O ajuste das contas públicas é a principal dificuldade na área econômica que o governo precisa enfrentar para superar a crise, segundo avaliação de economistas ouvidos pela Agência Brasil.
“O principal problema do Brasil hoje é fiscal. Se não resolver nosso dilema fiscal, a dívida pública, que está em trajetória insustentável, vai continuar e vai contaminar todos os setores da economia brasileira. Então, tem que fazer uma âncora fiscal para mostrar que, na frente, o Brasil vai de novo ter uma dívida pública sob controle”, disse o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas.
Para Freitas, redução de despesas passa pela necessidade de fazer reforma da previdência, desvincular algumas despesas obrigatórias para “sobrar” recursos, cortar subsídios dados a empresas e desvincular benefícios da Previdência dos reajustes do salário mínimo.
O economista Armando Castelar, ex-chefe do Departamento Econômico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), considera que o problema está no crescimento muito rápido da dívida pública. “Gera preocupações em relação à capacidade do governo arrumar isso, não agora, mas daqui a algum tempo, mantido o ritmo atual. Então, a questão fiscal é essencial. Está afetando a confiança de empresas, de consumidores, de todos”, disse.
O descontrole das contas públicas levou ao rebaixamento do Brasil pelas agências de classificação de risco de grau de investimento (selo de bom pagador) para especulativo. Em 2015, com o déficit primário recorde – resultado negativo antes do pagamento dos juros da dívida pública, de R$ 111,249 bilhões –, a Dívida Bruta do Governo Geral chegou a R$ 3,927 trilhões, o que corresponde a 66,6% do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país.
Gilberto Braga, professor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Ibmec-RJ, defende um controle maior dos gastos públicos. “É necessário que se estabeleça um rigoroso controle fiscal e ele pode passar pela fixação de limites de gastos, como percentuais de arrecadação, metas de redução de custos”.
Segundo os especialistas, não há necessidade de aumento de impostos agora. “Por enquanto tem que ter uma ordenação das contas. Eventualmente, se não tiver essa ordenação das contas, vai ter que ter aumento de impostos”, disse Freitas.