Gastos familiares diminuíram durante a pandemia
Felippe Percigo
Gastos familiares diminuíram durante a pandemia

Durante o período de isolamento social, diversas famílias brasileiras relataram dificuldades de manter o padrão de consumo com o grande aumento da inflação e altos níveis de desemprego. Sobre o assunto, o Instituto FSB Pesquisa, a pedido da rede de saúde SulAmérica, mostra dados que comprovam que o poder econômico caiu drasticamente no Brasil. 

Desde o início da pandemia de Covid-19, 63% das famílias brasileiras precisaram reduzir gastos. Para 47% da população, a saúde financeira é o principal motivo de preocupação no dia a dia, e quase metade dos brasileiros afirma estar "apertado" quando se trata de finanças. 

Essas são algumas das conclusões do levantamento realizado pelo FSB a pedido da SulAmérica, que visa avaliar a saúde financeira dos brasileiros nos últimos 12 meses, durante uma pandemia e a crise financeira que se agravou em função disso. O estudo foi realizado em maio de 2022, com uma amostra de 2.000 entrevistas.

Mais pobres pagam a conta

De acordo com informações oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA) do Brasil durante novembro de 2021 foi de 0,95%, enquanto o IPCA acumulado de março de 2021 até o mesmo mês de 2022 chegou a 10,74%. Para famílias de baixa renda, o impacto foi ainda maior. 

A realidade bate na porta de quase dois terços da população. Maria* [que cede entrevista ao iG sob anonimato e pede o uso de um pseudônimo], dona de casa e doméstica, diz que sofre ao enxergar os preços no mercado e que seu salário não está sendo suficiente. Em função da crise, seus dois filhos adolescentes tiveram que entrar no mercado de trabalho para ajudar a manter as contas, mas essa realidade preocupa a mãe em relação ao longo prazo.

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"Está tudo muito caro. Mesmo com a ajuda dos meus filhos aqui em casa, não sei como vou me sustentar", conta. A doméstica detalha que a recente gravidez da filha mais nova, em conjunto com o aumento do aluguel e de gastos básicos como luz e alimentação a obrigaram a abrir mão de muita coisa no dia a dia, forçando um aperto ainda maior para tentar guardar alguma coisa ao fim de cada mês.

"Meu salário, hoje, é usado pra comprar comida e algumas coisas mais urgentes. Não tenho quase nada salvo, e o que tenho eu uso para alguma emergência ou para pagar dívidas passadas".

A pesquisa da FSB mostra que cerca de 32% da população não possui renda suficiente para pagar custos básicos de casa​, além de 28% que revelaram não serem capazes de lidar com despesas inesperadas.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Índice FinanZero de Empréstimo (IFE), 42% dos entrevistados pretendem pedir empréstimos para pagar dívidas no próximo trimestre. A porcentagem atingiu o maior patamar desde o início deste ano. Maria* é uma dentre tantas mães brasileiras que precisaram recorrer aos empréstimos em 2022 para sustentar sua família. Para quitar dívidas de aluguel, ela conta que precisou usar a conta de sua sobrinha para conseguir ter o crédito aprovado.

De acordo com os dados do FSB, 39% utilizaram empréstimos no último ano, e 52% dos empréstimos contratados possuem pagamentos atrasados, o que pinta um cenário preocupante em relação à adimplência dos brasileiros.

O estudo ainda atribuiu o endividamento por geração, sendo os nascidos entre 1965 e 1981 os que mais utilizaram empréstimos no último ano, 44%. Já os nascidos entre 1990 e 2010 tiveram uma alta taxa de endividamento, com quase 26% do total de entrevistados com dívidas adiquiridas no último ano. Na prática, o cenário revela o motivo do principal medo de Maria* e tantos outros: que a realidade de dívidas e dificuldade para pagar o essencial se espalhe por gerações, com os mais velhos, já endividados e inadimplentes, tenham que recorrer aos mais novos, que cada vez se endividam mais, para que a família possa ter o mínimo necessário para se manter.

De acordo com Rodrigo Cezaretto, diretor operacional da FinanZero, o acúmulo de dívidas é o principal motivo para a busca por empréstimos, já que o país enfrenta aumento de preços e desemprego elevado.

"Temos visto que os brasileiros estão tentando de tudo para economizar. Enquanto uma família adia viagens, outra diminui o consumo de itens de uso pessoal ou até mesmo deixa de comprar alguns produtos e alimentos por conta do preço. Isso mostra como o aumento das despesas atingiram as famílias brasileiras, como os hábitos das pessoas precisaram mudar em decorrência da fragilização da economia", explica.

A pandemia acelerou esse processo e agravou a crise econômica e social enfrentada pelo Brasil e, sem saída, emprego estável e com os preços cada vez mais altos, a realidade tem sido dura para milhões de trabalhadores, que acabam tendo que recorrer a empréstimos, muitas vezes sem ter como pagá-los.

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