Máscaras de proteção respiratória e álcool em gel esgotaram na maioria das prateleiras de farmácias paulistanas após anúncio do primeiro caso brasileiro de coronavírus confirmado na cidade, na manhã desta quarta-feira (26).
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O GLOBO esteve em várias unidades das três maiores redes do país — Grupo Raia/Drogasil, Drogaria São Paulo e Pague Menos — em bairros da Zona Sul da cidade. Em todas elas, os itens estavam em falta.
A escassez de álcool e máscaras preocupa principalmente aqueles que fazem parte dos grupos de risco da doença, como idosos.
"Já é a quarta farmácia que venho e não encontro. Na última, o vendedor disse que uma senhora levou tudo. É complicado, eu me preocupo. Vou voltar amanhã, assim que a farmácia abrir, para ver se encontro", contou Paulo Olímpio, de 72 anos, gestor de riscos e morador da Vila Mariana.
As máscaras faciais já estavam em falta na maioria dos estabelecimentos do país há cerca de um mês, desde que estouraram as notícias sobre o surto de coronavírus na cidade de Wuhan , na China.
De acordo com o Grupo DPSP (Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo), as vendas de máscaras e de álcool gel já tinham aumentado, respectivamente, 53,5% e 172% em fevereiro (até esta terça, dia 25) em relação ao mesmo período do ano passado.
O recorde no aumento foi registrado no Distrito Federal, onde a procura por máscaras e álcool em fevereiro quase triplicou (altas de 289,3% e 238,5%, respectivamente).
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Segundo o presidente executivo da Associação Brasileira de Redes de Farmácia e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto, o aumento repentino da demanda no Brasil e as restrições à exportação do produto pelo governo chinês são os principais responsáveis pela baixa oferta atual das máscaras no Brasil.
A maioria das máscaras do tipo são produzidas na China , epicentro do surto do vírus. Para proteger a população chinesa, o governo local determinou que as empresas do setor priorizassem o mercado interno. Assim, países como o Brasil sentem agora a falta de um produto que não é comumente produzido aqui.
"As máscaras sempre tiveram uma demanda baixa porque são usadas muito pontualmente aqui, por cuidadores de idosos ou profissionais da saúde, por exemplo. Houve falta, e reabastecemos dos fornecedores que ainda tinham, mas agora muitos já não têm mais", explica Barreto. "A produção nacional de álcool gel é muito maior, mais fácil de reabastecer. Se está em falta, é pontual e logo deve ser reposto".
Barreto descarta futuros aumentos especulativos dos preços dos itens pelo setor, mesmo que a demanda continue crescendo. Ainda segundo a Abrafarma, os relatórios de gripe recebidos sobre o inverno no hemisfério norte indicam que deve haver aumento no consumo de anti-gripais durante o inverno brasileiro.
"As farmácias trabalham com preços estabelecidos em fábrica e margens que respeitam determinações do governo. As alterações que poderão ser feitas serão nos volumes ofertados, não no preço", afirma. "Geralmente, quem especula nos preços de itens como as máscaras são pessoas que revendem produtos escassos em sites da internet", diz.
Procurada sobre a falta dos produtos em suas lojas, a rede Raia/Drogasil afirmou ao GLOBO que está fazendo o balanço das vendas dos itens em suas mais de 250 lojas. A rede não descarta a possibilidade que o esgotamento dos itens seja motivado pelo fato de o estoque inicial destes produtos já ser relativamente pequeno em suas lojas devido à baixa demanda usual.
O Grupo DPSP afirmou, em nota, que seu sistema de reposição de mercadoria é imediato e não foi identificada falta dos produtos em suas redes, embora a reportagem não tenha encontrado os produtos nas lojas visitadas na tarde desta quarta-feira.
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A rede de farmácias Pague Menos não divulgou balanço de vendas ou estoque e afirmou preferir se pronunciar através da Abrafarma, representante de todas as empresas citadas.