Brasileiros que usam Uber e similares questionam necessidade de carros próprios
Pesquisa mostra que 55% dos brasileiros que usam veículos compartilhados dispensariam compra de carro próprio; entre jovens, número sobe para 62%
Por Brasil Econômico |
Um dos maiores desafios para a indústria de veículos do Brasil é assegurar grande desafio sua sustentabilidade frente às mudanças comportamentais dos consumidores, sempre estimuladas pelas novas tecnologias que chegam ao mercado. É isso que mostra a mais recente edição do Global Automotive Consumer Study: Future of Automotive Technologies, realizado pela Deloitte em 17 países.
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A pesquisa mostra que, entre os brasileiros que utilizam serviços de veículos compartilhados para se locomover – como Uber ou 99, por exemplo –, 55% questionam a necessidade de possuírem seus próprios carros. Essa tendência torna-se ainda mais evidente quando são levadas em conta apenas as opiniões dos mais jovens, pertencentes às chamadas gerações Y e Z. Neste caso, 62% dos brasileiros consideram dispensável possuir um veículo no futuro.
“A pesquisa apurou que a maioria dos brasileiros (64%) afirma nunca, ou quase nunca, utilizar serviços de compartilhamento de veículos. Isso é compreensível, já que nosso País é muito grande e esses serviços só estão disponíveis nos grandes centros urbanos. Mas é interessante perceber que 43% dos jovens que participaram do estudo utilizam esse serviço pelo menos uma vez por semana”, diz Reynaldo Saad, sócio-líder da área de Bens de Consumo e Produtos Industriais da Deloitte Brasil.
“Nossos jovens estão cada vez mais inclinados a abrir mão de ter a propriedade de um carro, preferindo vivenciar esse movimento do compartilhamento, o que é um indicativo muito importante da tendência futura de consumo. Cabe à indústria automotiva acompanhar muito de perto essa nova realidade”, continua o executivo.
O recuo na disposição do brasileiro de investir em recursos tecnológicos embarcados nos veículos é outro dos itens levantados pelo estudo. Segundo a pesquisa de 2014, os consumidores que participaram daquela edição afirmaram que poderiam gastar até R$ 5.951 em média para contar com determinados equipamentos tecnológicos em seus veículos. Essa pretensão de gasto caiu para a média de R$ 1.995 no estudo de 2016.
De acordo com Carlos Ayub, sócio da Deloitte especializado em Indústria Automotiva, além da crise financeira, que naturalmente afeta a disponibilidade para gastar do brasileiro, o consumidor hoje conta com novos recursos tecnológicos em seus próprios smartphones, que servem para complementar e facilitar sua experiência ao conduzir um veículo.
“Afinal, por que o consumidor vai pagar mais por um avançado sistema multimídia automotivo se ele já tem vários recursos disponíveis gratuitamente em seu celular, e que facilmente podem ser usados em veículos?”, questiona.
“Cabe à indústria se adequar a essa realidade criada pelas tecnologias móveis e permitir que os novos automóveis facilitem a conexão para valorizar a experiência dos consumidores, que estão cada vez mais cautelosos no momento de gastar seu dinheiro. Firmar parcerias e oferecer serviços agregados ao produto também devem ser soluções que permitirão à indústria automobilística atrair clientes”, completa Ayub.
Foco na segurança
Também foi apurado pelo estudo que os itens tecnológicos mais valorizados pelos brasileiros são os relacionados à segurança. Na pesquisa, os quatro sistemas que foram considerados prioritários foram os de reconhecimento de objetos na via para evitar colisões, de bloqueio de funções do veículo diante de situações de condução perigosa, de avisos de situações de condução perigosa e de conexão autônoma do veículo para relatar e contatar autoridades ou outros serviços quando ocorre uma emergência médica ou acidente.
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Fazendo uma comparação com dados internacionais, a pesquisa identificou, por exemplo, que os brasileiros têm expectativas mais altas do que norte-americanos, canadenses ou mexicanos em relação à disponibilidade de recursos avançados de automação. Estes recursos combinam ao menos duas funções automatizadas, como reconhecimento de objetos na trajetória e frenagem automática, serviço de concierge ou sensor que sinaliza itens no ponto-cego do motorista..
“Alguns dos itens avançados de automação já estão presentes no mercado nacional e são facilmente percebidos pelo público, por isso o desejo demonstrado pelo consumidor é mais perceptível. A tendência é que se tornem mais comuns e acabem sendo incorporados como equipamentos ou serviços em versões cada vez mais básicas dos veículos oferecidos no mercado, de acordo com a redução de custos que tende a ocorrer ao longo do tempo”, explica Ayub.
Excetuando-se justamente a forma avançada, vale destacar que diminuiu nos últimos dois anos o desejo dos consumidores brasileiros em relação à automação básica, à condução autônoma limitada e à condução autônoma total. “Diante dessas tendências, a indústria automotiva deve estar preparada para compreender e se adaptar às novas demandas dos consumidores”, complementa Saad.
Outras conclusões
A pesquisa da Deloitte também mostra que o brasileiro tem restrições com alguns tipos de tecnologia. Ferramentas voltadas a funcionalidades de conveniência e conectividade – como sistemas de ajuda na gestão de tarefas diárias, que potencializam a personalização dos carros, que oferecem entretenimento customizado aos passageiros ou que permitem ao motorista controlar remotamente equipamentos domésticos – foram identificadas como as menos desejadas entre os consumidores do País.
Além disso, 55% dos participantes disseram confiar mais nos fabricantes tradicionais de veículos para que a tecnologia de condução autônoma total seja viabilizada no mercado. As empresas de tecnologia já existentes foram citadas por 22% das pessoas, mesmo percentual daqueles que confiam em uma nova empresa especializada em carros autônomos.
Também foi identificado no levantamento que oito em cada 10 participantes do estudo temem ameaças de hackers ao compartilharem seus dados. Apesar disso, a maior parte dos participantes (72%) compartilharia informações pessoais com os fabricantes em troca de melhorias e mais benefícios em seus carros.
Um último tópico levantado pelo estudo foi relativo ao desempenho das baterias dos carros elétricos. Segundo a pesquisa, elas ainda deixam a desejar, tendo como referência o tempo de recarga de três a quatro horas em uma estação. No entanto 64% dos consumidores só estão dispostos a esperar o máximo de uma hora para carregar completamente um veículo.
O estudo
O Global Automotive Consumer Study: Future of Automotive Technologies foi realizado em 2016 pela Deloitte, em 17 países, entre eles o Brasil. O estudo é composto por questionários online, que foram aplicados a mais de 20 mil consumidores, dentre os quais 1.260 eram brasileiros. A primeira edição da pesquisa foi realizada em 2009 e a mais recente, em 2014.
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O levantamento é focado em apurar hábitos, costumes e expectativas dos consumidores em relação a preferências tecnológicas incorporadas pela indústria de veículos a seus produtos e aborda também as escolhas e tendências sobre mobilidade indicadas pelos participantes do estudo.