Marcas investem em apps próprios de 'delivery' para reduzir custos
Grandes redes e pequenos empresários desenvolvem aplicativos. Com a centralização de pedidos, conhecem melhor o cliente e dominam a logística
Por Agência O Globo |
Passada a busca urgente no início da pandemia do novo coronavírus para adaptar o negócio ao delivery , empresários de pequenos negócios e grandes redes estão investindo no desenvolvimento de aplicativos personalizados e para entrega própria de suas marcas.
A tendência que vem ganhando força tem entre seus principais atrativos um custo operacional menor, em torno de 5% por pedido — contra os cerca de 20% nas grandes plataformas - controle na logística e, principalmente, acesso à base de clientes, o que consolida a marca e permite traçar novas estratégias de vendas.
Na nova realidade digital, em agosto, a rede de shoppings Ancar Ivanhoe
, em parceria com a Onyo, especializada em operações digitais de food service
, lança no Rio o aplicativo FoodStop.
Ele funcionará como uma espécie de praça de alimentação virtual em cada um dos shoppings: Rio Design Barra e Rio Design Leblon , Botafogo Praia , Boulevard , Nova América , Nova Iguaçu e Madureira .
O chefe de marketing da empresa, Diego Marcondes , explica que pelo aplicativo, já em operação em São Paulo , o cliente pode visualizar o tempo de preparo antes de fazer o pedido e pagar pelo smartphone, assim como decidir se vai buscar no balcão, no drive-trhu, receber na mesa do shopping ou em casa via delivery. Neste último, a logística é terceirizada, mas organizada por eles.
"Para o lojista, fica mais barato, pois ele paga uma taxa de, no máximo 5%, através deste aplicativo. Nada vai substituir a experiência de sentar em um restaurante, mas entendemos que cada vez mais o cliente vai se relacionar on e off com as empresas", afirma.
A rede de fast food de frango frito Hot N’ Tender também aposta em um aplicativo próprio como saída para que seus franqueados não dependam dos super aplicativos. O custo mensal é a partir de R$ 249.
O sócio-fundador Dany Levkovits lembra que em março o delivery representava de 5% a 10% das vendas, dependendo da loja.
O primeiro teste foi via WhatsApp em uma loja piloto no shopping Nova América . De abril para maio, porém, o número de pedidos dobrou, considerando todas as plataformas. Hoje, só a venda pelo app próprio corresponde a 50% do seu total.
Outra mudança no contato direto com o cliente foi o tipo de pedido. Diferentemente do balcão, onde os pratos individuais fazem mais sucesso, as pessoas aumentaram seu tíquete-médio de compra em casa. A partir disso, eles criaram os combos.
"Essa foi a nossa virada. O ouro do aplicativo próprio é o contato com o cliente, pois os grandes marketplaces não passam os dados. Conseguimos criar um sistema de fidelidade e de promoções mais direcionadas", diz Levkovits .
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Ele acrescenta:
"Mantemos as vendas por outros canais digitais nossos e de terceiros, que têm bases grandes de clientes, eles são importantes. O que mudou é que a soberania deles era a tecnologia, mas hoje está mais barato desenvolver o meu próprio marketplace", afirmou.
Segredo é na logística
O diretor de clientes e vendas do Grupo Trigo, Michel Jager , acrescenta que, além de conhecer o cliente, o pulo do gato é o domínio da logística. Com a expansão do delivery nos últimos meses, diz, o trajeto da comida até a casa do cliente se tornou uma área sensível e com falhas recorrentes.
O grupo, que detém as marcas Spoleto , Koni , Le Bonton e Gurumê , foi outro que fortaleceu os investimentos em tecnologia e plataformas próprias de e-commerce para suas marcas.
A exemplo da Koni, nas próximas semanas a Spoleto lançará um aplicativo próprio e as outras duas marcas devem seguir o mesmo caminho em breve.
Jager não revela o custo para ao franqueado, mas esclarece que cada um pode definir seus parceiros de logística. E, para não sobrecarregar o celular, não é necessário instalar o app, ele pode ser acessado pelo site também.
"Antes nós tínhamos o delivery, agora, somos o delivery . Isso muda a estratégia. Temos que ir até o cliente. Ter o aplicativo próprio tem um custo menor para nós e melhora a relação com o cliente. É claro que a ferramenta nunca está pronta, estamos em constante adaptação, mas há operação é mais barata", afirmou
Pequenos negócios
Operacionalizar por conta própria a venda digital não atraiu apenas as grandes redes. Em Laranjeiras e bairros vizinhos, um grupo de donos de bares, lanchonetes e restaurantes se uniram para ter um aplicativo gerenciado por eles.
No Mesa Local , os nove estabelecimentos têm acesso a base de clientes e acompanham de perto a entrega dos motoboys aos clientes.
A doceira e empresária Carolina Sales , conhecida por seus brigadeiros que levam o seu nome, tem quatro lojas no Rio e lançou mês passado seu próprio canal de vendas e entrega. O seu sócio e marido Rodrigo Sales, entretanto, explica que o motivo inicial foi reduzir os problemas na entrega:
"Sempre trabalhamos com entrega de encomendas, mas nunca nos interessamos pelos grandes aplicativos. Há dois anos testamos, mas usávamos pouco. Na pandemia é que eles se tornaram uma mão na roda. Colocamos toda a loja neles. Só que as taxas são muito altas. Ao mesmo tempo que tem um alcance bom pela quantidade de clientes cadastrados, cada pedido tinha cobrança de 12% a 20%. Além disso, começamos a ter muitos problemas nas entregas, então, fomos atrás de soluções", disse.
A saída encontrada foi criar o próprio aplicativo. Custou R$ 5 mil para implementar e tem as taxas mensais, que, segundo ele, são bem abaixo do que tinham que pagar para as gigantes do mercado quando o assunto é entrega de comida on-line.
Contudo, assim como as demais marcas, eles mantêm a empresa em outros aplicativos.
"Queremos que o cliente pudesse comprar, pagar e combinar a entrega tudo conosco. Hoje, consigo atender todo o Rio, pois reduzimos custos e o atendimento é personalizado. Isso ajuda nas estratégias futuras e a não aumentar o preço para o cliente", avalia Sales .