Cerca de 25% dos brasileiros sobrevivem com renda familiar de R$ 387, diz IBGE

Brasil é desigual em todos os níveis: gênero, escolaridade, cor e raça; mulheres pretas ou pardas sem cônjugue e com filhos são as mais afetadas

IBGE aponta que em 2016, aproximadamente 25,8% dos jovens de 16 e 29 anos não estavam ocupados nem estudavam
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IBGE aponta que em 2016, aproximadamente 25,8% dos jovens de 16 e 29 anos não estavam ocupados nem estudavam

De acordo com a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais 2017 (SIS 2017), divulgada nesta sexta-feira (15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 50 milhões de brasileiros, o que equivale a 25,4% da população, vivem na linha da pobreza e com renda familiar de R$ 387,07 – valor que fica dentro do que o Banco Mundial considera como pobreza.

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A região Nordeste do País foi considerada a mais pobre, com 43,5% da população vivendo nessas condições, enquanto a menor é a região Sul, com 12,3%. A situação é ainda mais alarmante se levados em consideração os estudos do IBGE que incluem as crianças de 0 a 14 anos de idade.  No Brasil, 42% das crianças nesta faixa etária estão em condições críticas e sobrevivem com apenas US$ 5,5 diários.

A desigualdade é evidenciada como uma realidade brasileira em todos os níveis. Por gênero, já que mulheres ganham menos que homens, mesmo exercendo as mesmas funções; por raça e cor, expondo que trabalhadores pretos e pardos respondem pelo maior índice de desemprego, menor índice de escolaridade, menor renda, menores condições de habitação e saneamento básico e começam a trabalhar mais cedo justamente pelo baixo nível de escolaridade.

A renda per capta dos 20% que ganham mais, com cerca de R$ 4,5 mil, é 18 vezes maior do que o rendimento médio daqueles que ganham menos, além dos menores rendimentos por pessoa, com R$ 243. No ano passado, a renda total detida pelos 10% com mais rendimentos era 3,4 vezes superior que o total de renda apropriado pelos 40% com menos rendimentos.

Em relação às pessoas com menores rendimentos, a parcela da população de pretos ou pardos chega a 78,5%, contra 20,8% de brancos. Enquanto pretos ou pardos respondem somente por 24,8% dos 10% com maiores recursos financeiros.

No Sudeste, a diferença é ainda mais destacada: pretos ou pardos representavam 46,4% da população com rendimentos, porém sua participação entre os 10% com mais rendimentos era de 16,4%, o que mostra uma distância de 30 pontos percentuais.

Distribuição de renda

No que diz respeito à distribuição de renda, o Brasil é visto como um país com alta desigualdade de renda, inclusive se comparado a outras nações da América Latina, onde a desigualdade é mais acentuada.

Neste ano, as taxas de desocupação dos pretos ou pardos foram maiores frente a da população branca, em todos os níveis de instrução. Na categoria ensino fundamental completo ou médio incompleto, o resultado de desocupação dos trabalhadores pretos ou pardos foi de 18,1%, enquanto a dos brancos ficou em 12,1%.

“A distribuição dos rendimentos médios por atividade mostra a heterogeneidade estrutural da economia brasileira. Embora tenha apresentado o segundo maior crescimento em termos reais nos cinco anos disponíveis, com 10,9%, os serviços domésticos registraram os rendimentos médios mais baixos em toda a série. Já a Administração Pública acusou o maior crescimento, com 14,1% e os rendimentos médios mais elevados”, expôs o IBGE.

Escolaridade

Na pesquisa pôde-se observar que, quanto menor a escolaridade, mais cedo o jovem adentra o mercado de trabalho. O dado foi comprovado com os 39,6% dos trabalhadores que começaram a trabalhar com até 14 anos.

Para os analistas, “a idade em que o trabalhador começou a trabalhar é um fator que está fortemente relacionado às características de sua inserção no mercado de trabalho, pois influencia tanto na sua trajetória educacional – já que a entrada precoce no mercado pode inibir a sua formação escolar – quanto na obtenção de rendimentos mais elevados”.

Além de revelar o percentual de trabalhadores que ingressaram no mercado de trabalho com até 14 anos, o levantamento indicou que a taxa segue crescente para o grupo com ensino fundamental incompleto, com 62,1% do total. Para os que possuem nível superior completo, o resultado cai para 19,6%.

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No ano passado, 60,4% dos trabalhadores brasileiros começaram a trabalhar com 15 anos ou mais de idade, o que evidencia novamente o trabalho precoce. A maioria dos brasileiros com 60 anos ou mais, alegou ter começado a trabalhar com até 14 anos, com 59%.

A análise por grupos de idade mostra uma transição em relação à idade em que se começa a trabalhar, com os trabalhadores mais velhos se inserindo mais cedo no mercado de trabalho, já que 17,5% dos trabalhadores com 60 anos ou mais começaram a trabalhar com até nove anos de idade, proporção de 2,9% entre jovens de 16 a 29 anos.

Os trabalhadores de cor preta ou parda também se inserem mais cedo no mercado de trabalho, se comparados com os brancos, “característica que ajuda a explicar sua maior participação em trabalhos informais”.

Para as mulheres, o maior resultado foi o de ingresso no mercado com 15 anos ou mais de idade, com 67,5%. Para os homens, a taxa foi de 55%. De acordo com os técnicos do Instituto, a inserção mais tardia das mulheres no mercado de trabalho pode ter relação “tanto ao fato de elas terem maior escolaridade que os homens, quanto à maternidade e os encargos com os cuidados e afazeres domésticos”.

População que não trabalha ou estuda

O percentual de jovens que não trabalham nem estudam apresentou crescimento de 3,1 pontos percentuais entre 2014 e 2016, ao passar de 22,7% para 25,8%. Houve alta no número de jovens que só estudavam, ao contrário dos que estudavam e estavam ocupados e também os que só trabalhavam.

O fenômeno foi percebido em todas as regiões brasileiras: no Norte, a taxa de jovens nessa situação passou de 25,3% para 28, assim como no Nordeste, de 27,7% para 32,2, Sudeste, de 20,8% para 24%, Sul, de 17% para 18,7%, e Centro-Oeste, indo de 19,8% para 22,2%.

É importante ressaltar que os jovens com menor nível de instrução, pretos ou pardos e as mulheres foram os mais afetados, com maior impacto entre jovens cujo maior nível de escolaridade era o fundamental incompleto, com 38,3% do total.

Estados e capitais

Levando em consideração o nível de pobreza nos estados e capitais, ganham destaque negativo as regiões Norte e Nordeste, com os maiores percentuais no Maranhão, com 52,4% da população, Amazonas, com 49,2% e Alagoas, com 47,4%.

A pobreza mostra-se mais incidente em domicílios do interior do Brasil do que nas capitais, alinhando-se com a realidade global, onde 80% da pobreza se concentram nas áreas rurais, segundo o Banco Mundial.

Ainda utilizando as definições do Banco, constata-se que no mundo, 50% dos pobres têm até 18 anos, com a pobreza monetária atingindo crianças e jovens mais significativamente, com 17,8 milhões de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos, ou 42 em cada 100 crianças.

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Há um forte impacto também em homens e mulheres pretas ou pardas, com respectivamente, 33,3% e 34,3%, ante 15% para homens e mulheres brancas. Outro recorte trazido abrange os arranjos domiciliares , no qual a pobreza atinge principalmente mulheres sem cônjuge, com filhos de até 14 anos, com 55,6%. Com enfoque nas mulheres pretas ou pardas o resultado é ainda maior, com 64%, o que segundo o IBGE, representa um acúmulo de desvantagens para este grupo.

*Com informações da Agência Brasil