Mesmo sendo o sétimo país do mundo que mais gasta com salários e privilégios de servidores (12,9% do PIB), a maioria esmagadora da classe não usufrui dessas benesses no Brasil. As distorções são enormes, como evidenciado em um estudo do Ipea, que aponta que os integrantes do Judiciário ganham, em média, R$ 10,2 mil por mês, mais que o dobro do Executivo (R$ 4,8 mil).
Além disso, a proposta de reforma administrativa assusta o funcionalismo . Medidas como fim da estabilidade , congelamento de salários e possível extinção de cargos, presentes na PEC 32/2020, não corrigem a segregação salarial , e mantém os benefícios para as altas castas como juízes e procuradores.
O temor faz com que, desde 2017, o contingente de servidores venha caindo ano a ano no País. Segundo o Ministério da Economia , o Brasil encerrou 2020 com 599,8 mil funcionários públicos federais, número 1,31% menor que o de 2019 (607,8 mil). No âmbito estadual, o cenário não é diferente: em 2019, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de servidores na administração direta e indireta dos estados era 2.983.603, 4,6% a menos do que em 2018.
Por essas e outras razões, pessoas que antes escolheram seguir pela carreira pública, hoje, se arriscam e partem para o empreendedorismo . Confira alguns casos:
Ex-PM cria rede de franquias de acessórios para celular
Filho de concursados, Francis Ferlin foi incentivado pela família e entrou para a Polícia Militar em 2006. Mas o espírito empreendedor sempre esteve presente nele e, 10 anos depois, o ex-policial não resistiu a uma oportunidade percebida enquanto andava pelo supermercado: viu que uma loja de acessórios para celular estava à venda e, sem pensar muito, usou o dinheiro da poupança para comprá-la. Nascia a ItCase , uma das principais redes brasileiras de acessórios para celular.
Apesar do início conturbado, com Francis e a esposa Monique Morselli se dividindo entre a loja e as outras atividades profissionais, as vendas foram aumentando e, dois anos depois, já era inaugurada a terceira loja da rede. Foi quando Francis decidiu largar a carreira militar para se dedicar exclusivamente aos negócios. "Todo mundo me chamou de louco. Mas, em todas as histórias de grandes empresários que li, tinha um momento de 'loucura'. Esse foi o meu."
Hoje, a rede operada pelo casal e mais dois sócios (Cristhian Bernardes e Felipe Sperandio) tem nove unidades em operação, 12 em implantação e pretende chegar às 100 até o final de 2021.
Fisioterapeuta deixa prefeitura para fazer a diferença no ramo da estética
A fisioterapeuta Natália Ribeiro queria, de alguma forma, fazer a diferença no mundo. Ela não sentia que conseguia isso enquanto funcionária da prefeitura de Bandeirantes (PR). Por isso, em 2013, aceitou um convite para trabalhar em uma franquia de estética em Avaré (SP). Na rotina de trabalho e cursos, Natália conheceu seu hoje marido, Caio Oliveira.
Você viu?
Em 2016, os dois mudaram-se para Cruzeiro (SP) e, juntos, arriscaram suas economias e adquiriram um primeiro equipamento para fotodepilação, no valor de R$ 40 mil. Nascia a Mais Top Estética . Apostando no marketing digital, os clientes foram surgindo e, no fim de 2017, o empreendimento já ocupava todas as salas do primeiro andar do prédio onde começou. Dali em diante, o sucesso só aumentou e, hoje, o casal administra uma rede com 101 unidades em operação.
Líder da maior rede de pastéis do País também foi concursado
Por trás do sucesso da 10 Pastéis , a maior rede de pastéis do Brasil, também há a história de alguém que deixou a promessa de estabilidade para empreender. Ainda jovem, Marcos Nagano trabalhou por 10 anos na área privada e foi aprovado em dois concursos: do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e da Companhia Paranaense de Energia (Copel), como engenheiro.
Convidado por um colega para ser sócio da rede de pastelarias, que estava abrindo sua segunda unidade em Curitiba, Nagano abriu mão da carreira pública. Na 10 Pastéis, ele passou a liderar a franqueadora, investindo principalmente em capacitação: "queríamos que tudo acontecesse dentro de um padrão", conta.
Cinco anos depois, o fundador deixou o negócio, e Nagano seguiu com o planejamento para que a marca tivesse sustentabilidade. Hoje, a rede conta com mais de 70 lojas.
Expulso da Marinha e empresário de sucesso
Flávio Augusto da Silva é hoje um dos maiores empresários do Brasil. Fundador da rede de escolas de idiomas Wise Up , presidente do conselho da Wiser Educação e proprietário do clube de futebol Orlando City , nos Estados Unidos, ele também foi o idealizador do MeuSucesso.com , maior plataforma de conhecimento sobre empreendedorismo do Brasil.
Antes de empreender, porém, Flávio também passou pelo serviço público. Ainda jovem, ele sonhava ingressar na Marinha, objetivo que alcançou depois de três tentativas e muito estudo.
No entanto, Flávio não conseguiu se identificar com a rígida rotina militar e, dois anos depois, acabou sendo expulso da escola da Marinha . Foi então que, ainda antes dos 20 anos, começou a trabalhar como vendedor em um curso de inglês, onde pouco tempo depois tornou-se diretor. Aos 23, Flávio decidiu empreender e abrir sua própria escola de inglês, a Wise Up, hoje com mais de 400 escolas no País.