Os próximos doze meses não serão bons para a economia, ao menos no que depender do prognóstico dos executivos. Os resultados da 23ª edição da Pesquisa Global com CEOs, realizada pela PricewaterhouseCoopers (PwC) com 1.581 diretores executivos de 83 países, mostram recorde no pessimismo. Pela primeira, mais da metade (53%) dos entrevistados prevê desaceleração do crescimento econômico global, em contraste com o otimismo de dois anos atrás, quando apenas 5% apostavam na queda dos índices.
O relatório divulgado nesta segunda-feira (20), véspera da abertura do Fórum Econômico Mundial, destaca que o pessimismo contrasta com indicadores econômicos positivos, como a baixa recorde no desemprego nos países da OCDE, a alta confiança dos consumidores e o bom desempenho dos mercados financeiros. Mas mesmo com o cenário favorável, o crescimento está desacelerando. Também nesta segunda, o Fundo Monetário Internacional reduziu para 2,9% a previsão de crescimento global em 2019, o menor índice desde a crise de 2008.
Para os analistas da PwC, “o principal fator responsável pelas expectativas de declínio do crescimento do PIB está no que John Maynard Keynes descreveu como ‘espírito animal’ — os instintos humanos, as inclinações e emoções que influenciam a tomada de decisões financeiras em cenários de incertezas. E se houve um tema que se destacou nas respostas da pesquisa deste ano, e em manchetes de negócios, foi o sentimento elevado de incerteza”.
"Eu olho para o ritmo das mudanças; para a incerteza na geopolítica; para o deslocamento e rearranjo das cadeias globais de suprimento. Não há como alguém prever o que vai acontecer em 5 anos", afirma Spencer Fung, diretor executivo do grupo Li & Fung, baseado em Hong Kong, em entrevista aos pesquisadores. "As incertezas que vemos hoje são sem precedentes nos últimos 40 anos. Como resultado, elas estão retirando crescimento da economia global", completa.
Você viu?
O pessimismo afeta até mesmo as companhias dirigidas pelos executivos. Apenas 27% dos pesquisados disseram estar muito confiantes com o crescimento do faturamento neste ano, nível mais baixo desde 2009, ano seguinte da depressão, quando o percentual foi de 21%. Em 2018 e 2019, 42% e 35% dos executivos expressaram muita confiança.
As ameaças à economia variam de acordo com a região, mas na média global, os executivos apontam o excesso de regulação, os conflitos comerciais e a incerteza do crescimento econômico como os principais entraves. Na América do Norte, o maior temor é de ataques cibernéticos, enquanto na Ásia-Pacífico o que mais assusta são as guerras comerciais. No Oriente Médio, a maior ameaça é a incerteza geopolítica; na Europa Ocidental, a regulação; e, na América Latina, o populismo.
"Em nível global, tensões entre grandes potências geraram incertezas. Existem questões geopolíticas também. Algumas pessoas podem dizer que estamos numa tendência de desaceleração, especialmente em termos de demanda, o que nos afeta diretamente", avaliou Felipe Bayón, diretor executivo da Ecopetrol, na Colômbia. "O que isso significa? Que devemos ser eficientes para crescermos".
Mau humor também no Brasil
Entre os executivos brasileiros, apenas 19% apostam num cenário de aceleração do crescimento da economia global em 2020, enquanto 45% preveem desaceleração. Em relação aos seus próprios negócios, apenas 22% estão muito confiantes no aumento do faturamento, e 56% estão um pouco confiantes, somando 78%. No ano passado, na onda de otimismo do novo governo, os otimistas eram 95%.
Para viabilizar o aumento das receitas, 84% dos executivos brasileiros apostam no crescimento orgânico, com foco na inovação: 89% disseram que a principal estratégia será a melhoria da eficiência, 78% vão investir no lançamento de novos produtos ou serviços e 52% buscarão parcerias com outros empresários e start-ups.
"As empresas brasileiras precisam elevar sua produtividade para obter competitividade e sucesso em 2020 e nos próximos anos. A pesquisa serve como um indicativo do que elas deverão fazer para alcançar esse objetivo, considerando, por exemplo, investimentos em tecnologia e também na qualificação de seus colaboradores", comentou o sócio-presidente da PwC Brasil, Fernando Alves. "Esse é o desafio das empresas e também do Brasil".
Entre as preocupações, 50% dos entrevistados brasileiros citaram as incertezas quanto ao crescimento da economia e o peso dos impostos. O cenário tributado incerto é citado por 48%, seguido por excesso de regulamentação (47%) e inadequação de infraestrutura básica (47%). O populismo, considerado a maior ameaça para a América Latina, é temido por 42% dos executivos brasileiros.