Nos nove primeiros de 2019, o portal de defesa dos direitos dos consumidores ReclameAqui recebeu 13.755 reclamações só sobre crédito ou empréstimo consignado .
O número, segundo o site, representa um aumento de 32,4% na comparação com o mesmo período do ano passado.
A verdade é que todo aposentado, ou familiar de alguém que recebe aposentadoria, sabe que o assédio financeiro de empresas de crédito é grande.
Segundo o levantamento do ReclameAqui, os principais motivos de reclamações são a dificuldade de trocar de instituição financeira (portabilidade) e cobrança do empréstimos que não foram solicitados ou de taxas que não foram informadas na hora da contratação (cobrança indevida).
Além disso, as ligações insistentes com oferta de empréstimo, dificuldade em quitar ou negociar o pagamento, e cancelamento de cadastro são outras reclamações.
Telefone fixo desligado
Uma usuária do portal de 65 anos, aposentada, e moradora de Santa Catarina, relata que neste ano foi induzida ao erro. “Nunca procurei créditos por não precisar, mas um dia me ligaram se identificando de um banco e perguntando se eu e meu marido tínhamos um cartão do aposentado, que seria nosso direito", diz.
"Pediram para confirmar os meus dados e na confiança fiz, mas só depois de desligar me toquei que seria um crédito consignado e me arrependi de ter fornecido”, relata no ReclameAqui.
Ela conta que retornou a ligação e recusou, mas mesmo assim o cartão chegou. Apesar de não ter sido desbloqueado, ela ainda recebeu outra ligação de uma segunda pessoa afirmando que ela e o marido tinham um crédito depositado em conta.
“Enviaram a fatura, pagamos porque disseram que assim os valores seriam reembolsados. Reafirmei que não queria esse dinheiro e o valor não saía da conta. Até estornar, ameacei processar, tive que procurar acompanhamento com a gerente do meu banco para resolver da forma mais segura e não ter meu nome sujo por algo que eu não procurei”, explica.
Depois disso, a consumidora disse que passou a receber ligações todos os dias de financiadoras diferentes. “Tive que desligar meu telefone fixo em casa por não aguentar mais receber ligações de financiadoras dizendo que temos crédito liberado, é um assédio insuportável”, completa.
Mas quando o consignado vale a pena?
Segundo orientação do portal, em duas situações, o crédito consignado pode valer a pena.
Trocar a dívida
Os juros do crédito consignado são menores que o de outros serviços financeiros como o cartão de crédito e o cheque especial. Por isso, quando a pessoa já está endividada, fazer um empréstimo para pagar com taxas menores do que a da dívida atual, pode ser uma boa ideia.
Despesa inesperada
Quando surge uma despesa inesperada - e que realmente precisa ser feita - como gastos com saúde, educação, habitação, o crédito consignado é uma opção, também pelos juros menores
Mesmo assim, é importante avaliar bem na hora de contratar o empréstimo.
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“O ideal é que nada seja contratado na emoção, que se estude antes de contrair um empréstimo para saber se o orçamento vai suportar. Pesquisar a empresa, se ela é idônea, se a reputação é boa e se a taxa de juros está compatível”, orienta Ricardo Miragaia, especialista em gestão de empresas.
E quando não vale a pena?
Despesas supérfluas
Contratar empréstimos para consumo ou despesas recorrentes não é indicado. O ideal nesses casos, é rever hábitos e encaixar os gastos mensais na renda disponível.
Ajudar terceiros
Muitas vezes filhos, familiares ou amigos próximos que estão sem crédito no mercado, utilizam o crédito do beneficiário. Trata-se de uma prática abusiva e pode endividar quem não precisaria utilizar o consignado.
Cuidado com as armadilhas
Vale lembrar que os golpes financeiros e os assaltos na saída dos bancos acontecem com mais freqüência no caso de idosos. Por isso, o ReclameAqui dá dicas para evitar armadilhas.
Como se livrar de uma situação de abuso?
Em primeiro lugar, quem está recebendo propostas insistentes não deve ter receio de buscar ajuda. “No caso de idosos, que podem cair em armadilhas por não entender o assunto e contratam sem compreender, comprometendo a renda por falta de orientação, o ideal é ir acompanhado de alguém de sua confiança”, alerta Miragaia.
Segundo ele, um cidadão, aposentado ou não, que se deparar com o nome envolvido em contratação de consignado sem autorização ou que não tenha consciência disso, “deve procurar seus direitos, buscar um profissional para que garanta por meios legais a restituição do crédito e a garantia do sigilo de dados pessoais e bancários”, diz.
Um usuário do ReclameAqui de Curitiba conta que foi vítima de uma proposta enganosa . Ele explica que em agosto deste ano recebeu o contato de uma instituição financeira e aceitou a proposta de um cartão de crédito.
Com a demora da chegada do cartão, entrou em contato com a empresa no mês de setembro e descobriu que junto do cartão vinha um crédito consignado que não havia sido autorizado.
“O empréstimo aparece no meu cadastro de pensionista do INSS desde 18/09 , sendo que não recebi cartão e nem créditos. Já fiz o cancelamento, mas não consigo mais contato e nem retorno sobre ele. Preciso urgente que a instituição proceda com o cancelamento e estorno do valor. Caso contrário, estarei buscando as vias judiciais para resolver essa situação”, relata.
Além de canais on-line de defesa do consumidor, como o próprio ReclameAqui, o Ministério Público e a Defensoria dos Estados têm canais de denúncia de abuso financeiro contra idosos. O disque 100, ligado a Secretaria dos Direitos Humanos do Governo Federal (SDH) recebe denúncias de violência contra idosos, incluindo violência financeira.