O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque
Gabriel de Paiva / Agência O Globo
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque

Em mais uma medida para enfrentar os efeitos da pior seca em 91 anos na região das principais hidrelétricas , o Ministério de Minas e Energia (MME) trabalha para antecipar ou ao menos manter o cronograma de entrada de usinas de geração de energia que vão reforçar o sistema nacional. Também faz parte do plano do governo antecipar a entrada em operação de novas linhas de transmissão de energia.

O MME está entrando em contato com empresas detentoras de unidades de geração de energia e de companhias responsáveis pela construção de linhas de transmissão de eletricidade, que deverão entrar em operação em 2021 ou início de 2022, pedindo para que elas se esforcem para antecipar as datas ou ao menos mantenham o cronograma de entrada em operação das usinas. São principalmente usinas termelétricas, eólicas e de energia solar.

Na correspondência enviada a cada uma das empresas, o MME destaca “a importância de que sejam enviados todos os esforços para manutenção das datas, ou possível antecipação, da efetiva entrada em operação comercial” das unidades.

Não é ação isolada. O governo já liberou a importação de energia da Argentina e do Uruguai, já autorizou o acionamento de todas as termelétricas disponíveis e já informou que fará uma campanha por uso consciente de energia para enfrentar o cenário de escassez de água nos reservatórios.

2,7% da capacidade total

Ao GLOBO, o MME disse que a iniciativa faz parte de um plano de ação para buscar a disponibilização de recursos adicionais à operação do sistema elétrico.

“O alvo são projetos que já estão em implantação e caracterizados por terem base em fontes renováveis. Eles têm potencial de serem agregados ao Sistema Interligado Nacional (SIN) para atravessar o período seco ou apoiar a recuperação dos reservatórios no próximo período úmido”, afirma a pasta.

Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a previsão é entrar em operação neste ano 4.745 megawatts (MW) de potência instalada no sistema interligado nacional (SIN). Desse total, 1.683 MW são de eólicas, 1.338 MW de térmicas a gás e 1.317 MW são de energia solar, há ainda, em menor potência, usinas a biomassa e pequenas hidrelétricas.

O total de energia previsto para iniciar a operação neste ano equivale a 2,7% da potência hoje disponível no sistema. Pode parecer pouco, mas o governo está em busca  de todas as formas de geração de energia, numa tentativa de reduzir a geração de energia por hidrelétricas e guardar água para os momentos de pico.

Além disso, há a tentativa do governo de reduzir o consumo de energia gerada por termelétricas a óleo, as mais caras do sistema.

Em 2022, a previsão da Aneel é que entrem em operação 9.570 MW de capacidade de produção de energia, puxada pela energia solar e pelas eólicas. A agência reguladora não diz o cronograma mensal de inauguração das usinas. Por isso, não é possível saber a quantidade dessa energia que poderia ser antecipada.

Além de solicitar a antecipação de usinas de geração de eletricidade, o governo tenta inaugurar antes do previsto linhas de transmissão e subestações de energia. Um dos problemas que o MME precisa enfrentar são os limites de intercâmbio entre os sistemas.

Na prática, a dificuldade de trazer energia de uma região para outra. O sistema nacional é divido em quatro subsistemas: Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Sul.

Limites do sistema

Esses sistemas se comunicam entre si, mas há limites para isso. Por exemplo: hoje, há dificuldades de levar toda a energia eólica produzida no Nordeste para o restante do país. Como a crise está concentrada no subsistema Sudeste/Centro-Oeste (região com maior demanda por energia), é importante aumentar a capacidade de transmissão do Nordeste, do Norte e do Sul para este sistema.

“Também fazem parte da medida projetos de transmissão que ampliam os limites de intercâmbio entre os subsistemas. Em ambos os casos, o incentivo pela eventual antecipação se dá pelos mecanismos já existentes no setor, bem como nos contratos de concessão”, diz o MME.

O Brasil tem cerca de 160 mil quilômetros de linhas de transmissão. Neste ano, 2.840 km de linhas de transmissão já entraram em operação.

Na carta às empresas, o Ministério de Minas e Energia faz referência à deliberação de maio do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), quando foi manifestada preocupação com as condições de atendimento diante da escassez hídrica.

Desde então, os órgãos relacionados ao setor têm tomado medidas para garantir o suprimento, como a redução das vazões das hidrelétricas para tentar poupar água nos reservatórios, evitando o agravamento da crise nos meses em que a carga estará mais alta. Outras medidas incluem a geração de eletricidade por termelétricas e a importação de energia.

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