Por que dezenas de startups escolheram se reunir em um espaço de coworking
Espaço em São Paulo reúne mais de 50 novos empreendimentos de diversas áreas; para diretor, chance de conseguir clientes é atrativo para as empresas
Por Victor Hugo Silva | @silvaphvictor - Brasil Econômico |
Startups e coworking são duas das palavras mais populares no meio empresarial atualmente. A primeira é usada para representar empresas que resolvem problemas de seus clientes de uma forma veloz e diferenciada, a segunda está ligada aos ambientes em que profissionais de várias empresas trabalham no mesmo local. Mas o que fez fundadores de novas empresas optarem por espaços de trabalho compartilhados com profissionais de outras áreas?
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O cenário pode ser acompanhado diariamente no Cubo Coworking , prédio localizado no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo. Para Flavio Pripas, diretor do projeto, a densidade oferecida pelo espaço é o segredo para atrair as startups . Desenvolvido em 2015 pelo banco Itaú e pela empresa de capital de risco, Redpoint eventures, o espaço reúne mais de 50 empresas residentes, que usam a estrutura para desenvolver seus negócios. Segundo Pripas, o local foi criado para ser "a plataforma mais aberta possível de fomento ao empreendedorismo ".
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"Quando a gente começou a desenhar o Cubo, chegamos à conclusão de que a melhor maneira de fomentar mercado seria criando densidade. Seria criando um local onde eu conectasse pessoas", lembra. A ideia não é somente conectar empreendedores entre si, mas ajudá-los a encontrar investidores, grandes empresas como clientes e manter os laços com universidades.
Diariamente, cerca de 600 pessoas circulam pelo local. Do total, cerca de 250 pessoas fazem parte de startups residentes, que abrangem empresas de um até dezenas de funcionários. O restante costuma participar de reuniões, palestras, eventos e workshops. Todos com o objetivo de discutir inovação, empreendedorismo, tecnologia, novos modelos de negócios e novas formas de se trabalhar.
"Criamos esse polo de diversidade onde as pessoas vêm para fazer negócio", explica Pripas. "Tem muita empresa que saiu de zero de faturamento para a casa de sete dígitos em um ano, um ano e meio. Tem muito fruto realizado por causa dessa densidade". Boa parte dos negócios são realizados com a ajuda do diretor do Cubo. Uma de suas responsabilidades é iniciar relacionamentos entre empreendedores e quem visita o espaço. Segundo ele, diariamente, representantes de ao menos duas empresas vão ao local querendo conhecer novos negócios.
Quando o Cubo estava sendo desenvolvido, em 2015, artigos sobre ambientes de inovação contribuíram para a criação de um objetivo bem definido para o espaço. "A gente chegou num estudo que era consolidado de vários estudos". Segundo ele, o texto estabelecia cinco variáveis para estimular um ambiente de inovação: acesso a talentos, acesso a capital, cultura empreendedora, ambiente regulatório e a densidade, escolhida para ser o foco do projeto.
Programas de conteúdo
A integração com empreendedores e o mercado também se dá por meio dos programas de conteúdo. A ideia dos organizadores é trabalhar grandes temas por meio de encontros, workshops e discussões. Em um dos programas, Flavio Pripas e outros executivos abrem suas agendas para receber empreendedores e conversar sobre startups e novos modelos de negócios.
Conhecido como Open Coffee Club, o programa oferece uma oportunidade para troca de experiências entre profissionais do mercado e aqueles que já tem uma startup ou que pensam em abrir um novo negócio. "É simplesmente uma conversa aberta para quem quer vir conversas com especialistas de mercado", explica Pripas.
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O projeto ainda conta com programas voltados para quem busca um investidor ou deseja trocar experiências sobre melhores práticas na área de marketing , vendas e recursos humanos , por exemplo. Outro programa, o Women In Tech pretende incentivar a participação de mulheres no mundo da tecnologia e do empreendedorismo por meio de ações de inclusão, networking e empoderamento. "Nós colocamos 11 programas no mercado que são grandes verticais de conteúdo que a gente quer defender ao longo do ano", explica Pripas.
Para ele, os programas realizados diretamente pela equipe do Cubo são uma oportunidade para quem ainda não se tornou um empreendedor. "Se você estiver com a ideia, você vai ter um programa em que vai poder trocar essa ideia com outras pessoas. Se você estiver começando sua empresa, se você ainda não tiver um modelo de negócios, você também pode vir aqui nos programas".
Modelo para as grandes empresas
Ao investir em um espaço de coworking, o objetivo do Itaú e da Redpoint eventures é fomentar o empreendedorismo e, ao mesmo tempo, criar um radar de mercado para eventuais investimentos, compras ou até mesmo para conhecer futuros concorrentes. No caso do banco, especificamente, há ainda a expectativa de analisar a forma como estas novas empresas trabalham.
"O Cubo começou com a necessidade do banco Itaú se aproximar de startup. Startup muda o mundo muito rápido, ela desafia o status quo , ela faz as coisas de uma maneira diferente", afirma Pripas. "Eu poderia afirmar que toda grande empresa, hoje, tem a preocupação de se aproximar de startups por causa disso". Segundo ele, uma startup pode ajudar uma empresa convencional a se tornar mais completa.
Para Pripas, as empresas podem ser definidas em três aspectos. O primeiro deles é a escala , isto é a capacidade de atingir um grande mercado. Em seguida, está a execução , ou seja, o conhecimento para entregar um determinado produto ou serviço. Por fim, a velocidade , baseada, principalmente, na forma como os problemas são resolvidos dentro de um local de trabalho. Na visão do diretor do Cubo, é neste ponto em que as empresas tradicionais podem aprender com os novos empreendedores.
"Eu preciso me aproximar porque elas trabalham numa velocidade diferente. Eu quero me aproximar pra aprender e pra eu me inspirar como eu poderia fazer, dentro da minha grande empresa, diferente também", diz Pripas sobre o pensamento de executivos de grandes empresas.
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Foco nas indicações
O Cubo não costuma divulgar processos para a seleção de novos residentes. Em geral, as empresas residentes são escolhidas com base em indicações feitas ao diretor do local. "Isso ajuda a filtrar. Se a gente tivesse um formulário na internet, provavelmente, não conseguiria dar feedback para todo mundo", explica Pripas. Ele lembra que, para chegar às mais de 50 startups instaladas atualmente, foi necessário falar com mais de 800 empresas.
O hábito se mantém até hoje. "Todo dia, da mesma forma que a gente fala com as grandes empresas, a gente fala com as startups também", explica. Para uma nova empresa ser selecionada, é necessário preencher alguns pontos estabelecidos pela equipe responsável pelo espaço. O principal deles é a capacidade de "resolver um problema real do mundo real", enfatiza Pripas. A solução criada pela empresa a ser escolhida ainda deve ter um potencial de escala, ou seja, conseguir aumentar sua proporção em algum momento.
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"Essa é a nossa definição de startup. Pra cada pessoa que você perguntar o que é uma startup, vai dar uma definição diferente. A nossa é essa", diz o diretor do local. "Além disso, a gente olha se a empresa já tem um produto desenvolvido, se já tem modelo de negócio a ser testado e se já tem cliente para dar feedback". Estes fatores mostram que a empresa já superou o estágio da ideia e realmente consegue desenvolver um determinado trabalho.
Em relação à área de atuação das empresas escolhidas, a seleção não abrange apenas as startups do mercado financeiro, segmento do Itaú, principal mantenedor do espaço. De acordo com Pripas, tudo que envolve inovação e tecnologia tem muito espaço no Cubo. Atualmente, além das fintechs (startups da área financeira) , o local conta com legaltechs (área jurídica), peopletechs (recursos humanos) e edtechs (educação), por exemplo.
O objetivo, segundo Pripas, é criar valor. "Se não fosse assim, a gente não atrairia boas empresas, bons parceiros. Se a empresa fosse obrigada a abrir uma conta [no Itaú, por exemplo], eu já não conseguiria", explica. A última selecionada para integrar o Cubo foi a Consulta do Bem , uma healthtech, ou seja, uma startup focada em soluções na área da saúde. Criada em 2015 por dois médicos e um economista, a empresa utiliza a tecnologia para oferecer atendimentos com preços acessíveis para os pacientes.
Por meio de um aplicativo disponível para Android e iOS, é possível encontrar médicos de diversas especialiades na região e pesquisar pelos melhores preços e horários. Além de consultas periódicas, a plataforma também inclui locais para realizar exames, vacinas, cirurgias e atendimento de pronto socorro.
Segundo o Dr. Marcus Vinicius, CEO da Consulta do Bem, a startup está disponível em 11 estados, conta com 2.500 médicos de mais de 60 especialidades. "Além disso, acabamos de lançar no mercado um produto corporativo, voltado para o público B2B, pois surgiram muitas empresas interessadas em usar esses serviços para seus funcionários", explica.
Para Flavio Pripas, a Consulta do Bem é um bom exemplo de como a tecnologia pode resolver os problemas das pessoas ao conectar médicos e pacientes. "O que nos chamou a atenção e fez a empresa ser selecionada para o Cubo é que ela usa a tecnologia para solucionar uma demanda que não é muito bem atendida no mercado e ainda melhorar a qualidade de um serviço", diz.
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As indicações também ajudam a selecionar uma série de eventos a serem realizados no local. "O Cubo é uma ferramenta. A gente tem auditório, a estrutura das salas de aula, de encontros. A gente faz a curadoria de 100% do que acontece aqui dentro do Cubo", afirma Pripas. Assim como a seleção de residentes, a escolha por um novo workshop, por exemplo, passa pelos diretores do projeto que conta com cerca de quatro compromissos diários. "É só sugerir, a gente faz a curadoria e se fizer sentido o evento, a gente cede o espaço".
Startups também passam por ajustes
O diretor admite que nem sempre as empresas residentes conseguem avançar depois de permanecer no Cubo por alguns meses. Em algumas situações, o resultado fica abaixo do esperado, seja por conta de equívocos com o modelo estabelecido ou até mesmo por uma falta de compromisso da equipe. "Nós temos a opção de, se a startup não estiver indo bem, convidar ela a sair do Cubo", diz Pripas.
"Mesmo porque o Cubo sempre está em 100% de ocupação. Para alguém entrar, alguém tem que sair. Então, a gente tem essa válvula de escape", explica. Para tomar a decisão de retirar uma empresa residente, a equipe do espaço leva em consideração a avaliação feita diariamente a partir do contato próximo com os empreendedores. Quando é possível, uma startup que está passando por dificuldades pode se manter no espaço e fazer uma alteração em seu enfoque.
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"Tem umas três ou quatro startups aqui que mudaram radicalmente o foco nos últimos meses, mas o empreendedor é super ponta firme", destaca Pripas, ao lembrar que os residentes estão "fazendo algo que é bacana. Eles estão atacando um mercado que é interessante". As correções são feitas para gerar conexões entre as empresas residentes com eventuais clientes ou investidores.
"Nosso papel acaba sendo aproximar esses dois mundos de alguma maneira. Com o Itaú, já tem vários cases, com outras grandes empresas já tem outros cases. Acho que a gente está sendo relativamente bem-sucedido nessa frente", analisa Pripas. Ainda que não seja a única intenção, Pripas diz que os negócios realizados entre startups e o banco ocorrem de maneira natural.
Entre os projetos realizados, está o Itaú Fellow, plataforma para gerenciar o cadastro de profissionais em processos seletivos do banco. A ferramenta foi criada após acordo com a MasterTech, startup residente no espaço. Já a Todo Cartões viu a rede de restaurantes Outback se tornar um de seus principais clientes. A empresa opera programas de cartão-presente, pré-pagos e fidelidade para varejistas, prestadores de serviços e e-commerce.
Para Pripas, em resumo, o Cubo ajuda as empresas a concretizar o significado de inovação. "Se você tem um espaço onde as pessoas só vão para falar de inovação, empreendedorismo, tecnologia, novos modelos de negócios, novas formas de trabalhar, isso cria muito valor", afirma. Para ele, o espaço de coworking para startups criado pelo Itaú e a Redpoint eventures contribuiu para a criação de valor de forma orgânica. "Tem muita coisa que acontece aqui que não é pré-planejada. Acho que isso que a gente entrega muito forte para o mercado".