Bolsonaro cria 'cenário Macri' ao furar teto de gastos; entenda
Economistas afirmam que medida populista do presidente pode ser a sua ruína política, assim como ocorreu na Argentina
Ao decidir furar o teto de gastos para criar o Auxílio Brasil, o presidente Jair Bolsonaro deu início a uma mudança de rumo populista com fins eleitorais, similar à estratégia do ex-presidente da Argentina Mauricio Macri. Economistas-chefe de bancos e gestoras de recursos ouvidos pela coluna de Malu Gaspar no jornal O Globo comparam os dois políticos.
Em 2019, nos meses que antecederam as eleições na Argentina, o cenário era de juro alto, inflação persistente, pobreza, desemprego e incerteza a respeito da capacidade do governo de solucionar problemas. O cenário econômico, que acabou culminando na derrota do liberal Macri, passou a fazer parte das projeções para o Brasil de 2022.
De acordo com os economistas, a decisão de Bolsonaro de furar o teto de gastos gera uma tendência de deterioração fiscal que pode resultar em um descontrole, assim como ocorreu na Argentina. Essa poderia ser, inclusive, a ruína política de Bolsonaro.
O fato de Paulo Guedes ter confirmado o estouro do teto e o minimizado é visto por economistas como o início de uma trajetória de descontrole da dívida pública.
"A resposta de Guedes aponta na direção de um risco de perda de controle. A negação do problema da dinâmica da dívida, como o Macri negou durante muito tempo, leva ao risco de colapso", disse à coluna Carlos Woelz, sócio-fundador da Kapitalo. "Não acho que a piora atual seja o golpe de misericórdia, ainda temos muitas chances. Mas o Macri também teve muitas chances e o que o levou para o buraco foi desperdiçar todas elas".
Outro ponto que preocupa os especialistas ouvidos pela coluna é o fato de a ala política do governo estar ditando as prioridades econômicas. É consenso entre as fontes consultadas pela coluna que os juros vão subir muito mais em 2022, podendo chegar ao dobro do patamar atual.
"O que Bolsonaro está fazendo é contrair rapidamente as projeções de crescimento da economia para o ano que vem, reduzindo a probabilidade de se reeleger, ou melhor, garantindo a sua derrota", disse à coluna o economista-chefe de um dos maiores fundos de investimento do país.
Diante do cenário atual, os economistas não acreditam em uma recuperação da popularidade de Bolsonaro. Eles avaliam que, para tentar ganhar o apoio do Nordeste, o presidente arrisca perder o que ainda tem de apoiadores no Sul e Sudeste.