Finlandeses são o povo mais feliz do mundo, segundo relatório das Nações Unidas
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Finlandeses são o povo mais feliz do mundo, segundo relatório das Nações Unidas

O mundo já está se acostumando com a ideia de que os países nórdicos estão entre os melhores lugares para se viver. Em março deste ano, a Finlândia alcançou o topo do ranking de países mais felizes do mundo pelo segundo ano consecutivo.

Os dados foram disponibilizados na edição 2019 do Relatório de Felicidade Mundial da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

Do s cinco primeiros países mais felizes , de acordo com o relatório, quatro são nórdicos, que constituem uma região entre a Europa setentrional e o Atlântico Norte.

A Finlândia , que liderou a tabela no ano passado, voltou ao topo, seguida pela Dinamarca, Noruega (líder em 2017) e Islândia. A Holanda se juntou a eles entre os cinco primeiros. Suíça, Suécia, Nova Zelândia, Canadá e Áustria completaram o top 10.

Mas dinheiro traz felicidade?

Dinheiro não é o principal fator para felicidade, aponta estudo
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Dinheiro não é o principal fator para felicidade, aponta estudo

Os autores do levantamento das Nações Unidas insistem que não se trata apenas de dinheiro, mesmo que os dez primeiros sejam todos países ricos.

O relatório, conduzido pela Gallup, empresa de pesquisa de opinião dos Estados Unidos, utiliza uma média móvel de três anos de respostas à pesquisa em torno de seis fatores já listados. 

Os autores dizem que ajudar os outros faz você se sentir melhor, mas somente se você optar por fazê-lo. Por exemplo, quase metade dos finlandeses doa regularmente para instituições de caridade e quase um terço disse que havia perdido tempo para se voluntariar para uma instituição de caridade no mês anterior.

Eles argumentam ainda que se felicidade só envolvesse dinheiro, quem deveria ocupar o primeiro lugar seria os Estados Unidos , país que tem o maior PIB do mundo. No relatório de 2019, os EUA chegaram ao número 19, abaixo dos 18 do ano passado. 

O economista Jeffrey Sachs, um dos autores do relatório, disse que o agravamento das condições de saúde e o declínio da confiança social e da confiança no governo estão deixando os norte-americanos menos felizes.

“Quaisquer benefícios de bem-estar decorrentes do aumento da renda nos EUA foram compensados ​​pelo crescente vício em jogos, uso de mídia social, videogame, compras e consumo de alimentos não saudáveis ​​que estavam causando infelicidade e até depressão ”, disse ele.

Felicidade ou qualidade de vida?

Para moradores da Finlândia pesquisa reflete qualidade de vida e não o bem-estar pessoal dos indivíduos
Divulgação/Rent a Finn
Para moradores da Finlândia pesquisa reflete qualidade de vida e não o bem-estar pessoal dos indivíduos

Mas, apesar dos países listados no topo do relatório serem os mais felizes, em muitos deles, o índice de suicídio ainda é muito alto. 

Um levantamento do do Conselho Nórdico de Ministros e o Instituto da Pesquisa da Felicidade, em Copenhague, indicou que a fama dos países nórdicos como uma utopia da felicidade acaba encobrindo problemas significativos de parte da população, sobretudo entre os mais jovens.

O relatório aponta ainda que alguns finlandeses afirmam que os fatores por trás de rankings de felicidade não refletem sua felicidade em si, mas sim sua qualidade de vida .  O argumento é que os fatores analisados não registram, de fato, a emoção da felicidade, que é subjetiva para cada indivíduo. 

Os pesquisadores analisaram dados coletados durante cinco anos , entre 2012 e 2016, para tentar construir um retrato mais fiel desses chamados "superpoderes da felicidade".

Eles descobriram que 12,3% da população que mora nos países nórdicos admitiram estar sofrendo ou tendo dificuldades; entre os jovens nórdicos, essa porcentagem é de 13,5%. 

Outra descoberta é que a saúde mental é uma das barreiras mais significativas para o bem-estar subjetivo. "Cada vez mais jovens estão se sentindo solitários e estressados, tendo distúrbios mentais", diz Michael Birkjaer, um dos autores do estudo.

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"Estamos vendo uma epidemia de problemas mentais e solidão alcançando as costas dos países nórdicos", complementou. 

Na Dinamarca, 18,3% das pessoas entre 16 e 24 anos afirmaram sofrer de problemas mentais; entre as mulheres nessa faixa etária, a proporção sobe para 23,8%. O relatório também identificou que, na Finlândia, o suicídio foi responsável por um terço de todas as mortes registradas nesse mesmo grupo etário. 

Os autores afirmam que nos países nórdicos os salários altos protegem as pessoas de admitir que estão sofrendo. Também indicam que as pessoas têm três vezes mais chance de falar um número baixo para o nível de felicidade se estão desempregadas, em especial os homens.

Eles se mostraram mais propensos que as mulheres a reportar um problema de saúde mental se não têm trabalho.  A pesquisa mostrou ainda que a falta de contato social é um problema maior para homens que para as mulheres nórdicas.

E existe fórmula para a felicidade?

Em entrevista ao jornal Deutsche Welle, o pesquisador Jan Delhey, da Universidade Otto von Guericke, na Alemanha, explicou que os itens usados para medir a felicidade de uma nação tem como objetivo identificar o nível de satisfação das pessoas com a vida que levam, de forma mais coletiva.

Delhey aponta ainda que a felicidade não se trata apenas dos ganhos econômicos. “Por muito tempo, se disse que, numa sociedade rica, a vida é necessariamente boa. E exatamente os Estados Unidos , em particular, nos mostram que esse não é o caso. O país está entre os mais ricos, mas tem uma carga incrível de problemas sociais".

Para o sociólogo, uma outra forma de mensurar a felicidade é a nível individual. A fórmula, desenvolvida por ele, considera três noções: Ter, Amar e Ser .

Jan Delhey argumenta que para cada pessoa esses quesitos têm valores diferentes, mas nenhuma pode ficar de fora, pois apenas com as três é possível alcançar um nível de satisfação pessoal.

“Um milionário que é solitário não marcaria a nota 10 da escala de satisfação com a vida. E, da mesma forma, quem só tem o mínimo para sobreviver pode ter uma vida familiar ótima, mas é improvável que marque um 9 ou 10”, conclui o especialista.

Como funciona a pesquisa e o Brasil

A pesquisa listou 156 países conforme fatores como PIB per capita, suporte social, expectativa de vida saudável, liberdade social, generosidade e ausência de corrupção, entre os anos de 2016 e 2018.

Entre as razões listadas pelo relatório que fazem da Finlândia o país mais feliz do mundo está a qualidade de sua educação, seu sistema de saúde, expectativa de vida e conscientização sobre a desigualdade.

A Finlândia, número 1 do ranking, também é um dos países com a menor diferença salarial entre homens e mulheres, de acordo com o último relatório do Fórum Econômico Mundial. Além disso, como a maioria dos países nórdicos, têm uma longa licença-paternidade que pode durar até seis meses. 

Um outro ponto citado é que os finlandeses estão no terceiro país do mundo em termos de qualidade do ar e o país com mais florestas na Europa.

Na América Latina, o país mais feliz é a Costa Rica, que ocupa a 12ª posição, seguida de México (23°), Chile (26°), Guatemala (27°) e Panamá (31°).

Já o Brasil caiu 16 posições no ranking global e ocupa a 32ª posição de 156 nações. A "nota" atribuída ao país pelo ranking é de 6.300, a menor média do país desde 2014, quando o país tinha 6.849 pontos.

Na lanterna do ranking, está o Sudão do Sul atrás da República Centro Africana, Afeganistão, Tanzânia, Ruanda, Iêmen, Malawi e Síria, que ocupam os últimos lugares.

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