Uma alta na taxa básica de juros Selic , que está no menor patamar histórico de 2%, será mais producente para a economia brasileira este ano. A avaliação é da economista-chefe do Santander Brasil , Ana Paula Vescovi, que divulgou a revisão do cenário econômico para este ano.
O Santander estima que o Banco Central deve iniciar um ciclo de alta de juros já no primeiro semestre, com a Selic chegando a 4% ao final do ano. No final desse ciclo, a taxa de juros deve fechar em 6%, cenário previsto para o final de 2022 ou início de 2023.
Mas uma elevação dos juros nominais, em vez de travar a economia, já que aumenta custo do dinheiro, poderá ter efeito contrário.
"Isso não é uma coisa que eu digo normalmente. Mas a queda dos juros até os 2% acabou sendo contraproducente para a economia. Esse nível de juros, trouxe volatilidade para o dólar e esticou a curva de juros mais longos, o que inibe decisões de investimento. Por incrível que pareça, um aumento dos juros nominais poderá ser mais producente para a economia brasileira, porque vai frear a curva de juros e reduzir a volatilidade no câmbio", diz Vescovi.
Para Vescovi, este ano, a vacinação, a volta da mobilidade e o cenário fiscal serão determinantes para a retomada da economia e não a política monetária.
Na estimativa do Santander, o governo deverá gastar este ano R$ 25 bilhões, fora do teto de gastos, com a reedição do auxílio emergencial . Mas a despesa será temporária e pode ser compensada no tempo com aprovação de medidas fiscais, como a PEC Emergencial , que traria uma economia de R$ 10 bilhões no próximo ano e nos anos seguintes.
Vescovi observa que o gasto de R$ 25 bilhões, mesmo sendo temporário, não afasta o risco fiscal. A economista não acredita numa deterioração maior do quadro fiscal, mas o teto será apertado em 2021 e um pouco mais folgado em 2022.
A economista avalia que a compensação dos gastos extras poderá vir com a aprovação da PEC Emergencial. Uma das propostas dessa PEC prevê mais um ano sem reajuste para servidores públicos.
"O congelamento dos salários é um dos pontos mais importantes", disse a economista.
O banco prevê que o Brasil deverá chegar ao final do ano com 48% da população imunizada contra a Covid-19 , o que levará a economia a um crescimento de 2,9% em 2021.
"Este ano, a vacinação, a volta da mobilidade e o cenário fiscal serão determinantes para a retomada da economia e não a política monetária", disse Vescovi, em conversa com jornalistas.
Se todas as vacinas do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação forem efetivamente adquiridas, diz o relatório do Santander, o Brasil teria cerca de 156 milhões de pessoas vacinadas (73% da população) até o final de 2021. O cenário-base do Santander, entretanto, prevê um atraso de 20% na vacinação e estima que 59% da população será vacinada, com uma eficácia média de 60%.
Além disso, o banco também considera a imunidade adquirida por infecção anterior, o que levaria a uma população imune de 48% ao final de 2021.
"Mas a economia ainda vai piorar antes de melhorar. Com mais uma onda de contaminação, com novas variantes do vírus, o primeiro trimestre deve ter um PIB negativo. Mas no segundo semestre, o Produto Interno Bruto (PIB) ganha tração, com aprovação de novas vacinas pela Anvisa, melhor logística, mobilização de mais profissionais de saúde", disse Vescovi.
Na estimativa do Santander, há pouco espaço para o real se apreciar este ano. O dólar deve continuar pressionado com a moeda americana chegando ao final do ano cotada a R$ 5,20 dos R$ 4,60 previstos anteriormente pelo banco. Com isso, a expetativa para a inflação oficial para este ano subiu de 3% para 3,60%.
Se o Santander manteve a expectativa de crescimento da economia para 2,9% este ano, para 2022 reduziu a estimativa de 2,5% para 2,3%.