Os ruralistas manifestaram preocupação quanto ao posicionamento do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sobre a relação comercial entre Brasil e China. As críticas foram expostas em uma carta enviada Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), também chamada de bancada ruralista, e assinada por associações que integram o Instituto Pensar Agro. O conteúdo da carta foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo .
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“A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) gostaria de externar a sua preocupação em relação às supostas declarações reproduzidas pelo noticiário nacional, nas quais teriam sido feitas afirmações no sentido de diminuir a importância das relações comerciais entre Brasil e China”, diz a carta dos ruralistas .
O documento se refere às declarações de Araújo feitas na semana passada, durante uma aula magna para alunos do Instituto Rio Branco. As relações diplomáticas entre Brasil e China foram um dos tópicos comentados pelo ministro. “Queremos vender, por exemplo, soja e minério de ferro, mas nós não vamos vender a nossa alma. Isso é um princípio claro que temos muito presente”, afirmou.
A carta, porém, destaca que os chineses são o principal parceiro comercial do País há dez anos. “O desenvolvimento da economia chinesa tem elevado as demandas dos produtos agrícolas brasileiros”, dizem os ruralistas, lembrando que o Brasil tem superávit de US$ 32 bilhões com a China e que os produtos nacionais mais exportados são soja, celulose e carne bovina.
O documento, por fim, defende o estabelecimento de uma agenda pautada no pragmatismo econômico, medida considerada "o único caminho possível para quem vislumbra o crescimento econômico”. “Reiteramos nossa confiança em vossa capacidade para trilhar esse caminho, com a sensibilidade de que o agronegócio brasileiro não pode abrir mão de seus principais parceiros estratégicos”, finaliza.
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O presidente da FPA, deputado Alceu Moreira (MDB), decidiu não entregar a manifestação ao chanceler, principalmente agora que Tereza Cristina, ministra da Agricultura, anunciou que deve visitar a China. Ao Estadão , por meio de sua assessoria, o parlamentar informou que fará uma visita oficial a Araújo para apresentar as demandas e queixas dos ruralistas.
Guedes é pragmático
Acompanhando o presidente Jair Bolsonaro (PSL) em viagem oficial a Washington, nos Estados Unidos, o ministro da Economia, Paulo Guedes , garantiu que o Brasil não vai se intrometer na guerra comercial entre China e Estados Unidos , que já se arrasta há quase um ano. O recado foi dado durante uma reunião com investidores e empresários na Câmara de Comércio norte-americana nessa segunda-feira (18).
“Como disse o ministro Ernesto Araújo [Relações Exteriores], somos um país do Ocidente, somos uma democracia e sabemos quem nos inspira. Sabe quem tem mais investimento direto aqui nos EUA? Os chineses. Então por que não podemos fazer comércio com a China e deixar que eles invistam no Brasil, em ferrovias para transportar nossa soja?”, questionou o ministro.
O tópico preocupa autoridades brasileiras porque, desde o início da guerra comercial, os EUA vêm pressionando diversos países do mundo – incluindo o Brasil – a reduzir seus laços com a China e proibir a compra de equipamentos da Huawei, uma empresa chinesa recentemente acusada de espionagem e considerada, pelos EUA, uma ameaça a sua segurança.
No governo brasileiro, porém, as discordâncias ultrapassam o âmbito político-econômico e chegam ao campo ideológico. A ala mais ligada ao ministro Araújo e ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), por exemplo, exerga a China comunista como uma ameaça ao conservadorismo do governo. Os ruralistas e a equipe econômica, ao contrário, entendem a importância da manutenção das relações com o país asiático.
Em 2018, segundo o Ministério da Economia , a China foi o principal comprador do Brasil, sendo responsável por 26,8% (US$ 64,205 bilhões) de todas as exportações. Os chineses também ocupam a primeira posição no ranking de importações: no ano passado, as compras somaram US$ 34,730 bilhões e corresponderam a 19,2% do total. Só em janeiro e fevereiro deste ano já foram US$ 8,320 bilhões em exportações e US$ 7,703 bilhões em importações.