Nelson Mandela – cujo centenário será comemorado nesta semana – dizia que "a diferença que fizemos nas vidas dos outros é o que determina a importância da nossa própria vida". Frente a esse pensamento e diante de uma sociedade que vem cobrando, cada vez mais, a participação consciente das empresas em ações sociais, algumas corporações têm procurado alternativas de negócios como o trabalho feito pela plataforma Human.
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Designada por um dos seus criadores como 'um modelo de negócio social', ela trabalha basicamente com o envolvimento de empresas em causas sociais. A ideia da plataforma Human é fazer com que as corporações analisem qual o seu campo de atuação e consigam implementar, com a ajuda deles, projetos que contribuam de alguma forma com a sociedade.
Uma parcela desse interesse por parte das empresas vem do próprio mercado. "O que está acontecendo é uma tendência. Afinal, as empresas estão olhando mais para esse lado social, porque os clientes então olhando para isso", diz Alexandre Del Rei Macedo, 21 anos, um dos sócios criadores da Human.
Com essa mudança de ponto de vista, as empresas estão, cada vez mais, dialogando com clientes mais engajados e que procuram marcas com as quais se identificam. No campo do marketing, ações que atingem e entendem esse olhar do cliente para a comunidade são chamadas de marketing societal . E é isso o que a Human, ainda que indiretamente, alimenta.
Além disso, com o trabalho da Human, as empresas melhoram a imagem de suas marcas, se diferenciando de outras do mesmo setor; podem ser bonificadas com o selo B-corp (destinado às melhores empresas para o mundo); e ainda conseguem conquistar alguns benefícios fiscais.
Segundo Macedo, o trabalho da Human passa não só pela criação de novas ações sociais, ligadas às empresas que os procuram, mas também pela potencialização de ações já pré-existentes dessas corporações. A intenção é conseguir inserir as companhias na missão de ajudar ao próximo – o que pode ser encarado como um 'propósito' pelos colaboradores e funcionários da empresa.
"Nós acreditamos que, só sendo conscientes de que somos todos um, podemos chegar ao objetivo máximo do ser humano: que é basicamente ser feliz, ter um propósito", diz Macedo. Por isso mesmo, o trabalho deles não é focado apenas no público exterior às companhias, mas também existe uma preocupação e ações específicas para ampliar o grau de motivação de funcionários.
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"O nosso serviço visa implementar a interação real do colaborador a um projeto social em que a empresa é a própria idealizadora", explica a Human. "Dessa forma, a estratégia de endomarketing contribui para que o colaborador se sinta integrado a empresa e se sinta motivado a vestir a camiseta de onde trabalha".
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Como e por quê a plataforma Human foi criada?
Antes de ser um modelo de negócio social e até mesmo uma plataforma, a Human era apenas uma ideia, que ganhou corpo e se transformou em ação a partir de um movimento sem fins-lucrativos.
Matheus Ubukata, que hoje tem 21 anos, conheceu Alexandre Macedo no ensino médio e, aos 17 anos, os dois tinham muito além da escola em comum: procuravam um propósito para suas vidas e queriam fazer o bem. Juntos e formados, Ubukata e Macedo criaram, em 2017, o Movimento Human – que tem como objetivo desenvolver a comunicação entre um grupo que trabalha com voluntariado e engajar mais pessoas em causas sociais.
Em pouco tempo, o movimento conseguiu parcerias como a da Secretaria de Direitos Humanos, e ajudou mais de 1.600 pessoas em situação de vulnerabilidade. Hoje, segue à tona, com projetos como o Human Day, focado em pessoas em situação de rua.
Porém, frente a uma necessidade de buscar uma forma de financiamento das ações promovidas pelo Movimento Human, Macedo e Ubukata se uniram a Angel Lopez, 43 anos – ex-diretor comercial de uma multinacional – e começaram a pensar em uma nova etapa para o projeto.
Mentoria da Rio Branco – atuação em escolas e em empresas
Foi nas Faculdades Integradas Rio Branco , em São Paulo, que Macedo adaptou a ideia do Movimento Human para o modelo de uma startup e passou a ter o auxílio do professor Alexandre Fillietaz, como mentor, para criar a empresa e a plataforma, que, focada em corporações, assumiu a identidade de modelo de negócio social.
"Em paralelo ao Movimento Human, temos agora uma plataforma social , que trabalha com escolas e empresas", conta Macedo.
O trabalho feito em escolas consiste no que Macedo chama de "aulas socioemocionais". "Damos aulas socioemocionais para as crianças, que estão entre a 6ª série do ensino fundamental e o terceiro colegial. Nessas aulas, trabalhamos conceitos como compaixão, empatia, resiliência", conta. O trabalho nas escolas ainda está em caráter de 'piloto' e, hoje, acontece apenas em um colégio.
Fillietaz conta que, atualmente, cinco startups que foram criadas na Rio Branco estão funcionando e dando resultado positivo. E a Human é uma delas. "A Human nasceu como um projeto do 'Rei', um aluno nosso [como é chamado Alexandre Macedo], visando fazer projetos sociais. Hoje, ela trabalha mobilizando várias empresas", diz o professor.
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Com o trabalho da plataforma Human , agora é possível entender o que Nelson Mandela dizia quando falava em "fazer a diferença na vida dos outros" tanto de forma física, quanto jurídica. Afinal, como cidadão, é possível se voluntariar em qualquer um dos projetos do Movimento Human pelas redes sociais deles . Já, como empresa, além de doações ao Movimento, é possível contratar a prestação de serviços deles e criar uma ação social própria.