Fórum Jurídico de Lisboa.
A percepção fiscal do mercado vem se deteriorando nas últimas semanas após a decisão do governo de pagar parte do Auxílio Brasil fora da regra do teto de gastos. Essa mudança recentemente obrigou o próprio Banco Central a elevar os juros acima do que havia sinalizado anteriormente, para 7,75% ao ano.
O presidente do BC ressalta que os números fiscais estão melhores do que anteriormente esperado, com a dívida pública em 83% do PIB, mas a percepção para o futuro pesa. Campos Neto destaca os “questionamentos” ao arcabouço fiscal do país.
"Esse questionamento veio primeiro por uma demora na solução da equação fiscal, uma percepção de interligação entre a reforma tributária, o tema de precatórios e como equacionar a continuação dos programas de auxílio e amparo às consequências da pandemia", disse.
Campos Neto também afirmou que há um fator que é a dúvida sobre a capacidade do país crescer e por isso também o esforço fiscal seria importante.
"Se eu tenho o mesmo modelo de equilíbrio fiscal com crescimento de 2,5%, 3%, com taxa de juros de 7% e eu mudo o crescimento para 1% e passo a uma taxa de juros de 8%, eu deixo de ter uma coisa insustentável para uma coisa explosiva", destacou.
Segundo Campos Neto, a inflação deste ano foi alimentada pela desvalorização cambial e as altas na energia elétrica e nos combustíveis, além do cenário de deterioração fiscal.
"O número de inflação acelerou e teve uma piora tanto quantitativa quanto qualitativa em todos os aspectos. É muito importante ser realista e entender o quão disseminada está a inflação e quão difícil será o trabalho do BC neste ponto", afirmou.
O relatório Focus , que reúne as expectativas do mercado, vê a inflação em 9,77% este ano, enquanto o teto da meta é de 5,25%. Para 2022, a expectativa subiu pela 17ª semana seguida e chegou a 4,79%, próximo ao teto da meta de 5%.