Auxílio-doença: demora do INSS dificulta retorno de profissionais da saúde

Órgão substituiu temporariamente as perícias presenciais pelo envio de atestados médicos para comprovação do benefício

Perícia presencial nos postos do INSS está suspensa
Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Perícia presencial nos postos do INSS está suspensa

A demora na análise dos pedidos de auxílio-doença pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pode acabar tendo reflexos no atendimento em hospitais, em meio à pandemia do novo coronavírus . Isso porque, com os requerimentos em análise, os profissionais de empresas privadas, incluindo médicos e enfermeiros, têm dificuldades para retornar ao trabalho, mesmo que já estejam em condições para isso.

Leia também: Governo define regras para flexibilizar restrições de serviços não essenciais

No início de abril, o INSS substituiu temporariamente as  perícias presenciais pelo envio de atestados médicos para comprovação do auxílio-doença. Com isso, os segurados passariam a receber uma antecipação do benefício no valor de um salário mínimo mensal (R$ 1.045), por até três meses.

O problema, segundo o presidente do INSS, Leonardo Rolim, é que a criação de um novo sistema acabou gerando um atraso na análise desses atestados. Segundo ele, essa situação já foi resolvida e a expectativa é que na semana que vem os prazos já estejam "bem curtos".

Mas a demora criou uma situação em que alguns segurados já se curaram e precisam voltar a trabalhar, mas não conseguem, porque o pedido de auxílio-doença ainda está em análise no INSS.

Leia também: Cobertura de seguro de morte por pandemia foi aprovada no Senado

"A pessoa até pode voltar a trabalhar, mas não terá a comprovação de que está apta, então pode ser que a empresa não aceite", explica Rolim, alegando, porém, que o segurado não ficará desamparado, pois receberá o auxílio-doença durante o tempo que for determinado pelo médico no atestado que foi enviado ao INSS, mesmo que o segurado não apresente mais sintomas.

Para a advogada trabalhista Juliana Bracks, uma solução pode ser pedir ao médico que emitiu o primeiro atestado um outro comprovando que o profissional já está apto a voltar ao trabalho.

Você viu?

"É preciso que esse atestado seja bem conclusivo, avisando que o trabalhador não tem mais sintomas, e a expressão "apto" precisa constar nesse documento. Para a empresa, não há problemas em aceitar o funcionário com essa liberação médica. Até porque, caso ela não aceite e o INSS demore para pagar o auxílio, o empregado fica colocado em uma situação de limbo jurídico, em que não recebe salário nem da empresa, nem do INSS. E, nesse caso, a empregadora pode ser obrigada judicialmente a pagar o salário mesmo com o funcionário em casa", afirma.

O advogado trabalhista André Pessoa acrescenta ainda que, no caso do profissional afastado por Covid-19, é preciso apresentar o exame negativo para o vírus, para que ele trabalhe em funções presenciais, como o atendimento em hospitais.

Leia também: Pandemia ainda não impactou financeiramente planos de saúde, diz ANS

"As empresas estão corretas em não permitir o retorno do trabalhador, sem que haja um atestado médico comprovando que ele tem condições de voltar e um exame que ateste que ele está negativo para o coronavírus", avalia.

Liberação é automática após 30 dias

No caso do segurado que chegou a receber a antecipação do auxílio-doença, a liberação é automática após 30 dias, explicou o presidente do INSS.

"A antecipação é limitada a 30 dias. Após esse período, o segurado precisa pedir uma prorrogação, caso o atestado determine uma licença de maior tempo. Caso ele não peça essa prorrogação, o benefício é convertido automaticamente em auxílio-doença e é encerrado, permitindo que o empregado volte ao trabalho", disse Rolim.

Segundo ele, é possível emitir através do Meu INSS o comprovante de que o benefício foi extinto: "normalmente já é assim, o benefício é concedido com um prazo. Não precisa fazer uma segunda perícia, era assim há anos atrás, mas isso mudou".

Leia também: Crise é oportunidade para negócios em óleo e gás, diz Bento Albuquerque

Para Juliana Bracks, nesse caso o trabalhador ainda pode pedir um novo atestado médico comprovando sua capacidade para trabalhar e entregar à empresa junto ao documento do INSS que mostra que o benefício foi cessado.