Brasil tem casos de vaca louca: você deve se preocupar ao comer carne?
Ministério da Agricultura confirmou contaminação em Minas Gerais e Mato Grosso e suspendeu exportação de carne bovina para a China
A doença da vaca louca ficou mundialmente conhecida a partir da década de 1980, após um surto no Reino Unido. A enfermidade torna os animais perigosos, daí seu nome. O assunto voltou ao noticiário neste sábado (4), após o Ministério da Agricultura confirmar dois casos em frigoríficos no país, em Minas Gerais e Mato Grosso.
Nos dois casos, trata-se da "origem atípica" doença, ou seja, não ocorreu por causa de contaminação, que poderia afetar mais de um bovino por vez, mas por causa de uma mutação em um único animal.
Os países importadores e a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) já foram notificados. Em 20 anos de monitoramento da doença no Brasil, nunca foi identificado a forma mais tradicional, que é quando o animal é contaminado por causa de sua alimentação. Entenda a seguir os principais pontos da doença.
Humanos podem ser contaminados?
Assim como nos animais, os humanos podem desenvolver o príon infeccioso naturalmente ou adquirir no consumo de carne infectada. Os casos em humanos têm como sintomas a perda de memória, perda de visão, depressão e insônia. Aproximadamente 90% dos indivíduos acometidos evoluem para óbito em um ano, de acordo com o governo federal. Não há indícios da transmissão entre humanos, segundo o Ministério da Saúde, exceto em caso de contato com o sangue do paciente.
Posso continuar comprando carne?
Sim. Segundo o Ministério da Agricultura, os casos registrados são atípicos e, portanto, não há uma contaminação geral e nem uma epidemia da doença.
O que é a doença da vaca louca?
A doença é fatal e acomete bovinos adultos de idade mais avançada, provocando a degeneração do sistema nervoso. Como consequência, uma vaca que, a princípio, era calma e de fácil manejo, por exemplo, se torna agressiva. Daí vem o nome da doença.
Chamada cientificamente de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), a doença é gerada por uma proteína infecciosa chamada príon. O príon já é presente no cérebro de vários mamíferos naturalmente, inclusive no ser humano. Essa proteína, porém, pode causar a doença ao multiplicar intensamente.
Quando isso acontece, o príon mata os neurônios e no lugar ficam buracos brancos no cérebro, por isso o nome da doença de “espongiforme”, já que os buracos têm a forma semelhante a de uma esponja.
Como a vaca é contaminada?
Existem duas formas principais para o animal adquirir a doença. O primeiro caso é de forma atípica, quando a proteína príon sofre uma mutação, se tornando infeccioso. Quanto mais velho o animal, maior a probabilidade disto acontecer. Foi dessa forma que ocorreram os dos casos registrados no Brasil nesta semana. A segunda forma de o animal ficar doente é por contaminação.
Isso ocorre quando consome rações feitas com proteína animal contaminada, como por exemplo, farinha de carne e ossos de outras espécies. No Brasil, é proibido o uso deste tipo de ingrediente na fabricação de ração para bovinos. Não há indícios de que uma vaca transmita a doença para a outra diretamente.
Quais os principais sintomas no animal?
A doença da vaca louca tem uma evolução longa, na qual o animal apresenta sintomas neurológicos, como nervosismo, apreensão, medo, ranger dos dentes, hipersensibilidade ao som, toque e luz, e dificuldade para andar.
Há tratamento?
Não existe um tratamento ou vacina para a vaca louca, por isso, a melhor saída é prevenir que o animal desenvolva a proteína infecciosa, usando apenas as rações autorizadas. Quando acometido pela doença, o gado pode morrer entre duas semanas e seis meses após o início dos sintomas.Quando um animal é diagnosticado com o mal, o produtor deve colocá-la para o abate e incinerar o corpo, a fim de evitar que se torne alimento para alguma espécie e espalhar a doença. O produtor também precisa avisar à vigilância sanitária.
Surtos no mundo
A crise começou no Reino Unido — ao menos 53 pessoas morreram entre 1992 e o ano 2000, época em que a moléstia começou a surgir em outros países da região, levando pânico aos europeus e receios de uma epidemia global. Centenas de animais foram sacrificados, e os exportadores de frango do Brasil foram beneficiados pela situação.
Em 2001, o Canadá registrou casos e, em 2003, foi a vez dos Estados Unidos de ter um surto e sacrificar rebanhos. No Brasil, o Paraná registrou um caso em 2010 e, por isso, uma série de países — incluindo Rússia, Japão, China e África do Sul — suspendeu a compra de carne brasileira.