Horas após desembarcar na China, neste domingo (19), para reabrir o canal de cooperação com o Brasil, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o Brasil está aberto a participar da nova Rota da Seda , como vem sendo chamado o megaprojeto de infraestrutura implementado pelo governo chinês, no qual já foram investidos cerca de US$ 200 bilhões.
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Anunciada em 2013, a Iniciativa do Cinturão e Rota
, em seu nome oficial, é considerada o mais ambicioso programa de infraestrutura, com estimativa de chegar a US$ 1 trilhão em investimentos ao longo da próxima década.
Segundo o governo chinê s, 115 países já assinaram acordos para participar do projeto, destinado originalmente a promover rotas comercias entre Àsia, África e Europa, com investimentos em obras de infraestrutura como portos e ferrovias. A América Latina também entrou na mira: segundo o governo chinês, 19 países da região também aderiram à iniciativa, sendo Peru o mais recente.
“É óbvio que nós acompanhamos com expectativa o que vem a ser isso, e estamos abertos a propostas de investimentos em infraestrutura, que é o que nos interessa”, afirma Mourão ao GLOBO, em Pequim.
A iniciativa é vista com desconfiança por vários países, principalmente os EUA. A expansão para a América Latina tende a aumentar, em Washington, a visão de que o programa econômico é apenas um veículo para ampliar o peso geopolítico de Pequim.
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Embora seja considerado inevitável que o projeto seja discutido com Mourão em seus encontros com membros do governo chinês, incluindo o presidente Xi Jinping, não há previsão de que seja assinado um acordo durante sua visita ao país.
A viagem do vice-presidente à China representa uma retomada das relações bilaterais, depois de uma campanha eleitoral marcada por críticas de Jair Bolsonaro à crescente presença do país asiático na economia brasileira. Em um de seus ataques mais duros, o então presidenciável disse que a China estava “comprando o Brasil”.
O vice-presidente foi à China para retomar a Comissão Sino-Brasileira de Alto nível de Concertação (Cosban), principal mecanismo permanente de diálogo entre os dois países, cuja reunião ocorrerá no próximo dia 23, em Pequim. De acordo com Mourão, o objetivo é “normalizar” a relação entre os dois países e preparar uma visita de Bolsonaro ao país asiático.
“Desde o final do ano passado, depois que nós fomos eleitos, o presidente tinha me orientado a retomar o mecanismo da Cosban, que estava parado havia quatro anos, como uma primeira fase preparatória para a visita que ele faria aqui na China. Eu estou trazendo uma carta pessoal dele para o presidente Xi Jinping. Estamos com propostas para a renovação da Cosban, para que ela seja mais eficiente, para que dê uma normalizada no relacionamento que nós temos”, fala.
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A chegada do vice-presidente em Pequim acontece em meio à guerra comercial entre Estados Unidos e China, os dois maiores parceiros comerciais do Brasil, e a preocupações de que esta cause sérios danos para a economia mundial. Para Mourão, não cabe ao Brasil escolher um dos lados.
“O Brasil se coloca numa posição equidistante, nós temos de estar num dispositivo de expectativa em relação a isso, até naquilo que nós pudermos fazer para minorar isso aí, porque essa guerra não será boa para o mundo como um todo. O mundo hoje depende muito da China como um motor da economia mundial”, diz Mourão .
Há dez anos, a China superou os EUA e tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil. No ano passado, o comércio bilateral chegou a US$ 98,9 bilhões, sendo US$ 64,2 bilhões em exportações e US$ 34,7 bilhões em importações. Enquanto a grande maioria das exportações brasileiras se resume a matérias-primas, como soja, minério de ferro e combustíveis, a China vende ao Brasil principalmente produtos manufaturados.