A nova alta dos casos de covid-19 coloca em risco a retomada da atividade econômica no Brasil, avalia o Banco Central. Nesta terça-feira, 26, o BC citou pela primeira vez a possibilidade de uma “reversão temporária” da recuperação econômica.
A alta dos casos de covid-19 em vários países e o aparecimento de novas cepas do vírus afetam a atividade econômica global no curto prazo. Os dados econômicos relativos ao fim de 2020 “têm surpreendido positivamente”, mas “não capturam os efeitos do recente aumento no número de casos de covid-19”, disse o BC, no novo comunicado.
A evolução da pandemia e o fim dos auxílios emergenciais - que vinham sustentando a recuperação na segunda metade de 2020 - podem levar a “mais gradualismo ou até uma reversão temporária da retomada econômica”.
o Produto Interno Bruto (PIB), que subiu 7,7% no terceiro trimestre e deve ter registrado novo avanço no quarto trimestre de 2020, pode iniciar 2021 novamente em queda.
As preocupações do BC estão em sintonia com uma percepção que vem crescendo no mercado financeiro nas últimas semanas. Alguns economistas têm alertado que a nova onda de confinamentos em várias cidades do País prejudicam a retomada
Na sexta-feira, 22, antes mesmo da divulgação da ata do BC, o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, alertava que o aumento nas restrições de funcionamento do comércio em São Paulo reforçava o viés de baixa para o PIB no início de 2021. Segundo ele, não é possível descartar nem mesmo uma nova recessão, com queda do PIB no primeiro e no segundo trimestre deste ano.
O ministro da economia Paulo Guedes, afirmou na segunda-feira que a vacinação em massa é “decisiva” e vai garantir o retorno seguro ao trabalho.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, também defendeu a vacinação como um fator importante para a retomada econômica.
Até a noite de segunda-feira (25), apenas 685 mil pessoas haviam sido vacinadas no País contra a covid-19 - muito pouco, considerando os cerca de 150 milhões de pessoas (70% da população nacional) que precisam ser imunizadas para se interromper a circulação do vírus, conforme a versão mais recente do Plano Nacional de Imunização. A visão de uma parcela do mercado é de que, sem a vacina, a normalização das atividades vai demorar.
Os dirigentes do BC passaram indicações, na ata desta terça-feira, de que a Selic (a taxa básica de juros) pode aumentar nos próximos meses. Isso porque a inflação segue em aceleração.