Barbara Arranz CEO da Linha Canábica da Bá
María Eduarda Arranz Sánchez Palencia
Barbara Arranz CEO da Linha Canábica da Bá

Bárbara Arranz, empreendedora  de 33 anos, teve seu terceiro filho, Raul, enquanto cursava biomedicina. O menino nasceu com Síndrome de Asperger , e na esperança de melhorar a qualidade de vida dele, Bárbara buscou ajuda na maconha medicinal . Mal sabia que essa escolha faria com que ela caísse da cabeça num mercado que movimentou R$ 122 bilhões só no ano passado, e rendeu a ela um faturamento de R$ 3 milhões em oito meses. 

Ela ouviu falar dos usos medicinais da maconha pela primeira vez ainda na adolescência, quando uma tia começou a tratar esclerose múltipla com a planta. 

Bárbara buscou outras informações e especialistas para saber como a maconha poderia ajudar no tratamento do seu filho. Foi quando conheceu a Associação de Apoio à Pesquisa e os Pacientes de Cannabis Medicinal ( Apepi ), que lhe apresentou o óleo fitoterápico à base de Cannabis. 

"O estalo não veio de pesquisa, e sim do amor por uma planta que trouxe um novo sentido à vida do meu filho. Vendo aqueles resultados incríveis no meu Raul, eu não parava de pensar que eu tinha que trabalhar com a maconha de algum jeito. Mas, eu queria um mercado novo, uma linguagem nova onde eu pudesse colocar a minha forma de ver o negócio, mais humanizada", conta.

"Ele tinha crises de irritabilidade, dificuldade em socializar e em aprender. Com o tratamento, eu tive o privilégio de ver dia após dia essa evolução. Foi chocante, lindo. Era como uma nova descoberta a cada dia. Ver as melhorias do Raul foi como ganhar um novo sentido de vida. Raul nos ensina diariamente", completou a mãe.

A partir da melhora imediata no quadro dele, Bárbara começou a receber demandas de pessoas próximas para comprar o óleo produzido por ela para tratamentos de marcas ou doenças mais sérias. Foi aí que ela decidiu transformar o conhecimento adquirido em empreendimento. 


Bárbara Arranz com óleo fitoterápico à base de cannabis
María Eduarda Arranz Sánchez Palencia
Bárbara Arranz com óleo fitoterápico à base de cannabis

Para dar seguimento no ramo, decidiu se mudar para a Espanha. Em fevereiro de 2020, Arranz desembarcou em Madri e criou a Linha Canábica da Bá . A empreendedora estruturou uma equipe para a produção dos itens e outra para atendimento aos consumidores e logística no Brasil. Hoje, são 45 pessoas no total — 28 só na Espanha —, fora os prestadores de serviço terceirizados. Ela estima que tenha investido cerca de R$ 400 mil desde o início da empresa. 

"A Maconha é uma planta totalmente feminina que tá aí para ajudar, levar saúde e bem-estar aos seus filhos, filhos da Terra. Eu sou grata por ter sido acolhida por essa planta. Demos cor e vida ao mercado de cannabis", declarou. 

Em 2020, o faturamento foi de R$3 milhões com oito meses de operação, e a expectativa para 2021 é dobrar esse valor. Grande parte do sucesso se deve à simplificação do processo para importação de produtos à base de canabinoides, anunciado pela Anvisa no começo do ano passado. Isso fez com que o órgão registrasse mais de 15,8 mil pedidos ao longo de 2020 – um aumento de 86% sobre 2019.

"A nossa expectativa para 2021 e os próximos 5 anos está no processo que iniciamos em 2020, de globalização da marca e produção dos produtos. Nossa meta em 5 anos é chegar no patamar de R$ 20milhões de faturamento ", conta otimista com o futuro.

Ao entrar no site da Linha Canábica da Bá, o cliente é atendido por alguém da equipe brasileira, que entra com a papelada na Anvisa para autorizar a importação do produto desejado. A entrega costuma ser realizada em torno de 15 dias.

Ao longo do ano, ela foi ajustando o processo de venda e apostou na criação de conteúdo para disseminação de informação sobre o tema, o que proporciona um ganho nos canais digitais. Hoje, a Linha Canabica da Bá tem mais de 100 mil seguidores só no Instagram. 

Arranz enxerga no investimento em comunicação parte crucial da marca. Um dos papéis que ela se vê desempenhando é o de desmistificar a maconha, e de levar informação sobre um assunto ainda muito controverso. 

"Quando se tem um propósito, é seu dever lutar para que ele seja alcançado e executado da melhor maneira possível, como acredito que venho fazendo. Nesse tempo que estou no negócio da cannabis medicinal, passei a enxergar a vida de outra forma, tenho depoimentos incríveis de pessoas que se permitiram ser ajudadas, sou uma mulher batalhadora que não vou desistir do meu objetivo. Já ouvi muitos absurdos que poderiam ter me feito parar ou recuar, mas apenas me deram mais força. O meu propósito é desmistificar a maconha, quebrar o tabu. Chega de viver o conservadorismo, o proibicionismo. Temos que aceitar e viver o novo."

Mercado legal da maconha movimentou R$ 122 bilhões em 2020

Nos Estados Unidos, maior mercado do setor, as vendas chegaram a US$ 17,5 bilhões
Reprodução
Nos Estados Unidos, maior mercado do setor, as vendas chegaram a US$ 17,5 bilhões

Só em 2020, a venda legal de cannabis no mercado mundial atingiu R$ 122 bilhões, um aumento de 48% na comparação com 2019, segundo a consultoria especializada BDSA. A estimativa é que a taxa média de crescimento para o setor é de 17% ao ano, o que levaria o faturamento para R$ 321,7 bilhões em cinco anos. 

"Os mercados médicos e de uso adulto lançados em 2019 e 2020 contribuíram com US $ 1,6 bilhão em gastos em 2020: US$ 422 milhões em médicos e quase US $ 1,2 bilhão em adultos. Cinco novos mercados dos EUA legalizaram a cannabis medicinal ou para uso adulto durante as eleições de 2020: Arizona, Mississippi, New Jersey, Montana e South Dakota", diz nota da BDSA.

Situação dos canabinóides no Brasil 

Enquadrado como medicamento, até o momento registrado no Brasil somente o Mevatyl
Reprodução/Documentário Baseado no Brasil
Enquadrado como medicamento, até o momento registrado no Brasil somente o Mevatyl









Segundo a Anvisa , o único produto à base de cannabis enquadrado como medicamento, até o momento, registrado no Brasil é o  Mevatyl , pois seguiu todo o rito e estudos clínicos exigidos para registro de remédios no Brasil.

Sobre a produção de derivados  de cannabis no Brasil:

Os requisitos para a autorização de produtos derivados de cannabis estão definidos na resolução  RDC 327/2019 de 11/12/2019.

Essa norma criou uma nova categoria de produtos chamada " produtos derivados de cannabis ". Esses produtos têm finalidade terapêutica, mas não são considerados medicamentos. Por isso a nova categoria recebe uma "autorização sanitária" ao invés de registro.

A categoria foi criada porque a regra para o registro de medicamentos novos prevê a realização de pesquisas clínicas que sejam capazes de comprovar a eficácia dos mesmos. O atual estágio técnico-científico em que se encontram os produtos à base de cannabis no mundo todo não seria suficiente para a comprovação da efetividade. 

O que é preciso para pedir autorização para produzir e comercializar

A empresa responsável pela submissão da Autorização Sanitária do produto de Cannabis à Anvisa deve possuir:

  • Autorização de Funcionamento d e Empresa (AFE) emitida pela Anvisa com atividade de fabricar ou importar medicamento.
  • Autorização Especial (AE).
  • Certificado de Boas Práticas de Fabricação (CBPF) de medicamentos para a  empresa fabricante do produto.
  • Boas Práticas de Distribuição e Armazenamento de medicamento.
  • Racional técnico e científico que justifique a formulação do produto de Cannabis e a via de  administração.
  • Documentação técnica da qualidade do produto.
  • Condições operacionais para realizar as análises do controle de qualidade em território brasileiro.
  • Capacidade para receber e tratar as notificações de efeitos adversos e queixas técnicas sobre o produto.
  • Conhecimento da concentração dos principais canabinoides presentes na formulação, dentre eles o CBD e o THC, além de ser capaz de justificar o desenvolvimento do produto de Cannabis.

Sobre Importação de produtos à base de cannabis:

A Resolução RDC 335/2020 , estabelece os procedimentos para a importação de Produto derivado de cannabis, por pessoa física, para uso próprio, mediante prescrição de profissional legalmente habilitado, para tratamento de saúde. 

Para importação e uso de Produto derivado de Cannabis os pacientes devem se cadastrar junto à Anvisa, por meio do formulário eletrônico para a importação e uso de Produto derivado de Cannabis, disponível no Portal de Serviços do Governo Federal.

Para o cadastro é necessário apresentar a prescrição do produto por profissional legalmente habilitado contendo obrigatoriamente o nome do paciente e do produto, posologia, data, assinatura e número do registro do profissional prescritor em seu conselho de classe. Não há definição de concentração para a importação do Produto derivado de Cannabis, para uso próprio, nos termos da RDC 335/2020. 

Potcoin

O mercado é tão promissor que ganhou até moeda virtual. A Potcoin começou a ganhar visibilidade quando patrocinou a visita do ex-jogador de basquete, Dennis Rodman, à Coreia do Norte. Após a divulgação do ex-Chicago Bulls, a cotação da moeda disparou 100% no dia, mesmo tendo caído em seguida. 

Criada em 2014, a Potcoin vale hoje R$ 0,17 e não precisa da mediação de uma instituição financeira, a compra é realizada com a empresa que administra, ou direto de outros usuários. A principal diferença para o Bitcoin é essa, no Bitcoin não á empresa administradora. 

A concepção da moeda se fez necessária, pois, apesar da legalização em alguns estados, bancos em geral se recusam a receber dinheiro proveniente da venda de erva. 

A Potcoin pode ser usada para comprar qualquer coisa na internet e até mesmo convertida em moeda real.




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