Guedes, Bolsonaro e Sachsida participaram do evento que marcou capitalização da Eletrobras
Gustavo Raniere/ME 14.06.2022
Guedes, Bolsonaro e Sachsida participaram do evento que marcou capitalização da Eletrobras

Eletrobras voltou a atrair o interesse de investidores e gestores de fundos, que projetam valorização da companhia superior a 50% até o fim do ano de 2023. A expectativa é que a privatização venha acompanhada de redução das despesas, majoração de lucros e, consequentemente, do pagamento de dividendos maiores.

A possível volta de Wilson Ferreira Jr. ao comando da empresa também é bem vista. O executivo já foi presidente da Eletrobras, quando preparou a companhia para privatização. Semana passada, ele pediu demissão da Vibra (ex-BR) e é cotado para assumir novamente o cargo de presidente da ex-estatal de energia.

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Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, diz que o mercado vê com bons olhos a possível indicação:

"Provavelmente, é o melhor executivo do setor para isso. Seria o cara certo, no lugar certo. Ele ajudou a CPFL a virar uma empresa modelo, pagadora de dividendos, após a privatização, e foi responsável pelos bons números da Eletrobras em 2021, ano em que deixou a posição de CEO."

Bruno Komura, da Ouro Preto Investimentos, concorda:

"Ele tem bastante experiência no setor, passou pela Cesp, CPFL e Eletrobras, e provavelmente vai conseguir levar a vivência que adquiriu na Vibra, ex-BR Distribuidora, quando participou da transição de empresa estatal para privada."

O banco Credit Suisse emitiu recomendação de compra dos papéis da Eletrobras, vendo o preço-alvo das ações preferenciais em R$ 71 e das ordinárias em R$ 67, o que representa um cenário de médio prazo promissor.

Na terça-feira (26), a ação ELET3 encerrou as negociações cotada a R$ 44,65, após queda de 0,45%, enquanto a ELET6 caiu 0,24% e foi a R$ 46,23.

A quase dois meses da conclusão da privatização da estatal, o ganho sobre as ações ordinárias foi de 3,20%. Em 12 meses, o investidor teve valorização de 7,5%.

A equipe do banco ainda diz que a Eletrobras pode assumir papel de destaque, inclusive em geração renovável offshore (eólica no mar) e hidrogênio verde.

Os analistas Carolina Carneiro e Rafael Nagano, do Credit Suisse, acreditam num ganho de eficiência após o processo de privatização, com redução de custos, nova estrutura patrimonial e pagamento de dividendos em níveis razoáveis, no que poderia culminar em uma taxa interna de retorno real de 13%.

A empresa também ganhou status de preferida no setor de energia entre analistas do J.P Morgan, que apostam numa alta dos papéis até o patamar de R$ 64. O banco avalia que as ações ainda estão baratas.

Além disso, a Eletrobras é vista como uma empresa que atende princípios ESG (sigla em inglês para políticas ambientais, sociais e de governança). Ao menos no pilar de meio ambiente, já que tem cerca de 97% da capacidade instalada originária de fontes com baixa emissão de gases de efeito estufa.

Aumento do fluxo de caixa e dividendos

O BTG tem o preço-alvo ancorado em R$ 62, a partir da implementação de uma gestão mais eficiente, como a de outras companhias privadas do mesmo segmento. Segundo os analistas do banco, a recuperação da empresa pode vir acompanhada de um aumento significativo no fluxo de caixa e da distribuição de dividendos robustos.

Neste mês, em videoconferência com investidores, a gestora carioca Leblon Equities revelou que montou posição importante na Eletrobras na oferta de ações ocorrida no mês passado, que equivale a 5% do fundo Leblon Ações I.

O analista Lucas Lobo disse que "a redução da defasagem de eficiência operacional da estatal em relação a pares privados é a principal alavanca de geração de valor para companhia".

Analistas ouvidos pelo GLOBO enxergam que as trocas de comando e governança têm se alinhado às perspectivas de lucro e eficiência do negócio. Por isso, dizem que o ativo é uma boa opção de investimento neste período de grande volatilidade na Bolsa brasileira e sugerem uma valorização expressiva no médio prazo.

Sem risco de ingerência política

O analista da Top Gain Sidney Lima explica que os fundamentos relacionados a perspectivas futuras da empresa têm promovido maior interesse pelos papéis, já que os riscos de intervenção política parecem ter se afastado do negócio.

"Quem comprou as ações utilizando o FGTS se deu bem, já que o valor de rentabilidade praticada pelo FGTS de 3% + TR foi batida em semana após a privatização", observa.

Vicente Koki, analista do setor de energia da Mirae Asset, opina que as ações estavam baratas no momento da capitalização e que continuam assim. Até o fim do ano, projeta ganho dos papéis de 20%.

"Já foi definida a data para fazer a votação do novo conselho. Isso é positivo. A partir daí, deve se estabelecer um novo plano estratégico para a companhia. Além disso, de forma geral, o setor elétrico é ótimo para esses momentos de volatilidade. São empresas fortes que têm rentabilidade, ao passo que outros setores sofrem muito, como o varejo", avalia.

O governo poderia ter vendido por um preço maior?

O interesse em privatizar a Eletrobras fez com que o governo distribuísse as ações a um preço baixo, quando comparado ao valor da empresa no longo prazo. Assim, os papéis foram para as mãos de milhares de investidores com alto potencial de valorização.

Na operação de capitalização, mais de 350 mil trabalhadores optaram pro usar uma parte dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para comprar ações da empresa, por meio dos "fundos mútuos de privatização".

O resgate, nesse caso, só pode ser feito após 12 meses, exceto nas condições previstas em lei, como demissão sem justa causa, aposentadoria e aquisição de imóvel.

Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos, acredita que a empresa tem um potencial de valorização muito grande, principalmente após o período eleitoral. No entanto, pondera que se um preço maior fosse cobrado, era possível não encontrar tanto apetite no mercado:

"Na hora da venda, em vez de estipular uma faixa de preço como costuma ser feito, estipularam um preço fixo. Tiveram fundos de investidores institucionais que acabaram saindo na etapa do bookbuilding (processo utilizado para definir um preço justo para a oferta das ações)."

Ele ainda defende que a privatização pode reduzir custos, aumentar a margem de lucro e, com o market share (participação no mercado) muito grande, pode gerar mais receita e aumentar o lucro.

Todos os analistas ouvidos pela reportagem projetam valorização da companhia no médio prazo, o que abre espaço para investidores ainda interessados em ganhar com esse papel. É bom lembrar, porém, que se trata de um investimento de risco, como qualquer outro em ações de empresas. Fatores que não estão no radar no momento podem prejudicar o desempenho e o valor de mercado da companhia.

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