Analistas reduzem projeções do PIB deste ano e 2022 após queda no 2º trimestre
Goldman Sachs reduz de 5,4% para 4,9% estimativa para 2021. Tendências revisa para 1,8% previsão do ano que vem
O quadro de estagnação do PIB observado nos dados do segundo trimestre deste ano divulgados pelo IBGE nesta segunda-feira tem levado alguns bancos e analistas a revisarem para baixo suas projeções para a economia brasileira para 2021 e 2022.
O banco Goldman Sachs cortou sua projeção de crescimento do Brasil para este ano, de 5,4% para 4,9%. A instituição financeira afirmou em relatório que o resultado do segundo trimestre “desapontou e veio mais fraco e baixo do que o esperado”.
Segundo o documento, a revisão se deu “após levar em conta o resultado do trimestre, as revisões dos trimestres anteriores e o sinal de indicadores de atividade, inclusive indicadores de confiança”.
“Reduzimos nossa previsão de crescimento do PIB de 2021 de 5,4% para 4,9%; presumindo que não haja grandes limitações no fornecimento de energia, uma redução gradual dos gargalos na cadeia de suprimentos, a gradual reconstrução gradual dos estoques e um controle amplo do quadro de coronavírus no segundo semestre”, diz o relatório do banco.
Carregamento estatístico
A nova projeção de crescimento do Goldman Sachs é praticamente o carregamento estatístico do crescimento do país, hoje em 4,87%. Isso significa que, se os próximos dois trimestres mantiverem o mesmo nível de atividade econômica registrado entre abril e julho, o país vai crescer 4,87% em 2021.
O banco prevê ainda que a recuperação econômica nos próximos trimestres deve avançar em compasso com o avanço da vacinação, a renovação dos estímulos fiscais e termos de comércio favoráveis no cenário externo em geral.
“Isso deve, no entanto, ser mitigado pelo aumento das taxas de juros, a inflação em alta, os altos níveis de endividamento das famílias, problemas persistentes da cadeia de abastecimento que assolam indústrias manufatureiras e o aumento do ruído e da incerteza no campo político”, diz o relatório.
Para Alessandra Ribeiro, sócia e diretora de macroeconomia da Tendências, o resultado do segundo trimestre veio em linha com o esperado pela consultoria, mas houve surpresa no consumo das famílias estável.
"Vemos uma perda de dinamismo, ainda que existam estímulos monetários e fiscais na economia. O consumo das famílias estável nos surpreendeu negativamente, esperávamos um crescimento de 0,5%, mas houve alguns limitadores desse indicador, como a inflação mais alta, que corrói poder de compra, e a recuperação ainda gradual no mercado de trabalho", afirma ela.
Expectativa de alta no consumo
Para os próximos trimestres, no entanto, a expectativa é de aumento do consumo das famílias.- A gente espera uma reação mais forte do mercado de trabalho com o avanço da vacinação, o que deve ficar mais evidente no terceiro e no quarto trimestres deste ano, embora nada exuberante.
Há ainda preocupação em relação à continuidade de problemas na cadeia de suprimentos, especialmente para a indústria automobilística, segundo ela.
O avanço da variante Delta do coronavírus na Ásia e a eventuais lockdowns em países importantes na cadeia global de suprimentos podem afetar ainda mais a situação de escassez de insumos no Brasil, diz a analista.Apesar disso, a Tendências deve manter sua previsão de crescimento para este ano em 5%. Vai revisar a de 2022 para baixo, contudo: de 2,2% para 1,8%.
"A inflação mais alta trouxe uma necessidade de política monetária mais apertada e o Banco Central deve ser ainda mais agressivo com os juros, o que tem impactos na atividade econômica. Além disso, temos um grau de incerteza em relação à política econômica no âmbito do ambiente eleitoral, que deve ser polarizado, com nervosismo e volatilidade", diz ela.
Inflação, juros e crise hídrica
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, afirma que a dissonância entre as expectativas do mercado para o PIB do segundo trimestre e o dado divulgado pelo IBGE é explicada em parte pela dessazonalização feita pelo instituto.
"Quando você tem quebras de tendência como foi a pandemia, a dessazonalização do IBGE muda, é normal, mas a gente só sabe que o instituto fez a modificação na hora da divulgação. De modo geral, o quadro econômico é de estagnação, que nos acompanha desde o início do segundo trimestre e deve continuar no segundo semestre", afirma.
Para o economista, o quadro de inflação e juros em alta, por um lado, e a crise hídrica e energética, por outro, devem limitar o crescimento do Brasil neste ano.
"A aceleração forte da inflação corrói o poder de compra da população. Há uma reação na alta de juros (por parte do BC). No começo do ano, a Selic estava baixa e caminha agora para ficar acima de 8%. Esse impacto aparece já no fim deste ano, mas terá mais intensidade no ano que vem", diz ele.
Cenário político adverso
A crise hídrica, na avaliação de Vale, deve ter impactos para além dos problemas no setor elétrico.
"No setor energético, a gente sabia que a dificuldade era crescente por causa da crise hídrica e que uma hora iria aparecer, e esse momento chegou. O governo não reagiu como deveria, colocou um risco de se ter uma situação mais grave no quarto trimestre. Por isso, colocamos um grau elevado de preocupação com o resultado do PIB no final do ano", diz.
A consultoria vai manter suas estimativas para o PIB, de alta de 4,7% para 2021 e 1,4% para 2022, mas afirma haver riscos que podem mudar o cenário para o próximo ano.
"O cenário político é muito adverso, de um presidente que não quer jogar pela conciliação, isso se traduz em mais risco no futuro e aumenta a preocupação e a incerteza sobre o crescimento do ano que vem", ressalta o economista.