Mercado financeiro mais feminino: número de investidoras quadruplica em 2 anos
Segundo relatório da B3, mulheres já são 25% dos investidores pessoa física
Quando pensamos no perfil do investidor clássico, é fácil cair no estereótipo do homem de meia idade, de terno e cabelos grisalhos. Essa realmente era a realidade até pouco tempo, mas o cenário vem se transformando cada dia mais rápido. Apesar de ainda serem minoria, as mulheres vêm ganhando espaço exponencialmente. Segundo o relatório Perfil do Investidor , produzido pela B3 , só entre 2018 e 2020, o número de mulheres investindo na bolsa de valores saltou de 179.392 para 809.533 .
A taxa de crescimento em 2020 entre elas foi de 118,1%, muito à frente da evolução masculina de 84,3% entre os introduzidos na B3.
Esse panorama reflete a tendência de busca por independência e educação financeira crescente no universo feminino. Num Brasil ainda muito marcado pelo machismo , em que a diferença salarial média entre homens e mulheres é de 14%, e chega a 26% em cargos superiores, elas viram a necessidade de buscar alternativas que tragam autonomia a longo prazo.
Maite Leite , CEO do Deutsche Bank no Brasil, referência no tema liderança e presença da mulher no mercado financeiro, disse que “a busca das mulheres pela independência financeira por meio do trabalho, empreendedorismo e gestão dos recursos é absolutamente fundamental .”
“A autonomia financeira está associada ao ganho de confiança, aumento da autoestima, melhora da condição de vida, maiores aprendizados, oportunidades, e acima de tudo, ao bem-estar da família e de nós mesmas. A lista de benefícios é infinita, ainda mais em um ambiente tão instável e complexo como o que vivemos hoje”, acrescentou Maite. Ela é uma das líderes do programa Dn’A Women - Develop and Achieve (Desenvolva e Conquiste), criado pelo Deutsche Bank em conjunto com outras instituições, com objetivo de incentivar a diversidade, equidade e liderança das mulheres no mercado financeiro.
Maite Leite estará na live do canal Brasil Econômico do YouTube para comentar o projeto, e debater a importância da presença feminina no mercado. A transmissão ocorrerá às 17h de quinta-feira (11).
A opinião dela vai ao encontro do estudo do Boston Consulting Group (BCG) sobre a prosperidade financeira feminina. Segundo a consultoria, a principal diferença na comparação com os investidores masculinos, é que o público feminino busca vincular as aplicações à valores e propósitos , não apenas ao retorno financeiro.
Segundo o mesmo levantamento, 32% da riqueza mundial já está sob o controle de mãos femininas. A projeção é que até 2023 esse número chegue a 34,2%.
Participação das mulheres na B3 por faixa etária e valor em bilhões
- Até 15 anos: R$ 0,27 bi (0,8%)
- 16 a 25 anos: R$ 5,39 bi (11,7%)
- 26 a 35 anos: R$ 39,01 bi (31,1%)
- 36 a 45 anos: R$ 78,76 bi (26,4%)
- 46 a 55 anos: R$ 82,5 bi (12,8%)
- 56 a 65 anos: R$ 93,28 bi (9,9%)
- Maiores de 66: R$ 153,2 bi (7,2%)
Invista como uma mulher
De 2018 para cá, houve uma redução drástica da taxa Selic, de 7% para 2%, fazendo com que a poupança e ativos de renda fixa deixassem de ser atrativos para o cidadão comum.
Além disso, o surgimento de blogs, youtubers e influenciadores tratando de investimentos fez com que mais pessoas se interessassem pelo assunto. Segundo o relatório da B3, eles somam 65% da fonte de informação do investidor pessoa física.
Sendo assim, para vencer o vácuo de gênero, uma das principais barreiras a serem superadas é a da representatividade . Formada em economia pelo Insper, Betina Roxo, estrategista-chefe da Rico Investimentos, é uma das principais vozes femininas quando o assunto é representação. Ela se propõe a desmistificar o mercado por meio das redes sociais, e assim já soma mais de 90 mil seguidores no Instagram.
“Atualmente, mais da metade das mulheres ainda acredita que os parceiros entendem mais de finanças do que elas”, disse a integrante da lista de personalidades jovens “Forbes Under 30”.
“O caminho ainda é longo porque, afinal, precisamos quebrar muitos paradigmas culturais da nossa sociedade. A boa notícia é que a perspectiva é de crescimento das mulheres investidoras, à medida que democratizamos o conhecimento e quebramos tabus. Além disso, a realidade da vida de grande parte das mulheres mostra que obrigatoriamente, em algum momento, elas terão que cuidar das suas próprias finanças”, acrescentou Betina.
Além dela, surgem outras iniciativas como o projeto MLHR3 , capitaneado por Camilla Dolle, chefe de renda fixa da XP, o coletivo tem o intuito de incentivar e capacitar mulheres para adentrar no mundo dos investimentos.
“Fazer parte do MLHR3 –Mulheres que Transformam– é uma enorme realização, por presenciar de perto a mudança acontecendo em uma empresa tão relevante como a XP, em um mercado historicamente dominado por homens. Eu acredito verdadeiramente que a representatividade importa, e que, quando vemos nossos similares em posições que almejamos, temos mais força para buscar o que desejamos. Como falamos em nosso manifesto, ninguém pode sonhar com aquilo que não pode ver."
Manifesto MLHR3
“O caminho é longo, mas certamente chegaremos lá se todos, homens e mulheres, trabalharem juntos nesta jornada!”, finalizou Camila.
Cresce o número de mulheres analistas, porém o gap de gênero continua grande
Segundo os dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), as mulheres são maioria na CPA-10 (Certificação Profissional Anbima Série 10), uma certificação considerada inicial para trabalhar com distribuição de produtos de investimento. Atualmente, 58% dos profissionais CPA-10 são mulheres.
Já nos certificados mais avançados, elas ainda são minoria:
- CPA-20 (certificado para rendas mais altas): 45%
- CEA(Certificação de Especialista em Investimentos Anbima): 35%
- CFP (Certificação de Planejador Financeiro): 23%
- CGA (Certificação de Gestores de Carteiras Anbima): 6%
No total, apenas 11% dos certificados brasileiros são de mulheres.
Essa realidade tem tudo para se transformar com celeridade. O meio corporativo das instituições financeiras ainda é muito masculino. Por isso a necessidade de maior representatividade, e de projetos que incentivem a introdução de mulheres nesse ambiente. No mundo de hoje, não podem existir profissões de meninos e profissões de meninas .