Em meio a uma das maiores secas na região das principais hidrelétricas do país , o governo decidiu criar um “ sala de situação ” para acompanhar o suprimento de energia elétrica e tomar medidas para garantir que não faltará eletricidade no país.
As medidas a serem adotadas ainda estão em estudo, mas uma das ações deverá ser restringir a navegação por rodovias e o uso de água para irrigação , para preservar os reservatórios.
Técnicos do governo evitam chamar o grupo de “ comitê de crise ”, mas diversos ministérios fazem parte da sala. Além do Ministério de Minas e Energia, Agricultura, Infraestrutura, Economia, as agências de energia (Aneel) e de águas (ANA) compõem o grupo, que é coordenado pela Casa Civil da Presidência da República.
Uma das primeiras medidas tomadas foi a decisão de fazer um leilão extra para a contratação de termelétricas que hoje não fazem parte do sistema de fornecimento de energia do país, como antecipou o GLOBO.
O governo descarta, neste momento, a possibilidade de racionamento de energia, mas integrantes do MME dizem estar preparados para o “pior cenário”.
O principal objetivo da sala é tomar medidas conjuntas para garantir que chegue água às hidrelétricas e que essa água seja usada para gerar energia. Um problema que se tornou comum no setor é o uso múltiplo da água, que acaba reduzindo a eficiência das hidrelétricas.
Quando o nível dos reservatórios está bom, isso não é um problema, porque é possível dividir o uso da água. Agora, porém, os reservatórios estão baixos e não há perspectiva de chuvas abundantes nos próximos meses, o que gera um risco de faltar água no auge do período seco, no segundo semestre.
Suspensão de hidrovias e irrigação
Por isso, duas medidas que devem ser tomadas no médio prazo são a suspensão de navegação por hidrovias e a suspensão do uso da água para irrigantes. O governo pretende com isso armazenar água nos reservatórios para usar nos momentos de pico da demanda e evitar, assim, que haja apagões.
Integrantes do MME chamaram os gestores do setor elétrico em 2001 (quando houve um racionamento) e de 2014 (período seco histórico) para conversar sobre medidas que podem ser tomadas. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, também está conversando com integrantes do governo, do Judiciário e do Congresso para alertar sobre a situação.
O governo também está intensificando a geração por usinas termelétricas. Para se ter ideia do peso que estas usinas já representam no sistema neste ano, na última semana de maio foram usados 12.606 megawatts (MW) médios por dia, o dobro do que foi utilizado em igual período do ano anterior. Mesmo em 2019, antes da pandemia e da desaceleração da atividade econômica, o patamar na mesma semana foi de 7 mil MW médios/dia.
As medidas tomadas são no sentido de garantir que haja disponibilidade de água especialmente em setembro, outubro e novembro, antes do início do período úmido. Há um limite para a geração por usinas termelétricas, dada a capacidade instalada do país. Por isso, garantir água no reservatório é uma maneira de manter a segurança da operação.
Nesta quinta-feira, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) se reuniu em caráter extraordinário, para avaliar as condições de suprimento energético ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Dados do ONS apontam que de setembro a abril foi o período em que menos entrou água das chuvas nas barragens em ao menos 90 anos, ou seja, foi a pior afluência nos reservatórios das regiões das hidrelétricas desde que isso começou a ser registrado, em 1931.
A principal preocupação é com a situação hidrológica crítica atualmente vivenciada na bacia do rio Paraná, que engloba as bacias dos rios Paranaíba, Grande, Tietê e Paranapanema.
Nessas bacias estão localizadas as usinas hidrelétricas com os principais reservatórios de regularização do SIN, cujos recursos são operados de maneira que, nos períodos secos, seus estoques possam ser utilizados de forma otimizada e com vistas a garantir o devido atendimento à carga.
“Portanto, para além de questões energéticas, o intuito das medidas é garantir a devida governabilidade das cascatas hidráulicas, inclusive quanto à preservação do uso da água, ao longo do período seco de 2021”, diz a nota do CMSE.
No fim da noite de ontem, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu Alerta de Emergência Hídrica para o período de junho a setembro, na região da Bacia do Paraná, que abrange os Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.