Um grupo desenadores se organiza para tentar convencer o STF (Supremo Tribunal Federal) a reverter a decisão tomada em 2017 que proibiu a produção e o uso de qualquer tipo de amianto no Brasil. Com o argumento de que a decisão prejudica a economia e foi tomada sem base científica, os parlamentares querem que a Corte autorize a exportação do amianto.
No último sábado (27), uma comitiva que contou com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), visitou a mina Sama, da empresa Eternit, que fica em Minaçu (GO) e está com atividades paralisadas desde fevereiro. A visita foi proposta pelo senador Vanderlan Cardoso (PP-GO). Também participaram Luiz do Carmo (MDB-GO) e Chico Rodrigues (DEM-RR).
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Vanderlan afirma que houve um “equívoco” do STF, já que o amianto crisotila, o último tipo a ser proibido no País, não seria cancerígeno. "Eles não fizeram nenhum estudo aprofundado com relação ao amianto de crisotila. O que se pede hoje é que abra para exportação, continue só exportando, ou então que se dê um prazo para que a cidade se ajuste. Considero um dos maiores equívocos que o Supremo cometeu nos últimos anos", avaliou.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que todos os tipos de amianto são cancerígenos , podendo causar câncer no pulmão, na laringe e no ovário. Sessenta e seis países já haviam proibido o produto até outubro do ano passado, incluindo todos os integrantes da União Europeia e países sul-americanos como a Argentina, o Chile e o Uruguai.
Para Fernanda Giannasi, auditora fiscal do trabalho aposentada e uma das fundadoras da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), não faz sentido permitir apenas a exportação, porque isso significaria expor trabalhadores brasileiros e a população de outros países aos riscos trazidos pelo produto.
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"A Abrea é terminantemente contra a exportação do amianto, porque o que nós não queremos para nós não podemos permitir que aconteça com outros. E manter a exportação é manter trabalhadores ainda explorando o minério, participando de toda a cadeia produtiva", explica a especialista.
Proibição
A decisão do STF foi tomada em novembro de 2017. No mês seguinte, no entanto, a relatora do caso, ministra Rosa Weber, concedeu uma liminar permitindo que estados que não tinham leis proibindo o amianto continuassem a produzir até a publicação do acórdão do julgamento, o que ocorreu em fevereiro. A Sama paralisou as atividades em seguida.
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Após a publicação do acórdão, foram apresentados embargos de declaração (uma espécie de recurso), com o pedido de que os efeitos da decisão sejam novamente suspensos até que os embargos sejam analisados. Rosa Weber pediu o posicionamento da procuradora-geral da República, Raquel Dodge , mas ela não se manifestou até o momento.
Tanto parlamentares quanto representantes da Abrea participaram nas últimas semanas de reuniões no STF e na PGR para tentar influenciar os rumos do julgamento. Além disso, recentemente a Sama e o estado de Goiás foram incluídos como amicus curiae na ação, ou seja, ganharam o direito de se manifestar no processo.
A Sama está com atividades paralisadas desde o dia 11 de fevereiro. No dia 15 de abril, concedeu licença não remunerada de 30 dias para os funcionários. A empresa tem cerca de 400 empregados diretos e 2 mil indiretos. Caso não haja uma mudança até o dia 15 de maio, a empresa informa que “irá definir os próximos passos em conjunto com os trabalhadores e o sindicato”.
Em nota, a Eternit afirmou que espera que o STF faça uma diferenciação entre a comercialização e a exportação do amianto ou que determine um prazo de 10 anos para o fechamento da mina. De acordo com a empresa, a produção da Sama já estava inteiramente direcionada à exportação desde o início do ano.
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A nota ainda diz que a Sama “vem atuando, ao longo dos seus 50 anos de operação, de acordo com as normas e leis que regem o setor, com sistemas de controle e equipamentos que garantem que seus colaboradores trabalhem em ambiente seguro e livre da exposição à fibra mineral crisotila , eliminando riscos”.