Mais de 200 milhões de pessoas podem ficar desempregadas no mundo até 2022, de acordo com organização
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Mais de 200 milhões de pessoas podem ficar desempregadas no mundo até 2022, de acordo com organização

A profunda crise do mercado de trabalho provocada pela pandemia de Covid-19 está longe de acabar e deixará mais de 200 milhões sem emprego até 2022 , segundo um novo levantamento feito pela a Organização Internacional do Trabalho (OIT) , divulgado nesta quarta-feira. As mulheres serão as mais afetadas.

Diante deste cenário, diz a OIT, será mais difícil erradicar a pobreza no mundo. De acordo com a organização, mesmo a melhora que se espera no mercado de trabalho será insuficiente para compensar o fechamento de vagas desde o início da pandemia até pelo menos 2023.

O relatório "Emprego Global e Panorama Social: Tendências em 2021", da OIT, projeta que a perda de postos de trabalho no mundo chegará a 75 milhões neste ano. Em 2022, mais 23 milhões de empregos serão ceifados.

Somadas às vagas já perdidas desde o início da pandemia, o número de desempregados chegará a 205 milhões em 2022, ultrapassando o nível de 187 milhões registrado em 2019.

No Brasil, cerca de 15 milhões de pessoas estão na fila por um emprego. A taxa de desemprego já chegou a 14,7%, e o número de desalentados (que desistem de buscar uma vaga) já alcança 6 milhões.

Desemprego mais alto desde 2013

Esses mais de 200 milhões de desempregados corresponde a uma taxa de desemprego mundial de 5,7%. Excluindo-se o período de crise da pandemia, essa taxa foi observada pela última vez em 2013.

As regiões mais afetadas no primeiro semestre de 2021 foram América Latina e Caribe, Europa e Ásia Central.

Nelas, as perdas estimadas em horas de trabalho ultrapassaram 8% no primeiro trimestre e 6% no segundo trimestre, em comparação com as perdas globais em horas de trabalho de 4,8% e 4,4% no primeiro e no segundo trimestre, respectivamente.

A recuperação global do emprego deverá acelerar no segundo semestre de 2021, desde que não haja agravamento da pandemia.

Mais 108 milhões na pobreza

No entanto, isso ocorrerá de forma desigual, devido ao próprio acesso díspare às vacinas e à capacidade limitada da maioria das economias em desenvolvimento e emergentes de apoiar fortes medidas de estímulo fiscal.

Além disso, a qualidade dos empregos recém-criados provavelmente se deteriorará nesses países.

A queda no emprego e nas horas trabalhadas se traduziu em uma queda acentuada da renda do trabalho e um aumento correspondente da pobreza.

Em comparação com 2019, mais 108 milhões de trabalhadores em todo o mundo são agora classificados como pobres ou extremamente pobres (o que significa que eles e suas famílias vivem com o equivalente a menos de US$ 3,20 por pessoa por dia).

“Cinco anos de progresso em direção à erradicação da pobreza no trabalho foram desfeitos”, diz o relatório, acrescentando que isso torna a realização do objetivo das Nações Unidas de erradicar a pobreza até 2030 ainda mais difícil.

A crise da Covid-19 também piorou as desigualdades pré-existentes, atingindo com mais força os trabalhadores vulneráveis, conclui o relatório.

A falta generalizada de proteção social - por exemplo, entre os 2 bilhões de trabalhadores do setor informal do mundo - significa que as interrupções no trabalho relacionadas à pandemia tiveram consequências catastróficas para a renda familiar e meios de subsistência.

Mulheres mais afetadas

A crise também atingiu as mulheres de forma desproporcional. Seu emprego diminuiu 5% em 2020 em comparação com 3,9% no caso dos homens.

Uma proporção maior de mulheres também saiu do mercado de trabalho, tornando-se inativa. Responsabilidades domésticas adicionais resultantes de quarentenas e isolamento social também criaram o risco de uma "tradicionalização" dos papéis de gênero.

Globalmente, o emprego entre os jovens caiu 8,7% em 2020, em comparação com 3,7% para os adultos, com a queda mais pronunciada observada em países de renda média.

As consequências deste atraso e perturbações na experiência inicial dos jovens no mercado de trabalho podem durar anos.

'Não é só problema de saúde'

"A recuperação da pandemia de Covid não é apenas um problema de saúde. Os graves danos às economias e sociedades também precisam ser superados", disse em comunicado o diretor geral da OIT, Guy Ryder.

"Sem um esforço deliberado para acelerar a criação de empregos decentes e apoiar os membros mais vulneráveis da sociedade e a recuperação dos setores econômicos mais afetados, os efeitos da pandemia podem persistir durante anos, com a perda de seres humanos e potencial econômico, e maior pobreza e desigualdade”, completou.

Ele ainda acrescentou:

"Precisamos de uma estratégia abrangente e coordenada, baseada em políticas centradas no ser humano e apoiada por ação e financiamento. Não pode haver recuperação real sem a recuperação de empregos decentes".

O levantamento da OIT preconiza uma estratégia de recuperação em torno de quatro princípios: promover o crescimento econômico de base ampla e a criação de empregos produtivos; apoiar a renda familiar e as transições do mercado de trabalho; fortalecer as bases institucionais necessárias para o crescimento e desenvolvimento econômico inclusivo, sustentável e resiliente; e usar o diálogo social para desenvolver estratégias de recuperação centradas no ser humano.


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