Os ataques do presidente Jair Bolsonaro a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o questionamento sobre as eleições feitos neste feriado de 7 de setembro afastam o capital internacional, disse em entrevista ao GLOBO Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs.
"Sem fazer juízo valor sobre as manifestações em si, essa fricção do Executivo com diferentes instituições gera ruídos que tornam mais difíceis as decisões de investimento e de gasto. É difícil conviver com essa tensão permanente do governo com todos os outros poderes. Quem investe fica mais apreensivo. Esse é o canal de contágio macroeconômico desses ruídos", disse.
Segundo ele, embora o mercado esteja preocupado com lucros, a "fricção" entre Executivo e Judiciário muda o foco das reformas necessárias.
"O investidor espera muito pouco. E a verdade é que, se é para passar as reformas que estão aí, talvez seja melhor realmente nem passar… O que passa é tão desfigurado que não se pode nem chamar de reforma. Agora, o problema é que toda essa incerteza e polarização não vão se resolver no curto prazo e não há qualquer garantia de que o governo que vem será reformista. Não se vê muita luz no fim do túnel. Fica difícil investir no Brasil, a Bolsa já está até um pouquinho cara…", avaliou.
Ainda assi, o economista fez questão de ressaltar que a posição do presidente nos atos de ontem não mudou a cabeça do mercado. Para ele, Bolsonaro foi mais do mesmo".
"Acho que o Bolsonaro nem avançou, nem recuou. Minha avaliação é que a visão que ele expôs é conhecida. Ninguém ficou de queixo caído com o que foi dito."