Aplicação preferida dos brasileiros, poupança quase não tem riscos, mas rende pouco
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Aplicação preferida dos brasileiros, poupança quase não tem riscos, mas rende pouco

A caderneta de poupança completou neste ano 160 anos e continua a ser — de longe — a forma de investimento mais popular no Brasil. Até os milionários utilizam a poupança como aplicação. Dados do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) de janeiro de 2021 mostram que há mais de 22 mil contas poupanças com saldo maior que R$ 1 milhão — 28% a mais do que em janeiro de 2020.

O curioso é que isso ocorre em um momento em que a aplicação tem baixo rendimento . Pela regra atual da poupança, após maio de 2012, o rendimento é de 70% da taxa básica de juros, a Selic ( atualmente no patamar histórico de 2% ao ano ). Ou seja, no momento, o ganho da caderneta é de 1,4% ao ano — muito abaixo da inflação acumulada em 12 meses de 5,2%, segundo o IBGE.

A poupança antiga, no entanto, com depósitos realizados antes de maio de 2012, tem uma outra regra de rendimento: 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial, que atualmente está zerada), o que dá 6,17% ao ano. O rendimento é muito superior do que os de outras aplicações de renda fixa seguras. O FGC e o Banco Central (BC) não têm dados sobre a idade das contas.

Para especialistas, quem tem a conta antiga deve deixar o dinheiro lá. Já novos aportes podem ter um destino mais rentável.

"A poupança antiga tem um rendimento muito atraente. Então, pessoas mais velhas podem estar mantendo essa conta de forma confortável. Para investir agora, há outras opções igualmente seguras", afirma Fábio de Oliveira, planejador financeiro CFP.

No ano passado, a poupança teve seu recorde de captações líquidas (aplicações menos os saques) da série história do Banco Central, com R$ 166 bilhões. Um outro fato que pode ter levado os brasileiros para a caderneta é a segurança que esta transmite aos investidores.

Para Ricardo Teixeira, coordenador do curso de Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), em momentos de crise, incerteza e oscilação nos mercados, as pessoas se voltam para o que é conhecido.

"A poupança traz segurança, é o porto seguro neste momento de elevado risco financeiro em que vivemos. As pessoas sabem que rende pouco, mas a simplicidade e a segurança da aplicação explicam os novos aportes e a preferência do brasileiro. De qualquer forma, é melhor poupar com algo em relação ao qual se está confortável do que gastar", afirma Ricardo Teixeira, coordenador do curso de gestão financeira da FGV.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) de 2019, a poupança é conhecida por 90% dos brasileiros e usada por 84,2% deles. Segundo mais utilizado, os fundos de investimento são escolhidos por apenas 6% dos investidores.

Como usar corretamente a opção popular

Para quem gosta de aplicar na poupança, apesar de sua baixa rentabilidade, é possível usá-la como uma reserva de emergência e para acumular dinheiro. Por ser de fácil aplicação e isenta de cobrança de imposto, o investimento pode ser uma opção competitiva em relação a outros produtos dos grandes bancos, que também têm uma baixa remuneração, como o Certificado de Depósito Bancário (CDB), que rende cerca de 80% do CDI.

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Mas a poupança só rende em aniversários mensais. Por isso, se o cliente sacar o valor antes, não verá nenhuma rentabilidade.

"O aconselhável é ter de 6 a 12 meses de custos mensais reservados em uma aplicação segura e que seja possível fazer o resgate, e isso a poupança cumpre. Mas há o risco de a pessoa acabar usando o dinheiro porque está muito disponível", afirma o planejador financeiro, Fábio de Oliveira.

O Tesouro Selic , que é garantido pelo Tesouro Nacional, é uma opção mais rentável e que está mais distante da conta-corrente, já que o resgate é feito pelo Tesouro Direto.

Para investimentos de médio e longo prazo, como para a compra de uma casa ou a aposentadoria, outras aplicações são mais indicadas.

Há proteção do FGC em outras aplicações

O que muita gente não sabe é que a poupança é segura graças à garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que cobre até R$ 250 mil por CPF em instituição financeira, até o limite de R$ 1 milhão em janelas de quatro anos.

Ou seja, pode ocorrer uma "quebra" a cada quatro anos. Mas esse fundo não protege somente a poupança. Engloba outros produtos como o Certificado de Depósito Bancário (CDB), a Letra de Crédito Imobiliário e a Letra de Crédito do Agronegócio (LCI/LCA).

"O fundo é muito sólido, temos R$ 85 bilhões para enfrentar as poucas liquidações que temos no sistema financeiro. E, no caso disso ocorrer, o resgate hoje é muito mais simples, podendo acontecer em algumas semanas", afirma Daniel Lima, diretor-executivo do FGC.

Antes era preciso ir a uma agência bancária para pedir o resgate do fundo. Desde setembro de 2020, o FGC lançou um aplicativo que possibilita fazer o requerimento on-line e esperar o dinheiro ser depositado na conta-corrente.

Outras apostas seguras e de maior retorno

O Certificado de Depósito Bancário (CDB), a Letra de Crédito Imobiliário e a Letra de Crédito do Agronegócio ( LCI/LCA ) possuem a mesma segurança do FGC, e têm taxas mais vantajosas em bancos médios e pequenos, que são mais arriscados. Mas, dentro do limite do FGC, a aplicação está protegida. Com essas aplicações, é possível ter um retorno duas vezes maior que a poupança, ou mais.

A diferença é que, nessas aplicações, há um prazo de investimento: o dinheiro não pode ser retirado a qualquer momento. Por isso, são indicadas para um objetivo específico e não para ter de reserva.

"Quem estiver disposto a sair do bancão vai encontrar taxas muito mais atrativas com o mesmo risco. É só falta de conhecimento em outras alternativas. E é preciso pesquisar para fazer o dinheiro render, mas isso ajuda a ter conquistas financeiras. De início, a pessoa tem medo de deixar o dinheiro “preso” por um, dois, três anos, mas depois vê a vantagem", afirma Sandra Blanco, estrategista chefe da Órama.

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