"Prometer reduzir a carga tributária é populismo", diz economista de Alckmin
Pérsio Arida afirma que é contra o aumento da carga tributária "por filosofia", mas defende revisão das isenções fiscais e transição para o IVA
Por Breno França | - Brasil Econômico |
O economista da campanha de Geraldo Alckmin, Pérsio Arida, participou nesta sexta-feira (21) da sabatina "Os Economistas das Eleições" promovida pelo Estadão e pelo FGV Ibre e criticou adversários que, segundo eles, fazem propostas populistas e irresponsáveis durante a campanha.
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Integrante do governo de Fernando Henrique Cardoso e responsável pelas principais propostas econômicas de Geraldo Alckmin nas eleições 2018, Pérsio afirmou ser contra o aumento da carga tributária "por filosofia", mas afirmou que quem promete reduzi-la está sendo populista.
"A carga tributária brasileira além de muito alta é complexa. Eu gostaria de prometer que vamos diminui-la, mas no cenário atual isso não é possível", afirmou antes de continuar "o que nós vamos fazer é simplificá-la".
Para isso, o economista defendeu fazer uma Reforma Tributária para implementar o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) que, segundo ele, vai substituir os vários impostos gradativamente. Pérsio Arida falou em uma transição "rápida" já que "o Brasil tem pressa", mas admitiu que a ideia vai levar entre cinco e seis anos para ser implementada.
"Assim como nós fizemos com o Plano Real, é preciso anunciar antes como faremos depois para que os investimento feitos hoje já sejam feitos da forma correta", afirmou e continuou explicando, "nós queremos anunciar ano a ano quais são as metas da Reforma Tributária para que possamos reduzir outros impostos na mesma proporção que introduzimos o IVA até que no final de cinco ou seis anos tenhamos o imposto único implementado, sem aumentar a arrecadação e sem prejudicar investidores, estados e municípios".
Porém, também em relação à Reforma Tributária, o chefe da equipe econômica de Geraldo Alckmin defendeu uma revisão das isenções fiscais concedidas pelo governo federal atualmente que correspondem a 4% do PIB, o que na prática vai aumentar a arrecadação do governo no curto prazo.
Na sequência, Pérsio voltou a atacar o populismo quando criticou a proposta de Ciro Gomes de tirar o nome das pessoas do SPC. "Se você fizer uma anistia dos endividados hoje, amanhã você aumenta o spread bancário porque os bancos vão entender como um incentivo ao endividamento e vão pensar 'se fez um [refinanciamento] agora, vai fazer outro no futuro de novo'. Essa proposta 'colou', eu reconheço, porque é populista, mas nós não vamos ser irresponsáveis na campanha", afirmou.
Na contramão, o especialista afirmou que num eventual governo de Geraldo Alckmin, "não vai ter Refis, nem anistia", voltou a falar sobre passar um pente-fino nas isenções fiscais concecidas pelo governo e afirmou que só vai manter os créditos subsidiados - como os concedidos para a agricultura familiar - que forem incluídos no orçamento.
Economista de Geraldo Alckmin critica "guru" econômico de Jair Bolsonaro
Ciro Gomes, porém, não foi o único a ter suas propostas criticadas pelo principal responsável pelo plano econômico apresentado pelo ex-governador de São Paulo. Em diversas vezes, Pérsio Arida criticou as proposta de Paulo Guedes, o "guru" econômico do presidenciável Jair Bolsonaro.
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Para Pérsio, cogitar a volta de um tributo parecido com a CPMF, um imposto sobre movimentações financeiras que vigorou no Brasil até 2007, como fez Paulo Guedes nessa semana, é um grande erro.
"Se a CPMF fosse boa, o resto do mundo já teria feito. Eu ouço falar da CPMF desde 1990 e até hoje nenhum outro país no mundo aderiu a essa ideia. Nós precisamos importar as melhores práticas internacionais para que sejamos competitivos, não ficar voltando ao passado", explanou e completou "além de tudo, é um imposto regressivo que onera os mais pobres já que eles pagam enquanto os ricos fazem suas transações financeiras no exterior".
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O representante de Alckmin também comentou o recuo da campanha de Bolsonaro após a repercussão. "Apesar do Bolsonaro falar que quem vai mandar na economia é o Paulo Guedes, no primeiro conflito ele já foi correndo confrontá-lo. Se ele, como candidato, já é quem está tomando as decisões, imagina quando for presidente", afirmou antes de comparar "é por isso que o Brasil precisa de um presidente que entenda de economia e que tenha a habilidade política para fazer as mudanças necessárias".
Economista do PSDB defende privatizações e controle do déficit público
Pérsio Arida também fez questão de mostrar as contradições na campanha de Jair Bolsonaro em relação ao controle do déficit público e às privatizações. Segundo ele, apesar de Paulo Guedes defender a privatização de todas as estatais e estimar uma arrecadação R$ 2 trilhões que ajudaria a zerar o déficit das contas do governo, Bolsonaro já mostrou que não será bem assim.
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"Quem trabalha com setor público sabe que privatização demora. Além disso, Paulo Guedes já falou que arrecadaria R$ 2 trilhões com as privatizações, agora já mudou para R$ 1 trilhão e eu digo que, nem se ele privatizar tudo que o Bolsonaro falou que não vai privatizar (como a Caixa Econômica, o Banco do Brasil e a Petrobras), ele vai conseguir", afirmou.
A questão das privatizações, por sua vez, foi uma das mais sensíveis abordadas por Pérsio Arida na sabantina de hoje. Após defender a privatização apenas do setor de refino e de distribuição da Petrobras e manter o Banco do Brasil como está, Pérsio se recusou a responder sobre o que faria com a Caixa Econômica mesmo diante da insistência dos entrevistadores.
Enquanto isso, sobre o controle do déficit público, Pérsio Arida afirmou que o compromisso da equipe econômica de um eventual governo Alckmin é zerar o déficit em dois anos. "Eu gostaria de prometer isso já para o primeiro ano de mandato, mas a ideia de fazer isso já em 2019 parece inexequível já que a Lei Orçamentária Anual (LOA) do ano que vem já foi aprovada e prevê déficit e as reformas que queremos fazer tomam um certo tempo para serem aprovadas e mostrarem resultados", explicou.
Propostas para Banco Central, geração de empregos e Reforma da Previdência
Já sobre a Reforma da Previdência, o economista da campanha do PSDB à Presidência afirmou novamente que a proposta de mudança do regime atual de Repartição para o regime de Capitalização é inviável no atual momento. Ele chegou a desafiar as campanhas que defendem a mudança a mostrarem como essa transição vai ser paga sem piorar o rombo nas contas do governo no curto prazo.
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Para Pérsio Arida, o que se deve fazer atualmente é um ajuste no sistema de Repartição para que só quando o Brasil volte a ter um superávit primário robusto possa discutir uma mudança de regime. "Eu até gostaria que nós pudéssemos estar discutindo uma possível mudança no final do governo Alckmin porque isso significaria que estamos com um grande superávit, mas falar de fazer isso agora sem mostrar pras pessoas que o problema se agrava no curto prazo é, novamente, oportunismo eleitoral", criticou sem explicar quais seriam os parâmetros da sua própria proposta.
Já sobre o Banco Central, Pérsio Arida lembrou que Alckmin já prometeu manter o atual presidente Ilan Goldfajn e sua diretoria no comando da instituição e defendeu um mandato fixo de quatro anos e alternado com o do presidente da República para dar ainda mais autonomia ao Banco Central.
Sobre a nova política de reajuste do salário mínimo, Pérsio se limitou a dizer que o salário mínimo deve aumentar de acordo com a produtividade da economia nacional e que essa política deve desatrelar o valor do salário mínimo ao de outros benefícios como a aposentadoria e o seguro desemprego que na verdade, segundo ele, limita o crescimento do salário.
Quando questionado sobre a política de preços de combustível da Petrobras e sobre os subsídios dados pelo governo para reter o aumento do preço do diesel como foi pleiteado durante a greve dos caminhoneiros, Pérsio foi enfático "o subsídio precisa acabar. Não tem discussão. O que deve ser discutido é o critério de reajuste do combustível", afirmou o economista antes de defender que a política de reajuste seja suavizada sem especificar exatamente como.
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Por fim, o economista da campanha de Geraldo Alckmin também defendeu uma Reforma do Estado e a implementação de "critérios de meritocracia no setor público", após defender que a estabilidade concedida nos empregos públicos devem ser mantidas para determinados cargos, mas não para outros que devem "performar", além de rever as progressões automáticas de carreiras e a distribuição de bônus que, na verdade, são para todos e não apenas para aqueles que desempenham um bom trabalho.