Empresa proibiu funcionária de usar o banheiro no meio do expediente
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Empresa proibiu funcionária de usar o banheiro no meio do expediente

Trabalhadores da Zenglein, fábrica de calçados localizada em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, assinaram um acordo coletivo de trabalho que garante livre acesso ao uso do banheiro. O acordo foi firmado após uma funcionária ter sido impedida de ir ao sanitário durante um turno de trabalho , o que fez com que ela urinasse nas calças.

Segundo o Sindicato das Sapateiras e dos Sapateiros de Novo Hamburgo , a colaboradora teve que passar em frente aos colegas de trabalho molhada para se dirigir até o Setor de Recursos Humanos, sofrendo constrangimento e humilhação. Ela foi liberada do serviço e caminhou por cerca de meia hora até em casa, sem ter sido levada por um veículo da empresa.

O documento foi firmado por ambas as partes em assembleia realizada no pátio da empresa pelo Sindicato das Sapateiras e dos Sapateiros de Novo Hamburgo, na última quarta-feira (07). O acordo tem validade de dois anos e determina que "as trabalhadoras e os trabalhadores devem ter livre acesso ao uso do banheiro desde o ingresso ao local de trabalho até a sua saída".

No fim do mês passado, o sindicato, que mediou o acordo, encaminhou uma notificação extrajudicial, com cópia ao Ministério Público do Trabalho (MPT-RS) , para que a empresa se manifestasse em razão do episódio.

Segundo Jaqueline Erthal, diretora do Sindicato e da CUT-RS, a negociação foi construída em duas semanas. A entidade realizou ato de repúdio junto às funcionárias, durante intervalo do turno, em frente à fábrica da Zenglein, que chegou a dispensar a linha de produção por três dias.

Ao jornal O Globo , em nota, a Zenglein afirmou que na situação ocorrida, “a funcionária informou a necessidade de ir ao banheiro para sua supervisora e a mesma pediu-lhe que aguardasse até que o substituto chegasse. Antes que o mesmo chegasse, ocorreu o incidente”, informou a companhia.

A empresa disse ainda que as idas ao banheiro são permitidas, no entanto, pelo fluxo de trabalho se tratar de uma esteira contínua, existe a necessidade da solicitação. “Os banheiros não são trancados e não há horário previsto para o uso dos mesmos”.

O acordo firmado entre as partes prevê que a empresa mantenha um coringa para cada 25 trabalhadores na esteira, “ressaltando que a prioridade de quem exerce a função de coringa é o atendimento das substituições junto às esteiras para o uso de banheiros”.

O documento também garante um intervalo de dez minutos de trabalho junto à esteira. Nessa condição, o trabalhador é livre para usufruir do período da forma como achar melhor, “não podendo este intervalo ser imposto como para uso do banheiro”.

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Também ficou estabelecido que a cada dois meses serão realizadas reuniões para avaliação do acordo, sendo o sindicato “sempre representado por no mínimo quatro integrantes da direção colegiada”.

Ainda em nota, a Zenglein disse que este fato foi único e isolado, pelo qual a empresa lamenta profundamente. “Desde o ocorrido, estamos prestando todo o auxílio necessário para a funcionária”, afirmou.

Quanto ao acordo com o sindicato, a fábrica informou que “teve o maior interesse em realizá-lo, pois o objetivo com tal ação é priorizar melhorias que prezem pelo bem-estar do funcionário”.

“Propomos no acordo aumentar a equipe específica para substituições nas esteiras, a construção de novos banheiros no andar térreo da produção e a implantação de reuniões periódicas com o Sindicato. Tudo com o intuito de uma conversa e melhoria contínua”, completou.

Para Erthal, diretora do sindicato, o acordo abre importante precedente para negociações com as empresas, pois o episódio não foi fato isolado.

“É uma grande vitória da mobilização e da negociação do Sindicato contra o desrespeito que ainda existe em muitas fábricas, que impedem em pleno século 21 o livre acesso ao uso do banheiro nos locais de trabalho. O acordo abre também um importante precedente para negociar com os patrões a extensão desse direito ao conjunto da categoria, o que aconteceu não foi um caso isolado”, disse Erthal.

No último dia 7, a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul aprovou a realização de uma audiência pública para discutir as proibições e restrições ao uso dos sanitários pelos trabalhadores da indústria calçadista do Vale do Rio dos Sinos, proposta pela deputada Luciana Genro (PSOL).

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