Confiança do consumidor registra alta de 3,47%, mas ainda seguem abaixo do patamar de 50 pontos que marca transição entre pessimismo e confiança
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Confiança do consumidor registra alta de 3,47%, mas ainda seguem abaixo do patamar de 50 pontos que marca transição entre pessimismo e confiança

Os efeitos negativos da greve dos caminhoneiros na economia começam a perder força. Dados da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revelam que o Indicador de Confiança do Consumidor (ICC) registrou crescimento de 3,47% pela segunda vez consecutiva em agosto na comparação com o mês anterior.

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O índice atingiu 42,4 pontos ante 41,0 pontos em julho, o que signifca que, embora os resultados mostrem um pequeno avanço na confiança do consumidor , o indicador não superou os 50 pontos que, segundo a metodologia, apontam a diferença entre o sentimento de confiança e de pessimismo dos consumidores.

O que abala ou aumenta a confiança do consumidor?

Confiança do consumidor leva em consideração a percepção dos consumidores a respeito do momento atual e futuro da economia nacional
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Confiança do consumidor leva em consideração a percepção dos consumidores a respeito do momento atual e futuro da economia nacional

De acordo com a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, as incertezas do cenário eleitoral somadas à tímida recuperação da economia seguem afetando a confiança dos brasileiros, mesmo com a melhora do indicador no último mês. “O desemprego e a renda são variáveis essenciais na formação da confiança, mas dependem de um ritmo mais vigoroso de avanço da atividade econômica", explica a economista.

No geral, a maioria dos indicadores econômicos estão mostrando uma melhora singela que representa que, talvez, o pior da crise já tenha passado, mas a recuperação está muito abaixo do ritmo esperado. No caso do desemprego, por exemplo, segundo o levantamento mais recente desenvolvido pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mais de  392 mil vagas de trabalho foram abertas no primeiro semestre deste ano, enquanto que, no mesmo período do ano passado, o saldo foi de 71 mil vagas.

No entanto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego caiu de 12,9% para 12,3% na comparação do trimestre de maio a julho, em comparação com o que vai de fevereiro a abril, mas ainda existem 12,9 milhões de pessoas desempregadas no País.

Dessa forma, a retomada tímida dos empregos não gera confiança e retém os gastos dos consumidores nos setores de serviço e comércio já que não há segurança de que os empregos serão mantidos ou melhorados num futuro próximo.

Prova disso é que, também segundo o IBGE, o  volume de serviços prestados caiu 2,2% em julho em relação ao mês anterior. Enquanto que as  vendas do comércio varejista recuaram 0,5% na passagem de junho para julho deste ano de forma a fazer o setor registrar a terceira queda mensal consecutiva no indicador, que acumula perda de 2,3% no período.

Para entender melhor essa explicação é preciso levar em consideração que o Indicador de Confiança do Consumidor é composto por outros dois subindicadores: o de Percepção do Cenário Atual e o de Expectativas para o Futuro.

Em agosto, o primeiro obteve a marca de 29,8 pontos, enquanto o segundo pontuou 55,0, mantendo-se acima dos 50 pontos desde o início da série, exceto em junho deste ano, quando chegou a 48,6 como resultado da influência da greve dos caminhoneiros que afetou a economia do País.

Em termos percentuais, a sondagem revela que 81% dos consumidores consideram ruim o desempenho da economia no momento atual. Outros 17% acham o cenário regular e apenas 1% avaliam que o quadro é bom. A principal queixa entre os que fazem uma avaliação negativa do cenário econômico é o desemprego, mencionado por 73% desses consumidores. Em seguida, aparecem a percepção de que os preços estão elevados (58%) e as altas taxas de juros (36%).

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Esse pessimismo também impacta a própria vida financeira dos brasileiros: 41% consideram sua situação financeira ruim. Já 49% afirmam que as finanças se mantêm regular e 10% dizem que estão boas.

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Para os que que mencionaram enfrentar aperto, o elevado custo de vida é o principal motivo para essa percepção negativa, citado por metade desses consumidores (50%). Entre outras razões apontadas estão, novamente, o desemprego (43%), a queda da renda familiar (27%), a perda de controle financeiro (10%) e os imprevistos (10%).

Já para os poucos que enxergam o momento atual de sua vida financeira como bom ou ótimo, o controle das finanças teve papel fundamental — mencionado por 65%. Também foram citados aspectos, como posse de uma reserva financeira (22%), aumento dos rendimentos (19%), aumento da renda familiar (16%) e conquista recente de um novo emprego (9%).

“A crise impactou a renda dos brasileiros, que vivenciam uma situação difícil, mas ela não é a única responsável pelos problemas financeiros da população. A falta de controle dos gastos, sobretudo em momentos adversos, pode piorar ainda mais o orçamento e levar ao agravamento da inadimplência”, pondera Kawauti.

Segundo um outro levantamento do próprio SPC e da CNDL, em agosto, a inadimplência voltou a subir em todo o País. O número de  consumidores com contas em atraso aumentou 3,63% em comparação com o mesmo período do ano passado. Dessa forma, agosto foi o 11º mês seguido em que o nível de inadimplência dos brasileiros registrou alta.

Em números absolutos, estima-se que aproximadamente 62,9 milhões de consumidores - ou 41% da população adulta - estejam negativados e enfrentando dificuldades para controlar empréstimos, obter financiamentos ou realizar compras parceladas.

Mas vale fazer uma ressalva: se na comparação anual houve um aumento no número de brasileiros com contas atrasadas , na comparação mensal o índice apresentou uma ligeira queda.

De julho a agosto deste ano, sem ajuste sazonal, a quantidade de pessoas inadimplentes diminuiu 0,71%, o que parece ser a única boa notícia do levantamento ainda que o valor possa ser considerado apenas residual, ou seja, não signifique uma mudança significativa.

O que os consumidores esperam do futuro da economia?

Confiança do consumidor está sendo retomada pouco a pouco, mas 35% ainda está pessimista com relação às perspectivas econômicas para a economia nos próximos seis meses
Agência Brasil/EBC
Confiança do consumidor está sendo retomada pouco a pouco, mas 35% ainda está pessimista com relação às perspectivas econômicas para a economia nos próximos seis meses

Quando questionados sobre as perspectivas para a economia nos próximos seis meses, 35% dos consumidores mostraram pessimismo e 42% disseram não estar nem otimista nem pessimista. Apenas 18% afirmaram estar otimistas. Já entre os mais incrédulos, 57% ressaltaram que a corrupção é o principal motivo da expectativa negativa de recuperação do cenário econômico.

O clima de otimismo é melhor ao avaliarem sobre o que esperam para o futuro da própria vida financeira. A sondagem revela que mais da metade (58%) tem boas expectativas para os próximos meses. Os pessimistas, por sua vez, somaram 8%, enquanto 29% não têm expectativas nem boas nem ruins.

A sondagem também chama a atenção para o custo de vida, apontado por 49% dos entrevistados como o principal peso sobre o orçamento familiar. O endividamento é um fator que se destaca, mencionado por 17%, seguido do desemprego e a queda dos rendimentos mensais (10%). Essa percepção sobre o custo de vida reflete, mesmo com a queda da inflação, a perda de renda real durante o período mais agudo da crise.

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Sobre evolução de preços, 92% notaram aumento das contas de luz na comparação entre agosto e julho. Para 90%, a alta foi percebida no valor dos produtos vendidos nos supermercados e 86% viram os preços dos combustíveis dispararem. Na sequência, aparecem os itens de vestuário (70%), bares e restaurantes (68%) e telefonia (65%) que também tem influência sobre a confiança do consumidor atual e futura.

*Com informações da CNDL/SPC Brasil

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