Boa parte dos investidores que aqui nos leem em algum momento já utilizou as redes de transações financeiras, as famosas “maquininhas”, para realizar alguma compra ou pagamento. Boa parte destes investidores também já ouviu falar da marca Cielo. Não é à toa.
A Cielo é a empresa líder em toda América Latina em termos de volume e de transações, além de possuir cobertura de 99% do território nacional. O que muitos, no entanto, talvez desconheçam é o fato de que a Cielo chegou a perder 90% do valor de seu papel, mas ao preservar seu market-share, seguiu servindo de grande obstáculos às novas entrantes. Com isso é razoável indagar: vale a pena investir em Cielo?
Para responder tais questionamentos1, o último Cara a Cara com o Gestor recebeu Carlos Eduardo Eichhorn e Luis Afonso Lima, diretor de investimentos e head de Análise, ambos da Mapfre, para nos contarem como o case Cielo segue sendo promissor mesmo diante da perda do valor de mercado e do aumento da concorrência.
Victor: A Cielo chegou a perder 90% do seu valor de mercado, além de estar lidando com uma conjuntura mais desafiadora, com novos entrantes que oferecem custos menores ao cliente final. Além disso, apesar de o Brasil já ter passado por um período mais recessivo, não necessariamente o crescimento econômico de agora se desdobra para o longo prazo, visto que parte deste crescimento parece estar apenas “recompondo” a queda de observada na pandemia. Dito isso, por que ainda gostam tanto de Cielo?
Luis: Há dois pontos a serem observados, o macro e o stock-picking. Iniciando pelo macro, observamos a saída do período pandêmico como um alento para alguns setores, como o de varejo e de serviços. Em alguns países que passaram pela crise da COVID antes de nós estes setores “largaram” na frente até pela demanda reprimida e falta de produtos a serem consumidos. E foi assim que deslancharam.
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Além disso, já passamos do “fundo do poço” em termos de mercado de trabalho e já podemos observar uma recuperação gradual do emprego, bem como um segundo semestre mais promissor em termos de recuperação de salários. Soma-se a isso, todos os auxílios do governo dos últimos meses, antecipação do 13º salário e auxílios de crédito que contribuem para o aumento da “massa” de renda da população e para a recuperação do consumo e dos serviços. Estes elementos favorecem setores como da Cielo. E aqui temos também elementos suficientes para imaginar que o pior já passou e que teremos boas surpresas que não estão precificadas no preço do papel.
Victor: Apesar da queda do preço do papel, a Cielo manteve 25% do seu market-share. Será que o mercado está, de fato, precificando mal o papel?
Cadu: vemos novos entrando trabalhado a múltiplos bem mais elevados e com participação de mercado e EBTIDA bem menores. No período em que as novas entrantes já estavam em “livre concorrência” vimos a Cielo manter 29% de market-share. Quando comparamos os múltiplos das entrantes mais recentes e que fizeram IPO com os da Cielo, percebemos que das duas uma: ou os valores da concorrência estão muito esticados, ou o da Cielo está muito fora do preço. Isso significa que ou as entrantes conseguem se firmar, faturar mais e justificar este valuation, ou a tendência é privilegiar empresas consagradas, com excelente market-share e excelente prestação de serviços. Provavelmente estes valores tendem a se ajustar ao longo do tempo.
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Este trade relativo está sempre no radar, poderia até ser um caso de Long Short, com posição vendida nas empresas mais esticadas, mas não chegou a ser o caso.
Carlos: Há alguns pontos a serem observados. Nós vemos Cielo ao longo do tempo. Há 7 anos tinham o papel, zeraram e voltaram. Como as margens da empresa começaram a ser reduzida ao longo do tempo, era natural ter um movimento de reprecificação de valuations. Iniciamos nossa nova entrada no papel em outubro/2021 e fizemos acréscimos de maneira gradual, crescendo ao longo dos meses. Além disso não colocamos mais que 10% de cada papel em carteira, justamente para irmos acompanhando a entrega de resultados.
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