Após o presidente Jair Bolsonaro interferir na Petrobras e anunciar a troca de comando da estatal por conta da política de preços dos combustíveis, indicando o general Joaquim Silva e Luna para o lugar do economista liberal Roberto Castello Branco
, o mercado, como esperado, reagiu mal. Nesta segunda-feira (22), o temor por novas interferências, o silêncio do ministro da Economia, Paulo Guedes, e o rumo menos liberal que o esperado do governo Bolsonaro fazem a Bolsa brasileira, a B3, cair com força, puxada justamente pela queda da Petrobras, que supera os 20%
.
O mercado financeiro não gostou da intervenção política do presidente, que sinaliza possiveis novas interferências. Após o preço dos combustíveis, Bolsonaro mira agora o setor de energia elétrica . De olho nessa movimentação e seguindo a tendência do Ibovespa, as ações da Eletrobras também perdem valor nesta segunda, caindo mais de 4,5%.
Para Silvio Azevedo, consultor e educador financeiro, o que faz a Bolsa cair com tanta força é a "incerteza relacionada aos riscos da autonomia da estatal para sua política de preço. Em outras palavras, governo intervir politicamente na precificação. Além disto, o índice Bovespa hoje possui uma correlação direta de quase 10% das ações da petro [ação da Petrobras], então a queda acentuada da empresa, derruba junto à empresa". Diretamente, a queda da estatal petroleira derruba o mercado, além do otimismo sair de cena dando lugar ao medo de uma política econômica intervencionista.
"As ações neste caso estão caindo muito por falas ambíguas do presidente, e uma forte incerteza sobre como será feito o comando da organização. O mercado reage com medo de uma "estatização" e uma interferência direta na precificação do produto, que pode vir a gerar prejuízo", explica o consultor e educador financeiro.
Silvio também explica por que outras estatais também são afetadas e perdem muito valor nesta segunda de queda na Bolsa: " Eletrobrás , Banco do Brasil e petro, independente do governo, sempre vão balançar com ingerências ou atitudes políticas à frente da gestão de empresas que são estatais mistas. O mercado teme sim que Bolsonaro interfira de novo, e teme também o silêncio do Guedes".
Mercado em forte queda: é hora de aproveitar e investir?
"Já ouviram falar das compras de oportunidade? O mercado as vezes é benevolente para aqueles que estão capitalizados e dispostos a pensar no longo prazo", sugere Silvio Azevedo. Para ele, "ações sempre devem ser tratadas como longo prazo. A Petrobras é um empresa gigante, então quem quer pensar em longo prazo , e tem reserva de emergência bem definida, pode cogitar comprar petro sim". O consultor e educador financeiro pontua, por outro lado, que "isso não é uma recomendação de compra".
Diante do atual cenário, Silvio explica que "os investimentos em bolsa sofrerão oscilações, pela nomeação [de um general para a presidência da Petrobras], pela incerteza, e por motivos internacionais também. Se o investidor quer comprar "ações" e não ter oscilação, ele está investindo nos papéis errados. Toda e qualquer nomeação política que foge a regra técnica, irá refletir negativamente", garante.
Às 14h25 desta segunda, o Ibovespa cai 4,77%, aos 112.776 pontos, após recuperar perda ainda maior registrada pela manhã. A Petrobras cai 20,6%.