Auxílio emergencial: R$ 42 bilhões foram gastos em fraudes, diz TCU

Tribunal também apontou para a ausência de estudos do governo sobre os efeitos da prorrogação do benefício, que agora deve ser diminuído

Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) estimou que os pagamentos indevidos do benefício podem chegar a R$ 42,1 bilhões
Foto: Fenae
Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) estimou que os pagamentos indevidos do benefício podem chegar a R$ 42,1 bilhões

Em meio a discussões sobre a prorrogação do  auxílio emergencial, uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) estimou que os pagamentos indevidos do benefício podem chegar a R$ 42,1 bilhões. O relatório deve ser votado nesta quarta-feira pelo plenário do tribunal.

Desse total  pago indevidamente em fraudes, R$ 23,7 bilhões foram para 6,4 milhões de pessoas que estariam recebendo sem ter direito. Os outros R$ 18,4 bilhões são de mães que foram indevidamente cadastradas como chefes de domicílio, o que garante o recebimento dobrado do benefício, de R$ 1,2 mil.

A análise do TCU se baseou nos dados da Pnad contínua de 2019 que mostrava que a quantidade de beneficiários elegíveis ao Auxílio Emergencial deveria ser de 60,5 milhões de pessoas. O  tribunal comparou esse número com os 66,9 milhões atualmente contemplados e estimou que 9,6% dessas pessoas não preenchem os requisitos mínimos.

Em uma projeção para o pagamento de cinco parcelas, o TCU estimou que os pagamentos indevidos nesse caso são da ordem de R$ 23,7 bilhões.

“É importante considerar que se trata de uma estimativa conservadora de possíveis inclusões indevidas, na medida em que reconhece ter havido queda de renda durante a pandemia, mas pressupõe que essa queda foi generalizada”, diz o relatório.

Na análise das mães chefes de família, o TCU comparou a estimativa de famílias que chefiadas por mães com os dados do governo sobre quem está recebendo o  auxílio emergencial sob essa condição.

A diferença encontrada pelo tribunal foi de 6,1 milhões de beneficiárias a mais do que o previsto. Isso significa, com o pagamento das cinco parcelas, um montante de R$ 18,4 milhões.

“As prováveis concessões indevidas de cotas duplas têm como causa a baixa integração e governança entre as bases de dados do governo associadas às dificuldades para a identificação da real composição familiar nos domicílios e a impossibilidade de se comprovar a existência ou não de uniões conjugais com a coabitação dos casais”.

A estimativa de  pagamento indevidos em fraudes pode ser ainda maior se considerar duas regras que apresentam dificuldade de verificação de cumprimento pelo governo, a renda per capita por família e o limite de dois membros por família.

Você viu?

O TCU calculou que o valor total de pagamento indevidos nessas duas regras pode ser de R$ 14,4 bilhões, mas ressaltou que é preciso ter cautela nesse cálculo.

“Constatou-se 8,5 milhões de domicílios com renda per capita acima de ½ salário mínimo receberam o auxílio emergencial. Contudo, esse dado deve ser analisado com cautela, pois há um critério de renda alternativa que adota a renda familiar total de três salários mínimos. Também foi possível calcular estimativa conservadora de que 4,8 milhões de pessoas receberam o auxílio descumprindo a regra de dois membros por família”.

Falta de estudos

O relatório também aponta que o governo para uma ausência de estudos técnicos dos impactos sociais e econômicos da prorrogação do auxílio emergencial. Segundo o TCU, esses estudos seriam “fundamentais” para informar a sociedade dos riscos e custos das decisões tomadas pelo governo.

“A decisão pela primeira prorrogação do auxílio no formato original teve como fundamento a continuidade da crise sanitária. Porém, não foi apresentado estudo sobre dados da pandemia que possam, por exemplo, oferecer cenários otimista, realista e pessimista sobre como a pandemia continuará impactando a atividade econômica. Como consequência, o ritmo de recuperação econômica poderá impactar na transição entre o auxílio emergencial e uma política permanente, efetiva e sustentável de proteção da renda”.

O TCU também alertou para os efeitos dos gastos extras causados pela pandemia no endividamento do país. Segundo o relatório, os créditos extraordinários abertos no valor de R$ 130 bilhões utilizaram como fonte a emissão de títulos de dívida, que deve ter um custo adicional de R$ 6,5 bilhões por ano.

“Considerando o desafio para equilibrar a proteção social necessária no período da crise e manutenção de padrões mínimos de responsabilidade fiscal, foram propostas recomendações ao Governo Federal para a elaboração de estudos integrados com cenários que abranjam evidências sanitárias, econômicas e sociais”.

Recomendações

O relatório sugere que o Ministério da Cidadania faça uma revisão mensal do benefício para verificar quem tem direito e quem não tem. O relatório destaca que mais de 2 milhões de pessoas entraram no mercado de trabalho formal no período da pandemia e, por conta disso, podem ter deixado de atender aos requisitos do auxílio.

Além dessa alteração, o relatório diz que o Ministério da Cidadania, responsável pelo programa, poderia melhorar os mecanismos de identificação da composição familiar de cada casa a fim de evitar pagamentos indevidos.

O relatório também estima que 3,3 milhões de pessoas que estão no Cadastro Único e fora do Bolsa Família atendem aos requisitos para receber o auxílio emergencial, mas não estão entre os beneficiários.