Ao longo das últimas semanas um dos assuntos mais comentados na mídia especializada de investimentos, economia e finanças foi o Yield dos Treasuries. Além de ser tema central de algumas entrevistas e textos, também acabava sendo ponto de explicação para alguns movimentos nos mercados globais e local. Assim, o objetivo desse texto é explicar, de forma resumida, como essa variável impacta os mercados financeiros e o que faz ela subir ou descer.
Os Treasuries são títulos da dívida do tesouro americano, sem exagero algum, pode ser considerado o título mais seguro do mundo, uma vez que o governo americano tem 0,0% de chance de dar calote, além de ter a moeda forte da economia global e não ter os problemas estruturais que uma economia como a dos países em desenvolvimento possui. Como podemos ver no gráfico abaixo, a comparação do risco país dos Estados Unidos em relação a de outros países, a dos americanos é bem menor, somente com os alemães tendo o mesmo nível de risco.
Yields
Os títulos, Treasuries, podem ser de vários períodos e tipos como o Treasury Bills (T-Bills), que vencem em até um ano; Treasury Notes (T-Notes), que vencem entre 2 e 10 anos; e os Treasury Bonds (T-Bonds), que vencem entre 10 e 30 anos. O mais importante dentre eles é o Treasury Bonds (T-Bonds) de 10 anos, pois é com ele que é o referencial de juros para a precificação dos ativos do mercado financeiro e é o que acaba refletindo a relação de risco explicado acima.
O yield se refere à rentabilidade do título, quando há a expectativa de alta nas taxas de juros dos Fed Funds (comparável à Selic no Brasil ), a rentabilidade do sobe e preço cai. Para que o FED leve em consideração a elevação das taxas de juros ou para que os investidores acreditem que isso acontecerá, é preciso que os agentes, principalmente os próprios investidores, tenham expectativa de alta na inflação e, atualmente isso vem acontecendo devido ao fato da expectativa da economia americana e global estarem saindo de uma recessão como aconteceu após o início dos anos 2000 (crise das ponto com), dos anos 2008-2009 (crise financeira) e atualmente (COVID-19):
Nas áreas sombreadas ficam evidente os momentos de crise, e após esse período, a as taxas começam a subir. Em todos os períodos, pós o momento de desaceleração econômica, as taxa caem, pois o mercado acredita que as taxas de juros vão cair (e de fato caem), posteriormente, elas sobem ou se mantêm no mesmo patamar até haver sinais de aquecimento da economia americana e, consequentemente, global. Isso também fica evidente pelo comportamento taxa de juros americana:
Economia
Ao longo da história, em momentos de crise, para estimular a economia, o FED derrubava a taxa de juros e deixava em um nível mais baixo que o anterior por um período até a economia ter se recuperado de fato. Entre 2010 e 2016 tivemos o maior período de taxas de juros baixas, pois o crescimento da economia americana continuava aquém do esperado, principalmente por conta da queda histórica nos salários, pois as empresas, com a globalização passaram a buscar mão-de-obra mais barata, principalmente na China e Índia. A partir de 2016, com a alta dos empregos nos Estados Unidos e expectativas de crescimento da economia o FED passou a subir a taxa de juros gradualmente e, os yields das Treasuries de 10 anos também, acompanhando a expectativa de sucessivos aumentos nas taxas de juros.
Atualmente, acontece algo parecido. Apesar do mundo ainda não ter se imunizado totalmente da COVID-19 e nem de seus efeitos, há motivos para que o mercado acredite na possibilidade de aumento na taxa de juros por parte do FED. Mesmo com incerteza no radar, os estímulos monetários e fiscais para manter a demanda agregada e níveis de crescimento “pré-COVID” e o avanço na aplicação de imunizantes e fabricação dos mesmos faz com que exista expectativa de alta na atividade econômica, que pode fazer a economia voltar ao patamar desejado. Todavia, existe um fator adicional que a alta das commodities.
Dólares e commodities
A despejada de dólares na economia americana, fez com que as commodities que são cotadas em dólar tenham apreciação de seu valor, isso inclui petróleo, grãos, proteína animal, minério de ferro, cobre e outros. Além disso, a retomada do crescimento da economia chinesa acaba sendo um fator adicional. Todas essas commodities são matérias primas de muitos bens e se o preço delas sobem, acabam gerando inflação.
Quanto aos mercados de ações, o avanço dos yields dos Treasuries é negativo, pois aos investidores buscarem tais ativos, os mais seguros do mundo, há o chamado “ fly to quality” (voando para qualidade), isto é, vendo que os ativos de risco precisam melhorar o seu desempenho para compensar o que o rendimento do título livre de risco está a proporcionar, muitos investidores preferem buscar a “qualidade” do título americano sem correr risco em detrimento do mercado de ações. Por isso as bolsas globais tendem a cair em situações assim.
Yields e a Bolsa
Ainda falando de bolsa de valores, atualmente, há um parênteses a ser feito. Durante a pandemia, as grandes empresas de tecnologia eram uma espécie de substituto para as Treasuries uma vez que com a economia mundial parada e somente as companhias intensivas em tecnologia ou que se utilizavam muito dela para ofertar seus produtos tinham menor risco, como foi o caso de Amazon, Facebook, Apple, Zoom e outras. Mas, com a volta de perspectiva de aumento do crescimento econômico e da inflação, os agentes se voltam para os títulos da dívida da maior economia do mundo.
Como ponte de ajuste, a alta da rentabilidade desses títulos, como são americanos, podem compensar a desvalorização do dólar, uma vez que os investidores podem sair de mercados emergentes que são mais arriscados e buscarem tais títulos, impactando as bolsas de valores de países como o Brasil.
As expectativas do mercado em relação às variáveis macroeconômicas são muito importantes, pois geram impactos importantes nos seus investimentos. Por isso é essencial que investidor esteja sempre atento ao cenário econômico e global por intermédio de material especializado e profissionais de mercado, para tomar decisões e, principalmente, entender o que está acontecendo com seus recursos alocados no mercado financeiro.
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