Com gasolina cara, brasileiros usam gás de cozinha clandestinamente em carros
Além de ser crime, prática traz riscos de explosões em veículos
Com a alta no preço da gasolina,
brasileiros têm se arriscado e usado gás liquefeito de petróleo (GLP), o famoso gás de cozinha, para abastecer carros.
No Mercado Livre, o kit para a conversão clandestina de veículos para GLP é vendido entre R$ 500 e R$ 1 mil, de acordo com a BBC. Os vendedores prometem economia de "30% na cidade e 50% da estrada".
Segundo um cálculo pelo professor de finanças da FGV e da PUC-SP Fabio Gallo Garcia a pedido da BBC, a economia prometida não é verdadeira - na verdade, ela gira em torno de 4,4% em comparação com a gasolina. Além disso, carros convertidos ilegalmente para GLP representam risco elevado de explosão.
Projeto de lei
Circula na Câmara dos Deputados um projeto de lei (PL) que autoriza o uso do gás de cozinha em veículos, o que hoje é ilegal. O PL foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça em agosto, e deve ir à votação em Plenário.
De um lado, representantes do segmento de gás natural veicular (GNV, permitido em automóveis) são contrários à aprovação, alegando que isso pode encarecer o gás de cozinha para as famílias. Do outro lado, distribuidores de GLP acusam o mercado de GNV de impedir que os consumidores tenham escolha. Eles também apontam que o GLP é usado em automóveis na Europa.
Procurado pela BBC, o Mercado Livre disse que a venda de kits de conversão clandestina de GLP é ilegal, e que os anúncios seriam derrubados.
Conversão proibida
Atualmente, converter veículos para GLP é ilegal, embora a prática ocorra no Brasil desde a década de 1980. Além de ser crime contra a ordem econômica, de acordo com a Lei 8.176 de 1991, o motorista ainda pode perder cinco pontos na carteira de habilitação, ser multado em R$ 195,23 e ter o veículo apreendido, segundo resolução 673 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
Além de proibida, a prática pode trazer riscos aos passageiros. À BBC, o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), Sergio Bandeira de Mello, disse que a conversão clandestina é perigosa, mas afirmou que o uso legalizado e com certificações é seguro.
"O maior desenvolvimento de utilização de GLP no mundo é o que se chama de Autogas, que é o GLP automotivo. Tecnicamente, em termos de segurança, o GLP é um combustível espetacular para motores", afirma.