O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) questiona na Justiça denúncias de coação feitas por médicos e a falta de medidas da Prevent Senior para informar os usuários sobre os riscos do uso do chamado kit covid, que associa medicações como hidroxicloroquina, azitromicina e a ivermectina.
Desde o começo da pandemia, a ONG de Defesa do Consumidor fez uma série de notificações extrajudiciais enviadas à operadora. Os documentos, que são sigilosos,estão em posse da CPI da Covid-19 no Senado. O material ajudou a instruir um inquérito do Ministério Público de São Paulo sobre a prescrição de tratamento precoce até para pacientes sem teste positivo para a doença.
De acordo com levantamento feito pelo Idec junto à Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), que registra pedidos de testes clínicos submetidos, a Prevent Senior propôs 23 estudos sobre Covid-19 desde o início da pandemia. Algumas destas pesquisas, segundo os documentos, analisaram o desempenho de células-tronco, extrato de palmeira de açaí e até suplementos alimentares para ganho de massa muscular (“Whey Protein”). Pelo menos três se propunham a testar a eficácia de medicamentos usados no chamado “tratamento precoce” da Covid.
Uma das pesquisas, que acabou interrompida, chegou a ser divulgada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, como exemplo de sucesso do uso da hidroxicloroquina.
Depois disso, segundo o Idec, a empresa omitiu a seus usuários a suspensão do estudo clínico, o que violaria o Código de Defesa do Consumidor e o direito à informação.
"A empresa realizou a divulgação de resultados de estudos não concluídos e suspensos, realizando comunicação sem respaldo científico, em desacordo com as normas e princípios para esse tipo de procedimento", diz o Idec.
Em outra frente, o Idec pediu, na última sexta-feira à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a intervenção na rede Prevent para que os problemas sejam sanados.
A Prevent Senior se tornou alvo de uma série de acusações desde o início da pandemia em março do ano passado, quando o plano de saúde registrou a primeira morte pela covid-19 no país. Na ocasião, o o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que os primeiros números de mortes no hospital indicavam um "ambiente de transmissão elevada".
Para ele, o plano "provavelmente não tomou as barreiras que precisaria ter tomado antes da entrada do vírus". Na ocasião, o MP de SP chegou a apurar casos de pessoas que vieram a óbito após se contaminarem nas próprias unidades da Prevent, mas o caso acabou arquivado. No entanto, o presidente da empresa, Fernando Parrillo, reagiu, dizendo que o ministro estava mal informado e que seguia todos os protocolos.