Se você troca qualquer coisa por trabalho, muito provavelmente você é workaholic, alerta Alessandra Assad, especialista em gestão de pessoas e professora da Fundação Getulio Vargas. E isso, depende de quanto você gosta daquilo que faz.
A linha que separa paixão de obsessão é tênue. Trabalhar sem medidas, sem limites e sem equilíbrio não é um sinal de amor pelo o que se faz, mas de dependência. Você se sente culpado por estar sem fazer nada em um sábado à tarde, por exemplo? Então atenção! Você pode ser um workaholic.
A intensa busca pelo reconhecimento dos workaholics, ou viciados em trabalho, é fruto de uma descompensação em outras áreas de suas vidas, e pode gerar efeitos negativos, que comprometem as saúdes física e mental, além das vidas pessoal e profissional.
“Por ter esse desequilíbrio em suas vidas, eles passam mais tempo no trabalho, vestem a camisa da empresa, e como resultado têm mais reconhecimento dos gestores”, conta a presidente da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), Ana Maria Rossi. O problema, observa, é que à medida que isso vai acontecendo, ele vai passando mais horas no trabalho e a vida em casa vai se deteriorando.
“Ao todo, 32% dos 1 mil funcionários que atuam nas áreas da saúde, indústria e finanças em São Paulo e Porto Alegre, consultados em uma pesquisa feita em 2014 pela ISMA têm tendência a desenvolver características de workaholic”, afirma Ana Maria.
Geralmente, as pessoas workaholics exigem que todos os outros sejam como elas e julgam a falta de comprometimento daqueles que não o são, explica Alessandra. Além disso, se tornam hostis e agressivos, gerando conflitos no ambiente de trabalho. Mentir ou omitir da família e dos amigos o tempo que passam trabalhando também é comum entre os workaholics.
Workaholic ou Worklover?
Diferentemente dos workaholics, que transferem tudo o que têm na vida para o trabalho, os worklovers amam o trabalho, mas não sacrificam outras esferas de sua vida em função dele. “São amantes do trabalho, não escravos dele”, resume Alessandra.
“Por mais workaholics que os worklovers possam parecer, eles são leves, ao passo que os workaholics ‘legítimos’ trazem junto de si uma carga imensamente pesada”, completa.
A professora da FGV explica que é preciso entender que relaxar é necessário para o bom funcionamento do cérebro, do corpo e do espírito: “A qualidade de vida do indivíduo é extremamente necessária para que se produza mais e melhor”. É por isso que a produtividade dos workaholics costuma ser menor do que a dos outros funcionários.
“Por ficarem mais horas no trabalho, o cérebro não passa por um período de recuperação, então essas pessoas ficam patinando: a produtividade deles é menor e a qualidade do trabalho é marginal”, conta a presidente da ISMA-BR.
Como passam muito tempo em frente ao computador, os workaholics desenvolvem também problemas de saúde, como dores musculares, bruxismo, distúrbios do sono, doenças gastrointestinais e sobrepeso. E é a partir daí que eles passam causar prejuízos não apenas a eles mesmos, mas também às empresas. “Eles têm propensão a cometer erros no trabalho, sofrer lesões e adoecer com mais frequência.”
Toda essa questão pode tomar dimensões ainda maiores se pararmos para pensar que os problemas comportamentais estão relacionados ao consumo de álcool e drogas prescritas, causado pela ansiedade, solidão e depressão.
Qual é o melhor tratamento?
A professora da FGV explica que alguns especialistas acreditam que essa mudança de comportamento esteja relacionada a outros transtornos, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Bipolar e Transtorno de Personalidade Obsessiva, ou simplesmente comportamento compulsivo. Mas não há um consenso sobre o diagnóstico.
Abrir pequenos espaços de quebra de rotina durante o dia, mudando o cenário, conhecendo pessoas novas, parando religiosamente para almoçar em um lugar diferente da sua mesa, são exercícios que além de ser simples, funcionam.
A ajuda de outras pessoas pode ser primordial no tratamento dessa mudança de comportamento, mas é indispensável que o workaholic queira ser ajudado.
“O maior desafio do workaholic é aceitar que tem um problema. Ele não identifica esse problema, e quando o reconhece acaba racionalizando de uma forma que desqualifica o tipo de comportamento workaholic”, explica Ana Maria.
Mas talvez, o maior desafio, para workaholics ou não workaholics, seja mesmo estabelecer limites. "Isso é primordial, por isso é importante estar 100% em cada lugar e fazer tudo com intensidade. Mas isso requer muita, muita disciplina", observa Alessandra.
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