Há 20 anos, o Brasil e os países do continente Asiático vêm se aproximando cada dia mais. A pandemia do novo coronavírus acentuou essa tendência, como mostra um levantamento do Ministério da Economia a pedido da Folha de S. Paulo.
Em 2001, quando o movimento de expansão da economia asiática começou, 14% do comércio exterior brasileiro era com a Ásia. Esta presença aumentou pouco a pouco, até atingir 38% em 2019 e, com a pandemia, 42% em 2020.
Ao mesmo tempo, a participação de outros parceiros comerciais clássicos, como Europa, América do Norte e os vizinhos sul americanos, diminuiu.
Enquanto 35% dos importados pelo Brasil vieram da Ásia, 47% dos nossos produtos vendidos foram para eles.
Isso se deve, principalmente, ao rápido desenvolvimento econômico da China nas últimas décadas. O crescimento de países como Coreia do Sul, Índia e os integrantes da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) também reforçou o movimento.
Segundo o Banco Mundial, em 2000, os países asiáticos tinham 24% da participação do PIB global. Em 2019, este percentual chegou a 32,6%.
Interdependência?
Enquanto a indústria de base e tecnológica destes países ganhou espaço na economia global, os governos asiáticos passaram a diversificar sua produção e seus fornecedores de commodities como soja, minério de ferro e até mesmo carne.
78% da soja exportada pelo Brasil em 2019 foi para a China , enquanto 65% da oleaginosa comprada por eles era brasileira, de acordo com dados do Insper.
Até 2016, os Estados Unidos lideravam as vendas de produtos agrícolas para a China. Desde 2017, eles perderam a dianteira para os brasileiros. O gigante asiático saiu do 9º parceiro comercial do Brasil em 2001 para o 1º em 2009, mantendo-se na posição até hoje.
No ano passado, as transações comerciais Brasil-China foram mais do que o dobro do comércio Brasil-EUA, segundo dados do governo brasileiro. As principais mercadorias foram a soja, o minério de ferro e o óleo bruto de petróleo.
A importação de produtos agro pela China foi de US $921 milhões em 2000 para US $36 bilhões em 2020, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior.
Se na compra e venda de produtos agrícolas a relação do Brasil e China é de quase uma codependência, no comércio de produtos industrializados , a situação é diferente.
Hoje 20% das compras feitas pelo Brasil no exterior são de bens chineses, e tem de tudo um pouco. Ainda que um quinto das importações brasileiras venha do gigante asiático, essas compras representam apenas 1,42% de tudo que os chineses vendem para o mundo, de acordo com dados da Unctad compilados pela Folha de S. Paulo.
Além da China
Em 2018, houve a abertura do mercado coreano à carne de porco de Santa Catarina, após dez anos de negociação. De lá para cá, as exportações brasileiras do produto para o país quadruplicaram.
Assim como a Coreia do Sul, Japão e China também têm problemas com segurança alimentar, isto é - não são capazes de produzir o bastante para alimentar sua população. Por isso, acabam importando muito do Brasil e ainda produzem bens que faltam no mercado brasileiro.
A capacidade produtiva do Brasil também aumentou. O baixo preço e a qualidade tornaram nossos produtos agropecuários mais atraentes.
Alguns países do Asean, como Brunei, Singapura e Tailândia, são nossos competidores em alguns mercados, como o de frutas. Mas a produção agro deles nem sempre é suficiente, o que nos mantém atraentes.
O mercado indiano
é uma das promessas para o comércio exterior brasileiro. Ao mesmo que a Índia é forte em setores interessantes para o Brasil, como em produtos de computação e em fármacos, sua capacidade de produção agropecuária é pequena em relação a população (1,3 bilhão de habitantes).