O crescimento do comércio eletrônico , impulsionado pela pandemia de Covid-19 , trouxe também novos desafios para o setor, com o aumento de crimes envolvendo o uso indevido de dados dos consumidores . No primeiro semestre deste ano, foi registrado um crescimento de 32,7% nas tentativas de golpes em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são do Mapa das Fraudes, divulgado nesta quarta-feira pela ClearSale.
De janeiro a junho deste ano, foram identificadas 2,6 milhões de tentativas de fraudes em meio a um universo de 152 milhões de pedidos, o que representa um índice de 2%. No mesmo período de 2020, esse percentual era de 1,5%.
Para Omar Jarouche, diretor de Marketing e Soluções da ClearSale, o motivo do aumento é percebido pelo mercado como uma consequência natural do crescimento do comércio on-line.
"Existe um aumento forte da digitalização, com novas pessoas entrando nesse universo on-line, e que precisam ser educadas nesse tema", avalia.
Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) , em 2020 as lojas on-line ganharam mais de 20 milhões de novos consumidores no Brasil. Depois de encerrar o ano de 2020 com um crescimento de 68%, o e-commerce registrou ainda um aumento de mais de 57% no volume de compras no primeiro trimestre deste ano, em relação aos três primeiros meses de 2021.
O porta-voz da ClearSale acredita que os megavazamentos de dados ocorridos no ano passado também tenham influenciado no aumento das fraudes. No entanto, para ele, esse não foi o principal fator:
"Esses megavazamentos não interferem diretamente na curva e na expectativa de fraude futura. Isso a gente viu em muitos momentos da história. Quando a gente olha os tipos de fraudes, são criminosos profissionais, não são amadores. São pessoas que vivem disso, entendem os mecanismos. Eles não esperam os grandes vazamentos. Eles usam phishing e engenharia social para conseguir dados até mais atualizados do que os vazamentos".
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Celulares são os itens mais fraudados
De acordo com a ClearSale, celulares são os itens mais visados pelos criminosos na hora de usar os dados das vítimas para realizar compras, respondendo por 5,1% das tentativas de fraude, seguidos por produtos eletrônicos (4,9%) e games (4,2%).
São produtos que podem ser vendidos com mais facilidade e por um valor alto, tornando o golpe mais vantajoso para o criminoso.
A região Norte, assim como em todo ano passado, segue com o maior índice de tentativas de fraude sobre a quantidade total de transações: no primeiro semestre, 4,3% dos pedidos na região foram alvo de ataques. Na sequência, aparecem Centro-Oeste com 2,4% e Nordeste com 2,3% e, por fim, Sudeste e Sul completam com 1,9% e 0,9%, respectivamente.
Cartão de crédito é forma de pagamento mais segura
Ao contrário do que muitos consumidores pensam, a forma mais segura de fazer uma compra pela internet, segundo Omar Jarouche, é utilizando o cartão de crédito. Apesar de haver um risco de realizar a compra em um site falso e ter o cartão clonado, o porta-voz da ClearSale afirma que essa modalidade permite a devolução do dinheiro com mais facilidade do que no pagamento por boleto ou Pix, por exemplo.
"Às vezes as pessoas têm medo de usar o cartão de crédito, mas quando o consumidor identifica uma transação que não realizou, é muito mais simples conseguir o ressarcimento desse valor. Cada banco tem uma burocracia diferente, mas é praticamente garantido que vai receber o dinheiro de volta ou ter a compra cancelada da fatura. Apesar de haver um risco no cartão, é um risco controlado", afirma Jarouche.
Mais de 600 mil fraudes no setor financeiro
No mercado financeiro, isto é, nas transações relativas a bancos, financeiras, fintechs e administradoras de cartões de crédito, foram analisadas quase de 21 milhões de propostas e as tentativas de fraude chegaram a 667 mil. Ou seja, 3,2% de todas as transações nesse setor foram golpes tentados em processos como abertura de contas, emissão de cartões, empréstimo pessoal e CDC por meios digitais.
O setor de telecomunicações também foi analisado. Nele, a ClearSale revisou mais de 8,5 milhões de propostas e contratos no primeiro semestre e verificou 463 mil tentativas de fraudes, ou seja, 5,4% do total. Entre os golpes nessa área, destacam-se o uso indevido de dados, desvio de equipamentos, venda indevida de produtos ou serviços, redução indevida de fatura e upsell de serviços não contratados, entre outros.
Por fim, quando o assunto são vendas diretas, ou vendas porta a porta, foi possível analisar 1,5 milhões de transações e atestar 31 mil tentativas de fraudes, ou seja, 2,1% dos pedidos. Nesse segmento, os principais tipos de fraude são cadastro indevido de novos consultores, realização de pedidos falsos e uso indevido de dados de terceiros.