O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta quarta-feira (21), a Carta de Conjuntura 32 em que revela a aceleração do desemprego no País. O estudo fez a comparação dos dados do segundo trimestre de 2016 e o mesmo período de 2014, última amostra antes da piora registrada no mercado de trabalho.
Segundo a Carta de Conjuntura 32, as perdas acumuladas na taxa de desemprego , em termos de pontos percentuais, são piores entre jovens do que a registrada na faixa etária acima de 59 anos. Contudo, a maior variação da taxa foi entre os maiores 59 anos: 132% entre o último trimestre de 2014 e o segundo semestre deste ano. Já entre os jovens, a variação registrada foi de 75,3%.
Dessa maneira, em termos de pontos percentuais, a taxa de variação do desemprego entre jovens mostrou alta de 0,37 – enquanto, entre os mais velhos, houve alta de 1,46. O mesmo ocorre na comparação entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano: a maior piora é no grupo dos idosos, tanto em termos de taxa de variação, como em termos de pontos percentuais. Entre os mais jovens, com destaque para a faixa entre 14 e 24 anos, a taxa de variação do primeiro para o segundo trimestre de 2016 foi 1,39%, enquanto a dos mais velhos atingiu 44,4%.
De acordo com o coordenador da publicação do Ipea, José Ronaldo Souza Jr., a variação incide sobre uma taxa muito mais alta dos jovens em relação aos maiores de 59 anos. Com isso, pode-se ver que a variação, em termos de pontos percentuais, foi de 11,49 pontos, no caso dos mais novos, passando de 15,25% para 26,73%, e foi de apenas 2,7 pontos, no caso dos mais velhos, evoluindo de 2,05% para 4,75% no acumulado do quarto trimestre de 2014 para o segundo trimestre de 2016.
A taxa de desemprego “mais do que dobrou, no caso dos mais velhos, e dos mais jovens, não; mas a taxa dos mais jovens já era muito mais alta”, avaliou Souza Jr.
Causas do aumento
Ao contrário do que muitos podem imaginar, a alta taxa de desempregados no País não se deve ao número de demissões. Segundo a Carta do Ipea, o aumento do desemprego no Brasil tem como principal motivação a redução da população ocupada, ou seja, na queda de pessoas contratadas, seja em empregos formais ou em informais. Nos dois casos, houve redução.
+ Desempregados de SP já podem solicitar bilhete único gratuito
Ainda de acordo com o estudo, o cenário poderia ser ainda pior se não fosse o aumento de pessoas que abriram o próprio negócio nesse período. Muitos profissionais demitidos decidiram empreender, o que segurou o número de desemprego no Brasil. Embora não sejam considerados informais, Souza Jr. admitiu que o trabalho autônomo é classificado como “uma forma mais precária de emprego”.
Queda de rendimento
E não foram só os empregos que tiveram queda no período pesquisado pelo Ipea: na comparação entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, o rendimento médio da população também caiu 1,5%. Já na comparação entre segundo semestre de 2016 e o mesmo período do ano anterior, a queda aumenta para mais de 4%. De acordo com o coordenador da pesquisa, “já se esperava uma desaceleração nessa queda. A gente está com uma perda acumulada significativa, mas há uma mostra que está desacelerando essa perda, com o arrefecimento da crise”.
Em relação ao rendimento real, segundo o Ipea, a população que recebe menos que um salário mínimo apresentou queda em torno de 9% nos últimos 12 meses. Apesar disso, a distribuição de renda entre essas pessoas não piorou, pois, de acordo com o pesquisador, o chamado índice Gini (que é usado para mediu o grau de concentração de renda em um grupo) calculado entre pessoas desempregadas não apresentou piora, já que o movimento do pessoal que ganha menos foi compensado por outras faixas de rendimento.
Já entre o grupo de pessoas que estão na faixa superior de distribuição de renda, o rendimento real subiu 2,4% no último ano.
Saldo negativo
Desde o começo da crise, em 2014, o saldo de vagas já registrou 16 meses consecutivos de queda. Até agora, há uma perda acumulada de 2,85 milhões de vagas com carteira assinada. De acordo com o saldo líquido registrado no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (Caged), é possível perceber que começa uma desaceleração, mas o acumulado desse saldo (em termos de perda de emprego) é bastante elevado.
Entre os segmentos do mercado, os que mais demitiram foram: a indústria de transformação e a indústria da construção civil. Olhando o acumulado dos últimos 12 meses, a perda para a indústria da transformação alcançou 526.517 empregos. Na construção civil, esse número é de 405.932 postos perdidos.
+ Seguro-desemprego: o que mudou, quem tem direito e como sacar o benefício
Já nas atividades do comércio e serviços, as demissões são mais recentes. Na área de serviços, os empregos perdidos somam 453.786. “Dá para ver que a piora é generalizada. Antes, era mais focada na indústria de transformação e se espalhou para outros segmentos”, diz Souza Jr.
Por fim, o pesquisador, que é economista, avalia que as contratações ainda devem demorar a acontecer no País, uma vez que, em geral, esse movimento ocorre após a recuperação da produção. Dessa maneira, o número de desemprego ainda deve se manter em alta. Ainda de acordo com o economista, a princípio, as contratações tendem a esperar que a recuperação da economia fique mais evidente. “Elas só acontecem quando a situação da economia ficar mais definitiva, quando se reduzem as incertezas”, explicou.