A Revolução Industrial começou no final do século XVIII na Europa e naquela época o próprio domicílio servia como local de trabalho. Com a revolução burguesa, contanto, as pessoas passaram a ter que se locomover até suas atividades, e é esse o modelo adotado pela maioria das empresas do País até hoje. Mas algo notável no mercado está em curso, o home office. De acordo com uma pesquisa global do IGP, 79% dos trabalhadores do conhecimento desenvolvem suas atividades em casa, e 60% dos contribuintes remotos parciais deixariam seu emprego por um com tempo integral da modalidade.
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Um dos exemplos de negócio que adotam o home office é a empresa de consultoria global especializada em inteligência de mercado e gestão de relacionamento digital, E.life – fundada em 2004 já no modelo.
“A empresa começou já no modelo home office, pois iniciamos com uma consultoria onde eu e mais alguns profissionais trabalhavam de casa. Esta rede de home offices cresceu nos anos seguintes e começamos a usar também escritórios virtuais. Desta maneira a empresa foi crescendo e só quando chegamos ao centésimo funcionário e mais de R$ 5 milhões de faturamento que adotamos um escritório”, informa o CEO, Alessandro Lima.
De acordo com o profissional, o escritório físico tem funções muito simples, como encontros rápidos para reuniões, treinamentos e tarefas relacionadas ao RH.
Os 13 anos de trajetória, além de fazer com que a empresa criasse uma cultura organizacional ímpar também proporcionou à E.life viabilidade, uma vez que um escritório com todos os colaboradores, em São Paulo bloquearia o funcionamento da companhia.
Outro lado
A gerente de marketing da rede Play Space, Débora Yocida, concorda com Lima na afirmação que tanto a empresa quanto o funcionário têm a ganhar com o modelo praticado há seis meses. “As empresas estão testando e vendo que esse modelo funciona muito bem em determinas áreas, como a minha. Traz diminuição de gastos com transporte e economia de tempo”.
A gerente também avalia que cada vez mais os espaços físicos têm diminuindo, ao mesmo tempo em que os gestores estão preocupados com resultado e produtividade, independente do lugar em que o seu colaborador esteja.
Pensando ainda mais no trabalhador, o modelo de "trabalho em casa" para a advogada e sócia-fundadora da empresa Brincateca, Camila Moreira é positivo. Ela trabalha há seis anos em sua casa e compreende como essencial acompanhar de forma próxima o crescimento de seus filhos. Outra vantagem para a empresária é a possibilidade de poder ganhar um abraço carinhoso no meio do expediente. “Faço pausas no trabalho, mas não para um café e sim para fazer um bolo com meu filho. Isso não tem preço”, exemplifica.
A experiência com o home office de Camila nunca foi de 100% em sua trajetória profissional, o cotidiano da advogada – de rotina singular da maioria dos brasileiros – a permite observar o modelo de trabalho remoto como uma boa otimização de seu tempo. “Com o trânsito de São Paulo, perco hoje no mínimo duas horas por dia de deslocamento (uma na ida ao trabalho e outra na volta). Há também a rotina de reuniões longas improdutivas, cafés, conversas na porta do banheiro, telefones tocando. Em casa, posso dizer que trabalho muito mais. As interrupções, quando existem, são pontuais e bem menores”, relata.
Outro ponto citado pela advogada é a questão de poder individualmente optar por um horário em que sabe que rende mais profissionalmente. Após colocar as crianças para dormir às 20h30, Camila conta que foca em tocar seu negócio até mais ou menos uma da manhã.
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Adaptação
A experiência de transição da locutora e atriz, Malu Pontes, para o trabalho em casa há sete anos foi um pouco problemática. A também dubladora lembra que nos primeiros dias se sentia de férias e que tinha dificuldade em começar às atividades, pois sentia que não tinha trabalho a fazer devido à ausência de cobrança externa. Apenas com o tempo foi possível agregar a ideia de que ela era chefe de si mesma, e a trabalhar bem mais do que em outras situações.
A disciplina de Malu Pontes fica clara quando a locutora confessa esquecer que tem TV antes das oito da noite e que está em casa. As portas e persianas fechadas também sinalizam que é hora de trabalho.
Assim como Malu, Camila recorda que no início as crianças não tinham muita ideia que a mãe estava no trabalho, embora estivesse em casa. E que só com um tempo, naturalmente, elas compreenderam que as portas fechadas sinalizavam ocupação.
Um ponto peculiar citado por Débora é a questão da alimentação, que hoje pode ser mais saudável, já que pode almoçar três vezes por semana em casa.
Rendimento
O estereótipo de que realizar atividades em casa impulsiona a dispersão é desconstruído pelas profissionais. Sem as conversas paralelas durante a atividade, Malu garante que consegue gerir melhor o seu tempo, possibilitando até mesmo uma academia, um almoço melhor aproveitado, uma ida ao médico ou academia. Mas ressalta que, embora possa fazer o quê quiser, há dias em que ela não faz nada além de trabalhar por cobrança própria.
A dispersão também é citada pelo CEO, Alessandro Lima, como algo resolvido dentro do modelo. “Infelizmente o conceito de open spaces em escritórios, que muito se popularizaram nas últimas duas décadas, não deram certo. Saímos das salas fechadas para um modelo tão aberto que em algumas empresas se torna quase impossível se concentrar, pois há muita interrupção”, explica.
Críticas
Muito se fala que o custo de funcionamento da empresa cai com a adoção do trabalho remoto, mas até que ponto essa economia é revertida ao funcionário? Lima aponta que a E.life oferece aos seus contribuintes serviços gratuitos como manutenção de computadores, além de manicure e massagem para os dias em que o trabalhador deve comparecer ao escritório.
Camila narra que seu antigo empregador fornecia laptop, modem 3G e celular. Hoje, como seu trabalho é flexível, com o próprio mobile e computador doméstico acessa ao e-mail e à rede da empresa.
O equipamento é semelhante ao que Débora recebe, a internet, telefone móvel e notebook utilizado são custos de sua empresa. Ao contrário de Malu Pontes que utiliza os próprios recursos para executar o trabalho.
Vale ressaltar que atualmente não é obrigatório a empresa negociar com o funcionário os custos com os gastos em relação ao home office. A questão está em discussão com a Reforma Trabalhista, que caso aprovada fará com que a negociação seja obrigatória. E você, ficou com vontade de experimentar o modelo?
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