O crescimento do lucro do Banco do Brasil (BB), que chegou a R$ 5 bilhões no segundo trimestre, alta de 52,2% sobre igual período de 2020, levou o presidente da instituição, Fausto Ribeiro, a anunciar a antecipação do pagamento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) para os trabalhadores. Porém não há decisão sobre mudar o pagamento de dividendos, o que poderia ajudar o caixa do governo. A instituição afirma que isso depende de definições da reforma tributária.
Sem dar detalhes de valores ou condições, ele afirmou que o pagamento aos funcionários ocorrerá antes do que sempre ocorria normalmente. Geralmente o pagamento da PLR, que é negociada com o sindicato da categoria, é feito 10 dias após a distribuição aos acionistas.
"Qualquer trabalho duro merece uma recompensa digna, o conselho diretor e conselho administrativo firmam o compromisso para que o pagamento da PLR possa ocorrer o mais rápido possível, antes do prazo máximo previsto no regulamento", disse Ribeiro em vídeo direcionado aos funcionários.
Esse posicionamento difere do adotado por outras estatais, que estão aproveitando a boa fase de resultados financeiros para pagar dividendos ao governo e turbinar as contas públicas. Essa foi a decisão, por exemplo, da Petrobras, que ontem relatou lucro recorde para o segundo trimestre, de R$ 42,8 bilhões. O Banco do Brasil não considerou essa opção até o momento, e afirma que a falta de definição se deve ao debate sobre mudanças no Imposto de Renda das empresas, que o governo enviou ao Congresso.
De acordo com o vice-presidente José Ricardo Forni, as decisões de capital da instituição, como a antecipação no pagamento de dividendos, vão depender da reforma tributária que for aprovada.
Ainda em discussão no Congresso, o texto da reforma passou por muitas mudanças desde que foi enviado pelo governo. Dois dos pontos de discussão que afetam diretamente os bancos são a tributação de dividendos e a extinção do Juros sobre Capital Próprio (JCP), outro instrumento de distribuição de recursos aos acionistas que ocorria sem a incidência de impostos.
"Nós pagamos o JCP no limite do que podemos ter de benefício e estamos aguardando. A questão de antecipação de dividendos não foi uma opção até o momento. Finalizada a reforma tributária, vamos analisar nesse contexto e avaliar o cenário", disse Forni.
O presidente Fausto Ribeiro disse que considera uma reforma necessária para o país, mas destacou que alguns pontos ainda precisam de mais atenção, evitando criticar diretamente a proposta do governo, umas da prioridades econömicas da gestão Bolsonaro.
"Algumas coisas precisam ter um pouco mais de aprofundamento para que a gente tenha um impacto mais tranquilo em relação ao balanço dos bancos", afirmou Ribeiro.
Ribeiro assumiu o comando do BB em abril, após desentendimentos entre o antecessor, André Brandão, e o presidente Jair Bolsonaro. No primeiro resultado referente ao período de Ribeiro à frente do banco, o lucro da instituição subiu 2,6% na comparação com os primeiros três meses do ano.
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Com o resultado do primeiro semestre chegando a lucro de R$ 10 bilhões, a instituição aumentou suas projeções para o ano. Anteriormente, o banco esperava um lucro em 2021 entre R$ 16 bilhões e R$ 19 bilhões e agora projeta um valor de R$ 17 bilhões a R$ 20 bilhões.
Segundo o BB, o resultado do balanço semestral foi influenciado pela redução na provisão de calotes, tarifas de prestação de serviços e redução de despesas administrativas. André Brandão anunciou em janeiro um plano de restruturação, com o fechamento de 361 agências de desligamento voluntário de funcionários – o que teria desagradado Bolsonaro. Essas agências foram desativadas ao longo do primeiro semestre.
Ao comentar o resultado do balanço semestral, na gravação aos funcionários, Ribeiro reafirmou que o BB é o “banco de mercado e do Brasil”. Ele citou o apoio ao setor produtivo e atuação do banco no agronegócio — nicho que tem despertado o interesse da concorrência. Destacou ainda a entrada mais forte na nova versão do programa de crédito a micro e pequenas empresas (Pronampe), além do crescimento da carteira de crédito e controle da inadimplência.
Carteira de Crédito
A carteira de crédito do BB atingiu R$ 766,5 bilhões em junho – alta de 6,1% em comparação ao mesmo período do ano passado, com destaque para as operações de varejo e agronegócios. O índice de inadimplência para atrasos acima de 90 dias alcançou 1,86%.
As receitas de prestação de serviços somaram R$ 14,1 bilhões no primeiro semestre - aumento de 0,4% em relação ao mesmo período do ano passado. No segundo trimestre, os ganhos atingiram R$ 7,2 bilhões, aumento de 4,8% na comparação com os três primeiros meses do ano, puxadas principalmente pela expansão do crédito, por operações no mercado de capitais e desempenho de algumas modalidades, como consórcio. Esses resultados compensaram a queda nas receitas com conta corrente, segundo a instituição.
Com esses números, o BB retomou ao patamar antes da pandemia do novo coronavírus.
Sobre as taxas de juros praticadas pela instituição, o vice-presidente Forni citou a trajetória de alta na Selic, que na quarta-feira chegou a 5,25% e disse que o mercado deve se ajustar com esse elevação da taxa, mas continuar atento à competitividade.
"É lógico que em muitos segmentos de alta competitividade acabamos na verdade fazendo o possível dentro do que o mercado permitir que a gente mantenha a competitividade de taxa", apontou