Isolamento não reduz desigualdade de gênero nos afazeres da casa e mulheres seguem com praticamente o dobro do trabalho doméstico
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Isolamento não reduz desigualdade de gênero nos afazeres da casa e mulheres seguem com praticamente o dobro do trabalho doméstico

A desigualdade na divisão sexual do trabalho doméstico no Brasil não cai há anos. A jornada da mulher nos serviços feitos em casa é 10h24m superior à do homem por semana, praticamente o dobro, revela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada nesta quinta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Desde 2016, quando o IBGE começou a investigar o tema pela nova Pnad, o tempo dedicado pelos homens ao trabalho doméstico se mantém em 11h, mas a diferença para as mulheres aumentou. Era de 9h54m em 2016 e subiu para 10h24m em 2019.

A soma do trabalho remunerado com o da casa feminino é maior em três horas à jornada masculina.

No momento em que parte da população está confinada em casa, e o trabalho doméstico e de cuidados ganha visibilidade, a pesquisa mostra que não se reduziu a diferença nesse serviço não remunerado. E a situação pode se agravar com o isolamento , sem escolas, apoio familiar,- já que avós e avôs estão isolados - e sem apoio profissional.

A coordenadora do curso de graduação de Fisioterapia da UFRJ, Ana Paula Fontana, viu o trabalho dobrar ou até triplicar, com dois filhos, um de 9 anos e outra de 6 anos, mais o trabalho doméstico e na universidade:

"A minha carga de trabalho dobrou, triplicou. Fico com o computador ligado, de olho no computador dela, o meu marido acompanha o mais velho, para não sair da atividade. Surge roupa não sabe de onde, numa hora estou passando o aspirador e na outra numa live com os alunos", relata.

Na divisão de trabalho com o marido , a maior parte fica com Ana Paula. Ela faz a faxina e cozinha e ele faz as compras:

"Mas a limpeza das compras é comigo. Não consegui uma equidade muito boa. Fico mais sobrecarregada", diz.

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Parcela menor de homens cozinha e lava louça

Segundo a pesquisadora responsável pela pesquisa do IBGE Alessandra Scalloni Brito, a “taxa de realização de serviços domésticos e o tempo dispendido estão estagnados”: "Não tem mudado ao longo do tempo", aponta.

No Brasil, 82,3 milhões de mulheres realizam afazeres domésticos, o que representa 92% da população feminina de 14 anos ou mais. Entre os homens, esse número cai para 63,7 milhões, ou 78,5% deles.

"Há muita diferença também entre as tarefas, principalmente em cozinhar, lavar e cuidar das roupas", afirma Alessandra.

Enquanto somente 62% dos homens cozinham e lavam louça, 93,5% das mulheres fazem o serviço. Quem cuida das roupas são elas, em 91,2%. Entre eles, a parcela cai para 54,6%. Somente em pequenos reparos, como conserto de eletrodomésticos, carro e casa, os homens são mais presentes.

Outra constatação da pesquisa é que a desigual divisão prevalece mesmo entre os filhos, o que acaba reproduzindo o padrão: 84,8% das filhas e enteadas trabalham em casa, contra 66,5% dos filhos e enteados.

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"Essa diferença entre filhos e filhas vai perpetuando esse padrão que se observa inclusive entre os mais jovens", afirma Alessandra.

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