ONU propõe renda básica para 2,7 bilhões de pessoas de países em desenvolvimento
Benefício seria pago por seis meses, permitindo que as pessoas ficassem em casa durante a pandemia
Por Agência O Globo |
Uma renda básica temporária por seis meses para os 2,7 bilhões de pessoas mais pobres do mundo em 132 países em desenvolvimento pode ajudar a retardar a propagação do novo coronavírus (Sars-Cov-2), permitindo que a população fique em casa, de acordo com um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgado nesta quinta feira (23).
Um pagamento de seis meses para esses 2,7 bilhões de pessoas vivendo abaixo ou acima da linha de pobreza custaria cerca de US$ 199 bilhões por mês.
A Rússia, por exemplo, poderia elevar 48 milhões de pessoas acima da linha de pobreza do país por US$ 5,3 bilhões por mês, ou aproximadamente 0,12% do PIB. A Índia precisaria de US$ 18,4 bilhões para fazer o mesmo para 658 milhões de pessoas.
O relatório sugere três opções: complementação da renda média existente, transferências de montante fixo vinculadas a diferenças no padrão médio de vida em um país ou transferências uniformes de montante fixo independentemente de onde alguém more em um país.
"Tempos sem precedentes exigem medidas sociais e econômicas sem precedentes. A introdução de uma renda básica temporária para as pessoas mais pobres do mundo surgiu como uma opção", disse o administrador do Programa, Achim Steiner. "Os planos de resgate e recuperação não podem se concentrar apenas em grandes mercados e grandes empresas."
O plano exigiria 12% da resposta financeira total esperada à pandemia em 2020, o que equivale a um terço do que os países em desenvolvimento devem no pagamento da dívida externa este ano, disse o PNUD. O programa também poderia ser financiado por subsídios à energia, após uma queda nos preços do petróleo, e por meio de transferências emergenciais de dinheiro.
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O novo coronavírus infectou pelo menos 14,9 milhões de pessoas e houve mais de 618 mil mortes registradas em todo o mundo, de acordo com contagem da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A ONU alerta que a pandemia e a recessão global associada a ela poderiam desencadear um aumento da pobreza em todo o mundo pela primeira vez desde 1990 e levar 265 milhões de pessoas à beira da fome.
O relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento sugere que uma maneira de os países pagarem por uma renda básica temporária seria redirecionar bilhões de dólares que seriam gastos no pagamento de suas dívidas.
Em abril, o Grupo das 20 principais economias do mundo, o G20 , concordou em suspender o pagamento do serviço da dívida dos países mais pobres do mundo até o final do ano. No entanto, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que o alívio da dívida fosse oferecido a todos os países em desenvolvimento e de renda média.
A Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida do G20 se mostrou desafiadora de implementar, com apenas 42 dos 73 países elegíveis manifestando interesse até o momento, economizando apenas US$ 5,3 bilhões em pagamentos, em vez dos US$ 12 bilhões inicialmente prometidos.