A produção industrial brasileira cresceu 1,1 % em outubro na comparação com setembro e já está acima do patamar pré-pandemia. É a sexta alta mensal consecutiva, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda assim, no acumulado do ano o indicador está em terreno negativo (-6,3%). Em 12 meses, a queda é de 5,6%, mostrando que o setor da indústria está no caminho da recuperação, mas ainda enfrenta dificuldades.
"Estamos vindo de uma sequência de crescimento positivo, o que é ótimo, mas a indústria cresce com menor intensidade em outubro. As ajudas do auxílio foram importantes, mas ainda há um espaço significativo a ser recuperado. Isso não é característica somente de 2020, já era observado no ano passado", diz o gerente da pesquisa, André Macedo.
Segundo ele, a sequência de altas não era vista desde janeiro de 2009 a janeiro de 2010. "As variações nestes 13 meses, porém, foram menores do que as deste ano", ressalta.
O resultado de outubro veio levemente abaixo da projeção de analistas ouvidos pela Reuters, que apontavam avanço de 1,4%.
Bens de capital cresce 7%
As principais altas vieram dos bens capitais , que subiu 7% em outubro, especialmente puxadas pela produção de caminhões e peças automotoras. Outros setores que influenciaram a alta são do setor de metalurgia, produtos farmoquímicos e máquinas e equipamentos agrícolas.
Isso significa que o segmento de máquinas e equipamentos, especialmente voltados para a agricultura, está ampliando a produção, o que pode indicar mais investimento por parte das empresas.
Já os bens de consumo duráveis , que inclui eletrodomésticos cresceu 1,4%, no sexto mês seguido de expansão na produção. O avanço mostra que as famílias estão consumindo mais.
Dentro das grandes categorias econômicas — que ainda consideram bens intermediários e bens de consumo semi e não-duráveis — o IBGE enumera ramos de atividades. São 26 no total, dos quais 15 registraram crescimento.
Macedo destaca que nos meses anteriores o espalhamento era maior. Em agosto, fora 24 categorias em alta das 26, e em setembro, 22.
Produção de alimentos cai
Dentre as onze atividades que tiveram queda, chama atenção a de produtos alimentícios (-2,8%), que vinha de três meses de altas seguidas. Esse setor foi muito beneficiado pelo auxílio emergencial, que desde setembro teve o valor reduzido.
A indústria é uma das áreas da economia que mais rápido recuperou das perdas da pandemia. Depois de abril, quando o setor teve seu maior baque, a recuperação foi acontecendo mês a mês para atender a demanda e repor os estoques.
Macedo explica que o desempenho negativo dos alimentos foi pontual e pode ter sido influenciado pela redução do auxílio emergencial, assim como pelo desemprego . Apesar das contratações terem levemente aumentado, o mercado ainda não absorve a mão de obra disponível, o que impacta no consumo de forma geral.
"Isso nada altera o crescimento ascendente dos alimentos ao longo do ano, que foi positivo. Essa queda de setembro para outubro foi pontual, especialmente por causa da diminuição do consumo do açúcar e soja, que tiveram altas nos últimos meses. Mesmo assim, a alimentação está acima do patamar de fevereiro".
A alta dos preços das matérias-primas e a falta de insumos, porém, pode ser um gargalo na retomada.